terça-feira, 20 de outubro de 2009

(500) Days Of Summer

Título Original: (500) Days Of Summer
Título em Portugues:
N/A
Realizado Por:
Marc Webb
Actores:
Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Geoffrey Arend, Chloe Moretz, Matthew Gray Gubler
Data:
2009
País de Origem:
EUA
Duração:
95 min.
M/12

Cor, Som














"This is a story of boy meets girl. I should tell you upfront this is not a love story."

Então porque razão não é uma "love story"?

Na vida de cada um, as experiências que ainda não surgiram são substituídas por histórias que se encontram em livros, filmes e até em músicas. Lemos, vemos, ouvimos, e desperta em nós uma curiosidade em descobrir aquelas vidas, as aventuras, os momentos que vira o rumo das nossas vidas. Foquemos num tópico: o "love story". Sejamos sinceros, aquilo que toda a gente procura, pelo menos, uma vez na vida é o amor concretizado, principalmente quando se é jovem. Para incentivar esses sonhos são quase todos os filmes de comédia romântica que hollywood nos apresenta, em que atingir esse objectivo é o suposto "happy ending". Ficamos agarrados à ideia que temos que encontrar o tal, "the one", por assim dizer, e como os filmes começam com um rapaz e uma rapariga, têm que acabar com o mesmo rapaz e rapariga (razão pela qual o "Slumdog Millionaire" acaba por mergulhar numa teia hollywoodesca, sendo, no fundo, um filme como todos os outros). Felizmente são só "quase" todos os filmes que são assim.

"(500) Days Of Summer" contém, talvez, um dos enredos mais sinceros no mercado cinematográfico. Pode nao ser visto como uma obra-prima, um "clássico" do cinema mundial daqui a vinte anos, mas sem dúvida que mete qualquer pessoa a relembrar dos seus primeiros amores, ou melhor, os seus primeiros desgostos amorosos. A ingenuidade que uma vez se teve e que se perdeu. É disto que este filme se trata.

Dia (488):
Tom (Joseph Gordon-Levitt), personagem central da história, encontra-se sentado num banco de um parque ao lado de Summer (Zooey Deschanel) onde estão de mão dadas. Notamos que Summer tem posto um anel de casamento.

Passa do dia 488 para o dia 1. Pensamos que a partir daqui há-de haver uma cronologia no contar da história. De facto há, só que nao é em dias cronológicos, é na forma como Tom relembra dos dias e dos momentos da sua primeira grande aventura no mundo do amor, no "the one", como a personagem sempre acreditou que iria encontrar. De facto quando nos metemos a pensar em acontecimentos passados, é algo bastante aleatório, confuso. No momento em que Tom vê Summer pela primeira vez, a personagem central coloca em questão se Summer poderá ser "the one". Essa questão só passa a ser uma certeza nos olhos de Tom depois de Summer demonstrar que ambos têm, pelo menos, um gosto semelhante: ambos adoram a banda The Smiths. A personagem principal fica boquiaberto ao se aperceber disto. Ele começa mesmo a acreditar que ela poderá ser a mulher da vida dele. O problema é que Summer nunca viu o mundo da mesma forma, expressando, num dos dias a Tom, que o amor é uma fantasia, que não existe, mas o filme não se trata de Summer, trata-se de Tom e nas suas crenças. Para ele, ela é "the one". Nenhuma outra rapariga o interessa, só Summer: a maneira como flui o corte de cabelo dela, os joelhos redondamente perfeitos, no sorriso único que esboceja, a forma como morde os lábios antes de falar, aqueles pequenos pormenores que tornam aquela pessoa ainda mais fantástica. No entanto, o pormenor que predomina mais é os olhos redondamente azuis de Summer fazendo com que tudo à volta dela se torne azul. Curioso é que esta obra tem também vários pormenores interessantes. Por exemplo, quem dá o primeiro passo na relação entre ambos não é Tom, mas sim Summer. Só mostra a inexperiência que Tom domina na área de abordar as mulheres. Outro é a diferença entre as expectativas que Tom tem em relação a uma festa que Summer organizou e aquilo que a vida real o oferece. Esta cena fabulosa só podia ser mostrada em ecrã dividido, porque é aquilo que lhe está acontecer que lhe faz pensar naquilo que, para ele, deveria ter acontecido. Fabuloso a maneira como mostra o pensamento ingénuo da personagem principal, através destes pormenores.

É importante salientar que "(500) Days Of Summer" não se trata de mostrar as coisas de uma forma objectiva, mas de uma forma subjectiva, do ponto de vista da personagem principal que, se formos a ver, o cinema é isso mesmo. É mostrar um argumento através do ponto de vista do realizador, quer seja ficção, quer seja baseado em factos verídicos, quer seja um documentário. O realizador decide como cada cena deve ser filmada, se é de baixo para cima para mostrar o contraste da personagem com o céu, ou de cima para baixo para mostrar o contraste da personagem com o caminho que está a percorrer, por exemplo. Por outras palavras, aquilo que é transmitido ao público, é através da visão do realizador e este filme é isso. É mostrar a maneira como Tom olha para o amor, a forma como o mesmo relembra dos momentos com Summer, os bons momentos inicialmente, os maus momentos mais tarde, a comparação dos dois, aquilo que ele sentiu e como lhe afectou no final. Por mais estranho que possa parecer, a subjectividade de "(500) Days Of Summer" acaba por ser mais verídico a muitos documentários e a muitos filmes que são baseados em factos verídicos.

Os meus parabéns a Marc Webb por ter conseguido criar uma obra brilhante logo na sua primeira tentativa. O aspecto visual é extremamente colorido nas alturas quando tem que ser e profundamente negro nos momentos mais difíceis da personagem central da obra. O elenco nessas alturas é decisivo. Joseph Gordon-Levitt consegue interpretar perfeitamente a inexperiência de um adulto no início da sua viagem, alguém tão ingénuo que é capaz de acreditar no impossível. Zooey Deschanel encanta qualquer membro do público com a sua espontaneidade, apesar de interpretar um papel de uma rapariga que lê o amor como uma mera fantasia. Aliás, o objectivo do filme é mesmo esse, fazer crer que uma rapariga tão indisponível seja a rapariga dos sonhos de Tom. Curiosamente, a certa altura, os dois acabam por mudar completamente de ideias em relação ao amor, acabam mesmo por trocar de lugares. Porém, ainda falta o final para concluir a grande viagem de Tom.

A marca significativa desta obra é o crescimento de Tom, acontecendo lentamente ao longo da película. Não é algo súbito como surge em tantos outros filmes, é ocorrido aos poucos, com o passar do tempo, a base dele vai fortalecendo e o momento em que mete em práctica esse crescimento é a cena final. Se não fosse pelo "ending", o filme não seria intitulado "(500) Days Of Summer". Ora, se não fosse assim, perderia toda a graça e o encanto que este filme oferece.

E é por isto que não se trata de uma "love story", como se vê em tantos outros filmes.

No entanto, se formos a ver, é mesmo disto que se trata, de uma "love story" e nada mais.

Nota: 5/5

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