terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Juno

Título Original: Juno
Título em Português: Juno
Realizado por: Jason Reitman
Actores: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, J.K. Simmons
Data: 2007
País de Origem: E.U.A./ Canadá/ Hungria
Duração: 96 min
M/12Q
Cor, Som









Quem sou eu? Não tenho quaisquer dúvidas que toda a gente faz esta pergunta, pelo menos, uma vez na vida. Existem muitas razões pelas quais esta questão é colocada, isto é, dependendo do estilo de vida, da idade e do momento a que uma pessoa se encontra.

Foquemos os problemas da adolescência. Numa escola, por exemplo, existem vários tipos de pessoas que pertencem aos seus grupos, uns que gostam de ser populares, outros que tentam ser algo que não são por natureza, uns que são diferentes e são mal tratados por causa disso. Imaginemos a quantidade de vezes que os jovens chegam a casa e olham para o espelho: quem é aquela pessoa reflectida? Aliás, ponderemos no seguinte: uma rapariga ou um rapaz quando chega à escola, essa pessoa, enfrentando o vário tipo de grupos, não será que ela pensa logo no tipo de grupo que terá de escolher para poder se ambientar?

Isto é vivido recorrentemente nos Estados Unidos (como em muitos outros países) e o filme que, a meu ver, soube trazer ao de cima este tema de uma forma tão sublime e rica através de uma comédia muito subtil e de uma simplicidade espantosa foi "Juno" (quatro nomeações para os óscares dentro dos quais ganhou o óscar de melhor argumento original). Só o título explica o filme todo (para aqueles que não sabem, o título é o nome da personagem principal): ela tem o nome Juno, mas o nome não lhe traz a identidade. A própria rapariga, a certa altura do filme, explica o porquê de ela se chamar Juno, sendo o nome de uma das inúmeras mulheres de Zeus, o deus dos deuses da mitologia grega. Como não sabe o tipo de pessoa que é, ela vai em busca de uma referência.

Juno McGraff (papel interpretada por Ellen Page, nomeada para melhor actriz), uma rapariga de 16 anos que, mesmo sendo diferente dos outros colegas da escola, tomou uma iniciativa, uma que muita gente acaba por tomar na vida: ter relações sexuais. Este acto foi feito com o melhor amigo dela, Paulie Bleeker (Michael Cera), mostrando os sentimentos subjacentes dela em relação a ele, mas que não se apercebe deles. Devido a isto, engravidou-se.

O filme capta estupendamente bem a crise que a rapariga sofre durante a gravidez, não sendo a gravidez a principal causa, mas sim tudo o que se passa à volta da gravidez, principalmente, citando, "a relação entre as pessoas". Notamos de imediato o diferente tipo de pessoas, mas que não conseguem ser elas devido a uma razão qualquer. Por exemplo, Mark Loring (Jason Bateman) que está casado há muitos anos, a mulher dele não lhe deixa ter poder nenhum sobre ele próprio, emprisionando Mark, embora também ilustre a imaturidade do mesmo em relação a acções que deveria ter tomado com antecedência. O oposto de Mark é a mulher dele, Vanessa Loring (Jennifer Garner) que sabe aquilo que quer, cuidar e educar um bebé, e aquilo que nasceu para ser, Mãe. Como ela é infértil, decide meter, juntamente com Mark, um anúncio no jornal a informar que estão prontos para adoptar. Os Loring são contactados por Juno, que não tem mais remédio senão oferecer o bebé para adopção, visto que decide não abortar.

Tudo isto gira em torno de Juno que não sabe o que fazer aquando da relação (in)existente entre ela e Bleeker, por exemplo. Ela terá que ultrapassar estes obstáculos todos, incluindo quando é explorada ainda mais por causa da gravidez, para poder responder, de uma vez por todas, à primeira questão colocada nesta crítica. Só desta forma poderá se libertar das limitações que foram postas nela, limitações que muitos jovens sentem na vida.

É um filme que oferece uma visão da vivência dos jovens e das relações entre as pessoas que podemos encontrar nos Estados Unidos (e não só), contado de uma forma muito segura, a história muito fluida e a banda sonora enquadra-se, perfeitamente, com aquilo que a personagem principal é. "Juno" merece o óscar de melhor argumento original.

"I don't know what kind of girl I am" - Juno

Nota:

Outras Notas:
David Bernardino: 3/5
RMC: 3/5
Miguel Patrício: 1/5

4 comentários:

Anónimo disse...

