domingo, 17 de janeiro de 2010

Top 10 Filmes da Década 2000-2009

Antes de mais, quero salientar que isto é uma escolha pessoal, filmes que me marcaram, quer seja pelo enredo, pela realização, pela mensagem que transmitem ou simplesmente porque sim. A passada década foi sem dúvida a épcoa de cinema com maior quantidade de filmes (não queira dizer com isto que tenha sido a época com melhor qualidade, nem por sombras). A década acabou com o último filme de James Cameron, Avatar, um filme que, com toda a publicidade que teve, seria de certeza absoluta um épico no cinema. Será que foi e que me impressionou de tal maneira que arranjou lugar na minha lista de Top 10 da década? Só há uma forma de descobrir. Portanto, aqui está o meu Top 10 filmes da primeira década do novo milénio:

10º - Before Sunset (2004)

Em 1995, Richard Linklater realiza Before Sunrise. Nesta película, conta-se a história de um americano que encontra uma francesa numa viagem de comboio pela Europa, mais conhecida como um InterRail. E assim começa a história de uma noite mágica entre Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) em Viena. No entanto, não se voltam a reencontrar, isto é, até o ano 2004.

Nove anos depois de Before Sunrise, Ethan Hawke, Julie Delpy e Richard Linklater escrevem um novo argumento para uma sequela que, também, se passa nove anos depois (Richard Linklater volta a realizar). Normalmente sequelas acabam por se esconder na sombra do primeiro, mas Before Sunset está, no mínimo, ao nível do primeiro, isto para não dizer melhor. Então porquê? Porque todo o filme é passado em tempo real. É, simplesmente, uma conversa, que toma várias formas, desde o primeiro minuto ao último. Não há mudanças súbitas na narrativa que tenta agarrar ainda mais a atenção do espectador. Uma conversa nas ruas de Paris (mais uma capital da Europa). Das duas uma: ou identificas-te com este "momento" da reunião deles e adoras, ou odeias não suportando este estilo de narrativa.

Como podem calcular, faço parte das pessoas que adoraram, porque, a meu ver, nada é mais interessante do que uma conversa para passar tempo, e é isto mesmo que acontece.

9º - Battle Royale (2000)

Em finais dos anos 80, Kinji Fukasaku, realizador japonês, decidiu realizar um filme intitulado Violent Cop com Takeshi Kitano (conhecido também como Beat Takeshi) como protagonista. No entanto, devido a um problema de horários e de um desentendimento entre o realizador e o actor, Fukasaku retira-se da cadeira de realização e Kitano assim realizou o seu primeiro filme. Não é que no ano 2000, Kinji Fukasaku pega num romance japonês muito conhecido, Battle Royale, com Kitano a protagonizar uma das personagens principais. Após 11 anos, estas duas grandes cabeças japonesas, finalmente, trabalham juntas para um filme, sendo ele inesquecível.

O filme conta a história de uma turma do 9º ano que foi escolhida para participar num evento conhecido como Battle Royale em que os alunos são obrigados a matarem-se uns aos outros numa ilha e só pode haver um vencedor. Se calhar estão a pensar que é simplesmente um filme de terror cheio de sangue em que o objectivo é somente para chocar o público, mas não. É uma sátira às diferenças das culturas que têm vindo a surgir no Japão, entre a cultura tradicional japonesa e a cultura importada de fora. O respeito pela cultura tradicional que os jovens têm, tem vindo a diminuir drasticamente nos últimos 20 anos e o "jogo" Battle Royale é uma medida que a geração mais velha japonesa toma para agravar essa cultura importada de fora. Sem dúvida alguma, esta longa metragem mostra isso da forma mais chocante possível. O pormenor que revela isso melhor é quando um aluno da turma, sem querer, esfaqueia o professor (interpretado por Kitano) e foge da cena deixando-o a sangrar, isto antes da turma ter sido escolhida para o Battle Royale. As interpretações dos actores são de alto nível conseguindo transmitir ao público o medo de matar um amigo, mas, acima de tudo, o medo de um amigo matar a essa pessoa. O filme é tão chocante que até Quentin Tarantino vai buscar referências a esta película em Kill Bill: Part 1.

