segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Somewhere

Título Original: Somewhere
Título em Português: N/A
Realizado por: Sofia Coppola
Actores: Stephen Dorff, Elle Fanning
Data: 2010
País de Origem: Estados Unidos de América
Duração: 97 min.
M/12Q
Cor, Som













Para a maioria das pessoas, cinema hoje em dia resume-se ao cinema americano. Vemo-lo porque sabemos que nos oferece aquilo que queremos ver. Isto é, aquilo que queremos ver é um filme igual a tantos outros. E os géneros definem diferentes tipos de filmes que, normalmente, contam a mesma história. Pior ainda, o CGI (efeitos especiais a computador) conseguiu substituir o "script", tentando convencer o público que aquilo que mostra é real, quando nada em cinema é real, é simplesmente um ponto de vista de uma história ou de um acontecimento.

Por exemplo, filmes como 2012 e Avatar, que são filmes repletos de CGI, não têm qualquer tipo de história. Restringem-se simplesmente às novas tecnologias, por estar na moda. Sim, CGI não é um avanço no mundo dos efeitos especiais, é moda. O melhor exemplo é a diferença entre os efeitos especiais dos filmes originais de Star Wars e as suas prequelas. Nos originais, tudo o que é visto no ecrã está mesmo lá, não foi algo criado do zero por um computador. Sente-se uma veracidade no mundo de ficção científica que ajuda a contar a história, e não substitui-la. As prequelas, por sua vez, foi tudo (ou quase tudo) filmado em estúdio. George Lucas aproveita a oportunidade para meter tudo o que pode no ecrã, através do CGI. Até o Yoda foi recriado digitalmente. Por causa disso, a história foi colocada em 2º plano, acabando por se perder nesta nova moda. E agora um ponto importante: CGI é facilmente notado. Quando uma pessoa afirma "wow, o CGI neste filme é brutal, parece mesmo que é real", está se a notar de imediato esse uso, acabando por não conseguir transmitir a veracidade que pretende. Isto acontece nas prequelas de Star Wars. Nos originais, quando assistimos, por exemplo, a batalha de Yavin, só a partir a meio da cena (na melhor das hipóteses) é que perguntamos "espera aí, como é que isto tudo foi feito?". Por usar maquetes e a ilusão que se consegue atingir com uma câmara de filmar, o público é levado com a cena e, normalmente, não perguntam logo como a cena foi feita, por transmitir essa veracidade. Portanto, esqueçam a ideia de que CGI é o futuro. Pode ser usado de uma forma bem feita, como acontece em 300 e Inception que ajuda a contar a história e criar um mundo mitológico ou de fantasia, mas não deve ser a razão principal para se ver uma obra da sétima arte.

Outro exemplo é o surgir de vários filmes baseados em "bestsellers". Provavelmente começou com o sucesso da trilogia Lord Of The Rings e com o franchise Harry Potter. Por causa deste movimento, tem sido mais fácil escrever novas longas metragens e perdeu-se a originalidade e o refrescar de certos temas. Com isto, não queira dizer que é propriamente mau um filme se basear de um livro. O caso de Il Gattopardo de Luchino Visconti é um exemplo a seguir, pelo cuidado que o realizador teve em expressar o seu ponto de vista. Parece que estamos mesmo a ler um livro de finais do século XIX.