'Juno' foi um filme que realmente me surpreendeu, até porque fui vê-lo um bocado contrariada e pouco esperava desta história que também parecia pouco prometer; enganei-me e considero mais do que justa a vitória do óscar para melhor argumento original. Desta feita, não pude deixar de expressar aqui, em forma de comentário, a minha visão sobre este filme. Não querendo ir contra o referido pelo comentador, não me parece que esta história se refira às típicas rixas entre os típicos grupos de uma escola, antes pelo contrário, mas isso focarei mais adiante. 'Juno' prima pela originalidade acutilante e por vezes chocante dos diálogos e falsa superficialidade com que trata as personagens que rodeiam a protagonista, isto para que, na minha opinião, esta sobressaia. Não é por acaso que o filme toma o nome da personagem principal, porque de facto, pouco mais importa neste filme, nem mesmo a gravidez de adolescência ao qual o caro comentador se refere como 'emprenhar-se'. Esta gravidez é uma mera lupa sobre a vida dela, já que é perante este estado complicado de Juno que as pessoas revelam o que realmente pensam dela e ela percebe o que realmente acha das pessoas que a rodeiam. Muitos acreditam mesmo que o filme professa ideias anti-aborto, pensamento que não podia estar mais desviado do verdadeiro objectivo da película. Não creio também de forma alguma que Juno passe pela crise existencial comum nos jovens pensantes, ela antes se desdobra em mil facetas, todas elas passíveis de assentar no espectador; Juno afirma 'I don't know what kind of girl I am' não em jeito de falta de identidade, mas revelando que é todo o tipo de rapariga, todo o tipo de pessoa. Mais do que um filme sobre uma adolescente grávida que com humor relata a situação, é um filme sobre a relação entre as pessoas e como esta se desgasta e tão facilmente se encaixa em clichés que rendem muito dinheiro.
É um novo fôlego no cinema, trazido por novos actores e novos e argumentistas, adornado por excelentes e coloridos cenários bem como maravilhosas canções que nos levam um pouco mais perto do universo daquela que é o tema do filme, porque um filme pode significar algo sem o fazer às custas da imagem e som. Sem dúvida é um filme com tantas interpretações quantas cabeças se dignem a reflectir um pouco sobre ele. Esta é a minha.

Pedro Mourão-Ferreira disse...

Acabado de escrever esta crítica, pus-me a pensar se, de facto, passaria bem a visão que o filme me proporcionou. Infelizmente, para tal acontecer, precisava de saber a opinião de outra pessoa, uma opinião sincera e não meramente simpática. Mas hoje, ao ler este comentário, pude, finalmente, ter outra perspectiva do filme e comparar com a minha própria crítica.
Primeiro que tudo, se a frase "Devido a isto, epmrenha-se" tenha abordado a situação de uma forma incorrecta, diga, porque não era essa a minha intenção. Agora, ambos concordamos que aquilo que menos importa no filme é a gravidez. É tudo aquilo à volta que interessa. Agora, não é por Juno ser todo o tipo de rapariga que não sabe que tipo de rapariga é? Não é por essa razão que Juno vai em busca de uma referência como fez quando explicava a origem do seu nome? Eu concordo com esse ponto de vista, mas não creio que seja muito diferente do meu. E explicarei porquê (talvez tenha sido pouco explícito na minha crítica): o percurso da vida é as alturas em que nos ambientamos encarnando novas facetas acabando por não ter faceta nenhuma e usei a escolha do tipo de grupos para passar melhor essa ideia. (atenção, spoiler) Mark Loring é exemplo disso por estar casado, mas era evidente que não era um marido, como também é Juno que primeiro decidiu abortar, mas depois achou melhor que não, que pensava não estar apaixonado por Bleeker, acabando por se aperceber que estava.
Todavia, esqueci-me de referir um ponto importante na crítica, tendo sido referido no comentário: a relação entre as pessoas. De facto, é um dos pontos mais importantes do filme e nem o mencionei em que Juno é o ponto de encontro dessas relações todas, devido à gravidez.
Obrigado pelo comentário, porque existem pontos importantes que me esqueci de ilustrar.

David Bernardino disse...

Juno é uma fantasia em jeito de quadro, que apesar de assentar em bases de telenovela, consegue ser original e profundo. Concordando com a rita themido, não vejo Juno como um filme de "descoberta de identidade" dos adolescentes americanos, até porque não existem personagens para isso. Aliás não penso que foque a gravidez (apesar de ser ela que move a trama) nem mesmo a exploração da personagem Juno. Prefiro antes pensar nele como um "conto de fadas" que se vai desenrolando e agradando ao espectador, quer visualmente, quer emocionalmente. Até porque Juno nos apresenta imagens belissimas, dignas de cinema de autor. Bem como as músicas já referidas na critica. É um filme que, tal como num conto de fadas, nos orgulha e comove. Acaba por ser sóbrio (não há mudanças de planos repentinas, tudo é montado lentamente), e nota-se perfeitamente que as cenas foram estudados com requinte, tal como os diálogos. O que falta a Juno é ambição, e uma moral da história suficientemente forte tendo em conta todas os problemas de consciência que o filme expõe mas nunca resolve. Além disso acaba por fazer na comédia dramática/romântica aquilo que Vacancy fez do thriller: pegou em todos os clichés contornos do género e aacabou por os apresentar de forma original. Juno só teve mais crédito por no fundo tratar de um tema que vende pipocas e que acaba, mais uma vez em jeito de chavão, por ser um tema da moda e que surge tanto em análise hoje em dia: a gravidez de adolescentes e o aborto. Juno podia ter sido um pouco mais honesto para com o espectador, mas não deixa de ser uma boa tentativa, e sem dúvida uma lufada de ar fresco no medíocre campo do romance dramático.

Rmc disse...

Tal como afirmou Jorge Mourinha num dos seus momentos de graça (que infelizmente ja foram mais frequentes): "Juno não é fraude nem obra de arte".
Um filme que assenta na sua própria ideia, no seu próprio conceito. Cabendo ao espectador o papel de apreciar mais ou menos essas realidades.
Juno não é largamente original, sendo contudo inovador, visto que acaba por criar uma nova categoria que envolve muito mais do que a simples designação "Indie" como foi designado, tal como já havia sido Little Miss Sunshine no ano anterior.
Juno é belo na sua infantilidade, é suave, e por vezes perturbante, lançado-nos questões profundas embrulhadas num papel de riscas laranjas e fundo branco.
Juno é assim um filme próprio, mas não único.
Um filme fantasioso mas não fantástico.
Um filme engraçado mas não esplêndido.
Um "hit" de 2008, mas não uma obra-prima do cinema!