Se acham que Kill Bill: Part 1 é chocante, este é ainda mais, não só pelas cenas, mas também pela mensagem que é inserida em segundo plano. Vejam que vale a pena.

8º - (500) Days Of Summer (2009)

Os filmes de comédia romântica têm sempre a mesma fórmula: um rapaz conhece uma rapariga, há problemas entre eles, até que no final começam a sentir algo pela outra pessoa e acabam juntos. Sabemos isto desde When Harry Met Sally. No entanto, de longe em longe existem filmes que tentam sair deste rumo, mas nenhum consegue se distinguir tanto como este. E porquê? Porque esta obra consegue realçar extremamente bem um primeiro amor, como normalmente acontece.

Como já referi na crítica feita a este filme, tudo se passa através do plano subjectivo da personagem principal e a forma como a história é contada tem muito a ver com a forma como uma pessoa se lembra desses momentos. Em vez de ser cronológico, é algo aleatório, confuso. Embora arriscado, Marc Webb, realizador da obra, fá-lo na perfeição. Para além disso, consegue inserir um toque de ingenuidade, sugando as pessoas para tempos passados, tempos que já vivemos em fases mais ingénuas das nossas vidas e só poderia ser assim. A personagem de Joseph Gordon-Levitt acredita no "the one" e acredita por nunca ter passado por experiências anteriores. Ainda por cima, a rapariga por quem ele se apaixona, interpretada por Zooey Deschanel, não acredita no amor, revelando ainda melhor a inexperiência do rapaz.

Uma obra interessantíssima que eleva Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel no pedestal como actores excepcionais. Só mesmo outro filme ultrapassa este em 2009.

7º - Garden State (2004)

Em 2001, Bill Lawrence cria uma série fantástica de um sentido de humor subtil e parvo, mas, ao mesmo tempo, mistura experiências da vida de uma personagem desde o primeiro ao último episódio. Existem cenas que concordamos e outras que ficamos extremamente frustrados, mas tudo isto faz parte de decisões das personagens. Não é simplesmente para agradar, é também para nos "ensinar" que estamos sempre a aprender, desde o momento que nascemos até ao momento em que morremos. Estou a falar, claro, de Scrubs que é, na minha opinião, uma das melhores séries alguma vez feitas, ao lado de Boy Meets World.

Zach Braff, actor que interpreta a personagem principal da série, escreve, realiza, protagoniza e monta um filme em 2004 intitulado Garden State. Notamos logo uma ligação muito forte com a série, em que Braff consegue extrair aquilo que a série tem de qualidade e contar uma história muito semelhante àquilo que o realizador viveu em New Jersey em tempos passados.

Andrew Largeman, personagem central da história, acaba de descobrir que a Mãe dele morreu. Logo de seguida volta à cidade natal localizado em New Jersey, precisamente em Garden State. Aqui, vemos que a personagem é muito deambulante. O mesmo não chora durante o funeral da sua Mãe. Descobrimos que ele tem tomado comprimidos durante a vida toda que o torna sonolento, como se não tivesse sentimentos. Até que vai a um psiquiatra e o mesmo convence Andrew a parar de tomar os medicamentos durante um tempo para ver como reage. Não é que antes de ter entrado na consulta, Andrew conhece uma nova cara, uma rapariga meia maluca, mas cheia de vida e de graça. Pela primeira vez, Andrew esboça um sorriso, pormenor que demonstra um despertar de emoções nele. E assim começa uma nova aventura na vida de Andrew: descobrir aquilo que ele realmente tem de bom na sua vida.

O primeiro filme de Zach Braff e um dos melhores filmes de conhecimento do eu que se distingue entre o desejo de querer e aquilo que realmente se tem. Se apreciem a série, então irão adorar esta obra prima.

6º - Nobody Knows (2004)

Hirokazu Koreeda pega num acontecimento verídico e adapta-o para o cinema japonês. O resultado foi monstruoso... no bom sentido.

Lembro-me de ter ouvido falar deste filme há uns anos atrás e decidi vê-lo nas salas de cinema do King Triplex. Na altura, estava a conhecer um grande realizador japonês chamado Takeshi Kitano, conhecido pelas obras de Hana-Bi e Sonatine. Então, pensei em conhecer outros realizadores japoneses, para descobrir as diferenças que existem no cinema japonês. Sentei e desde o primeiro minuto fiquei hipnotizado a ver esta obra. Não era Kitano, mas era, sem dúvida japonês, e não por causa dos diálogos nem dos actores, mas pelo feeling que esta obra contém.