Porque razão menciono isto? Porque cinema é fundamentalmente duas coisas: indústria e arte. No entanto, a partir dos anos 80, a palavra arte tem sido descartada cada vez mais do cinema americano. E porquê? Porque o cinema americano já não está a competir com cinema inteligente. Quando surgiu o neorealismo italiano ou a nouvelle vage francesa, o cinema americano melhorou em termos de qualidade, mas hoje em dia o cinema europeu perdeu o seu peso deixando a América tomar conta do cinema, aproveitando unicamente do lado da indústria. Pelo menos o cinema asiático tem conseguido encontrar o seu espaço, mas, infelizmente, é preciso mais. Atenção, cinema é sinónimo de entretenimento, deve ser sempre considerado isso, quer seja de entretenimento puro, como é o caso da trilogia Back To The Future, ou uma experiência ao entretenimento, como acontece nos filmes de Alfred Hitchcock, mas hoje em dia, esse entretenimento desceu a um nível paupérrimo. Essa razão deve-se ao facto do mundo nos tratarem como pessoas que não têm o mínimo de inteligência, principalmente o cinema americano, e não deve ser assim. Felizmente, o cinema americano não é só composto de filmes como 2012 e Avatar. Temos as películas de Scorsese, como Taxi Driver e Raging Bull, as experiências cinematográficas de Alfred Hitchcock, como Vertigo e Rear Window e o clássico dos clássicos, Citizen Kane realizado por Orson Welles. Na passada década tem sido mais difícil encontrar artistas deste calibre, mas existe uma minoria que continua a encontrar o lado artístico do cinema. Uma tem se evidenciado pela sua expressão ingénua, conseguindo respeitar a inteligência das pessoas e o cinema em si. Essa artista chama-se Sofia Coppola.

E, após esta longa introdução, finalmente temos a crítica:

Após o sucesso de Lost In Translation e o "box office failure" de Marie Antoinette, a realizadora voltou para fazer mais uma experiência em cinema. E o resultado é isso mesmo, uma experiência cinematográfica. Se procuram um filme "popcorn", então procurem noutro sítio. Temos que realmente pensar e prestar atenção para perceber esta película. É entretenimento ao nosso cérebro.

O filme começa com um plano longo de um ferrari preto dando inúmeras voltas. Passa uma, duas, três, quatro, cinco... e depois pára. A personagem central da história sai do carro e corta para preto onde surge o título do filme, Somewhere. Logo a seguir, ficamos a conhecer lentamente a personagem central da história, Johnny Marco (Stephen Dorff). Apercebemos que o mesmo é um actor relativamente famoso. No entanto, a vida dele é muito aborrecida e a forma como isso é mostrada é através de planos longos em que ficamos a admirar a colocação dos planos, o cenário usado, a fotografia encontrada, tudo isto para realçar o estado da personagem. Numa cena, Johnny tem que ficar parado durante uma série de tempo para a máscara que está posta na cara dele, secar. Normalmente, corta-se para o plano a seguir depois dessa informação nos ser dada. Porém, Sofia Coppola deixa o plano alongar-se com a personagem no centro do plano. Depois, o ecrã move-se para ele lentamente. Sem diálogos, sentimos esse aborrecimento. É nos mostrado e não dito, uma regra essencial para qualquer filme. Afinal, cinema é composto principalmente por imagens. Se não os usamos e desfrutarmos deles, não se está a aproveitar daquilo que o cinema nos pode oferecer. Mas é preciso não esquecer do uso do som. Nesta mesma cena, ouvimos a respiração da personagem. Mais nada se ouve. Junção de imagem e som contam-nos tudo sobre a personagem. Quando Johnny não tem outro remédio senão tomar conta da filha dele, Cleo (Elle Fanning), pensamos que o andamento do filme vai acelerar, mas tal não acontece. No entanto, existem mudanças nas personagens e sente-se isso na relação deles. O andamento sendo lento já não mostra aborrecimento. Demonstra a quietude e a tranquilidade de eles estarem juntos. E pela primeira vez desde que o filme começou, uma música é usada para fazer nos perceber que algo mais está acontecer do que aquilo que simplesmente vemos no ecrã. I'll Try Anything Once de The Strokes revela essa união entre Pai e Filha. Johnny começa a metê-la em primeiro lugar de uma forma muito subtil. Começa a recusar o jogo de ir para a cama com as mulheres para começar a tomar conta da única mulher por quem ele realmente tem uma ligação, a filha dele. Em Kramer Vs Kramer o mesmo se passa, mas de uma forma muito mais dramática. Somewhere fá-lo de uma forma mais simples, não dramatiza as situações, tentando demonstrar que a vida é menos complicada do que normalmente se presencia em cinema americano. Numa cena, apercebemos que Cleo tem andado a ler um livro sobre um rapaz vampiro que se apaixona por uma rapariga humana, mas que não podem ter uma relação juntas por serem de "espécies" diferentes (soa familiar?). Cleo conta isto a Johnny e o mesmo pergunta porque razão ela não se torna vampira. Cleo responde que é mais complicado do que isso... Temos assim o sentido de humor subtil de Sofia Coppola. E por fim, chegamos ao fim, mas tal como Lost In Translation o fim não existe. É simplesmente uma continuação. Se tentássemos vê-lo de uma forma realista, não percebíamos a cena e a película em si, mas Somewhere não é uma imitação exacta da vida real, é uma interpretação (um ponto de vista) da vida de uma pessoa que, por mais famosa que seja, não consegue ultrapassar o estado de aborrecimento em que se encontra. É através de uma ligação feita com a sua filha que Johnny consegue se aperceber daquilo que tem que fazer e a última cena é uma metáfora para isso.