Nobody Knows
conta-nos a história de quatro crianças que vivem com a sua Mãe. No entanto, como a vida deles realçava uma família paupérrima, a Mãe decide abandonar os filhos para fazer parte de uma família rica, fingindo que nunca antes teve uma vida passada problemática. O filho mais velho, então, torna-se no homem da casa. Porém, as dificuldades que as crianças enfrentam são tremendas. Tentam ter uma vida de adultos, mas não conseguem, porque são, na realidade, meras crianças, que são obrigados a sobreviver, sem nunca saber o que é ser ingénuo. Existem alturas em que pensamos que as coisas vão melhorar, mas tal não acontece. É como se o filme nos quer transmitir que toda a gente que vê o esta longa metragem têm vidas mesmo muito menos problemáticas e, quer queiramos, quer não, existem crianças que sofrem daquela forma. Embora, o filme é mais do que isto. É mais do que nos apontar à cara, porque a realização é assombrosa. Cada plano de transição de cenas é mais do que um plano de transição. Nesses planos, o realizador, a meu ver, explica o filme todo naquelas imagens, nas sombras das árvores, nos recreios vazios. Pode-se dizer que somos invadidos e cicratizados com estas imagens. Por fim, temos o fim e depois do fim, desejávamos nunca o ter visto... só que esta aventura está tão bem demonstrada que queremos vê-lo e, de certa forma, presenciá-lo de novo, pela tranquilidade do ritmo lento, pela visão realista sobre o tema, pela criatividade e a simplicidade dos planos e pela actuação dos jovens que é, de facto, de altíssimo nível.

Não julguem o filme por ser estrangeiro. Sejam abertos e presenciem uma obra de arte, uma outra forma de ver cinema. Resultado: isto não é cinema americano.

5º - Dolls (2002)

Como já perceberam, sou um grande fã e admirador dos filmes do Takeshi Kitano. Para compreender bem os filmes dele, é preciso conhecer alguma obra dele, não basta um. A marca que ele, normalmente, deixa nos filmes é algo recorrente.

Cada vez que vejo um filme pertencente a Kitano, parece que o antigo comediante toca repetitivamente numa tecla de um piano, mas consegue recriar essa nota sempre que surge outra longa metragem dele. Temos o exemplo dos filmes yakuza dele que começa com Violent Cop e acaba em Hana-Bi. Temos o exemplo do conhecimento do eu que o realizador investiga nos últimos três filmes dele, desde Takeshi's a Achilles and the Tortoise. No entanto, houve uma vez que tocou no tema do amor, ocorrido em A Scene At The Sea. Vários anos mais tarde, voltou a pegar neste tema, mas conseguiu fugir à tecla, por assim dizer. Recriou-o de tal forma que criou uma nova tecla no piano e o resultado foi Dolls, o último filme dele a usar Joe Hisaishi como compositor.

Nesta obra, Kitano analisa três facetas do amor através de três relações: a primeira através de um casal que, lentamente, foi-se apagando, mas nunca conseguiram se separar por completo (o uso do laço vermelho é prova disso). Segundo, o fascínio de um fã por uma cantora pop japonesa mostra-nos aquilo que a ingenuidade da pessoa nos pode levar. A partir do momento que ele enfrenta a realidade, a forma como ele vê o mundo muda drasticamente, acabando por não conseguir fugir ao novo mundo em que se encontra, o do mundo real. Terceiro, um yakuza decide deixar para trás a ligação que ele tinha com a máfia japonesa e começar uma nova vida. O mesmo lembra-se do passado: passava o tempo sentado num banco ao lado de uma rapariga onde partilhavam comida. Ela tomava conta dele e ele gostava disso. No entanto, ele decide perseguir a vida de yakuza. Trinta anos passaram e decide reencontrar-se com ela, com um amor jovem que, em tempos, existia. Não é que ela ainda se encontra sentada no mesmo banco, à espera de um dia o ver de novo. Três tipos de amor onde só existe uma semelhança: o desejo de o ter é tão forte que não nos conseguimos de o largar e se não se pode o ter, o resultado não é, por sombras, favorável.