Apercebemos da influência do neorealismo italiano e da nouvelle vague francesa. Os planos longos usados, a veracidade de cada cenário por ser filmado em locais verídicos, tudo isto contribui para expressar melhor o estado emocional de Johnny Marco e Cleo. Mais uma vez, Sofia Coppola rejeita o uso do estúdio para criar uma realidade dentro do ecrã. A negação do uso da banda sonora é demonstrativo disso mesmo. Enquanto em Lost In Translation a realizadora usa a banda sonora para realçar os estados das personagens de Bob e Charlotte, em Somewhere, a negação desse uso é demonstrativo da vida monótona de Johnny. No neorealismo italiano, por exemplo, a recusa do estúdio e de uma banda sonora acontece para fazer passar uma realidade vivida em itália nos anos 40 e 50. Em Somewhere, Coppola não pretende demonstrar nenhuma realidade vivida de um país, mas usa o mesmo método para realçar uma fase da vida de uma pessoa. Os fins são diferentes, mas os meios são os mesmos. Só quando a banda sonora entra é que apercebemos que algo mais está a acontecer do que é visto no ecrã: a intensificação da ligação entre Johnny e Cleo. E na cena final, é usado para outro motivo.

Não me admirava se Sofia Coppola tivesse escrito esta longa metragem a pensar na relação entre a mesma e o seu pai, Francis Ford Coppola, realizador da trilogia The Godfather. Já em Lost In Translation, a realizadora abordava este tema, mas é em Somewhere que consegue realmente dizer aquilo que tinha para dizer, não só para o público, mas principalmente para o seu pai, mostrando ao mundo que Sofia Coppola é mais do que uma filha de uma pessoa famosa.

O ponto forte desta obra é o facto de, desde o primeiro plano, toma em consideração a nossa inteligência. É claro que um filme definido por géneros, quer seja de acção, comédia romântica, aventura ou drama, também pode fazer isso, como é o caso da trilogia Bourne, Inception, (500) Days Of Summer e Good Will Hunting. Desde que tente criar algo novo ou reinventar formas diferentes de fazer passar mensagens ou morais que já foram transmitidas anteriormente, está se a dar a importância devida ao cinema e às pessoas. Consegue-se fazer dinheiro educando e respeitando a inteligência de cada um e Sofia Coppola é exemplo disso.

É importante relembrar o cinema passado: o expressionismo alemão dos anos 20; o cinema russo, principalmente o dos anos 20, 30 e 40; o neorealismo italiano dos anos 40 e 50; a nouvelle vague francesa dos anos 60; entre vários outros movimentos. É graças a ele que realizadores hoje em dia conseguem pegar na sua influência e reinventá-lo ao seu estilo, como é o caso visto em Somewhere.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boring!

Anónimo disse...

crítica demasiado extensa e pouco apelativa