Uma análise bastante negativa deste tema. Aliás, mais do que uma análise, é uma alegoria daquilo que o amor nos pode levar e o tipo de depressão pode ser de tal forma imensa, que nem sempre somos capazes de o aguentar. Ficamos presos a um sentimento ou a uma relação que queremos que resulte, mesmo quando sabemos que não irá dar em nada objectivo, em nada real. Tal como Nobody Knows, um filme monstruoso.

4º - Last Life In The Universe (2003)

Bem, o que se pode dizer deste filme? Relembra-me da grande obra de Sofia Coppola, Lost In Translation. A narrativa é lenta, mas não é um lento pesado, é um lento suave, sonolento, fluido.

Não é por acaso que Christopher Doyle foi escolhido para a cinematografia. Embora a realização de Pen-Ek Ratanaruang é, sem dúvida, muito boa, a única razão que Last Life In The Universe se encontra no quarto lugar desta lista é devido a tudo o que existe (e não existe) em cada plano, mas isto acontece desde o início ao fim. Não é simplesmente um ou dois planos que se destaquem, são todos. Um feito impressionante. Não houve nenhum filme que me conseguisse atribuir tanta importância a tanta quantidade de planos. Obrigado por terem escolhido este cinematógrafo, alguém que não conhecia, mas que deixou bem claro a qualidade dele no cinema.

Quanto à narrativa, é simples, mas confuso ao mesmo tempo. Pode parecer vago, mas é isto que acontece. Esta mistura deve-se à imaginação e às memórias da personagem principal, interpretado por Asano Tadanobu. Não percebemos muito bem certas cenas do filme, se é suposto ser um flashback, um flashforward ou, simplesmente, uma imaginação fértil dele. Embora isso aconteça, são poucas as cenas. Não nos desviem de forma nenhuma daquilo que é essencial no filme: o encontro de Kenji e Noi (Sinitta Boonyasak). Mas antes, é preciso introduzir as personagens. Kenji, ex-yakuza, foge para Bangkok, Tailândia, com o irmão. Apesar de Kenji parecer uma pessoa normal, o desejo dele é fugir deste mundo através do suicídio. O mesmo questiona o porquê de existir. Noi, chateada com a irmã por ter dormido com o "namorado" dela, expulsa-a do carro numa ponte. Neste preciso momento, Kenji conta-nos a história de um lagarto que, por mais que queira, não se consegue libertar do tecto onde ele se encontra. Está sozinho e estará sempre sozinho e, a única forma de cair do tecto, é, de acordo com Kenji, a morte. O mesmo encontra-se na ponte, preparado para saltar, até que fixa o olhar na irmã de Noi. A partir deste momento, Kenji descobre outra forma de contar a história do lagarto, sem ser preciso usar palavras e Noi foi uma ponte para isso. A semana que eles passam juntos é demonstrativo disso. Parece que de repente entraram noutro mundo, ou melhor, Kenji entra no mundo de Noi e a descoberta feita fá-lo sorrir no final. É como se o mesmo finalmente apercebesse da forma de se libertar do tecto.

Last Life In The Universe é a prova que não é preciso haver um ritmo rápido para ficarmos agarrados a uma narrativa, muito menos uma cena de acção que dura não sei quando tempo para entreter o espectador. Não tenho nada contra cenas de acção, mas esta utilização, hoje em dia, é excessiva. Sinceramente, com a última hora da sequela do Transformers, estava aborrecidíssimo. Porquê tanto uso de cenas de acção? É para tentar criar um épico? Digo-vos uma coisa: não se planeia um épico. Quando se é, é. Last Life In The Universe não é um épico, simplesmente existe e o que se tem é uma aventura fabulosa que usa o seu tempo gradualmente. Dá para desfrutar dos planos, como se estivéssemos a apreciar pinturas e em cinema. Tudo é permitido, desde que haja dedicação no trabalho e é mesmo isso que encontramos nesta obra. Isto sim é bom cinema!

3º - Eternal Sunshine Of The Spotless Mind (2004)

No início de década, quem diria que Jim Carrey pudesse interpretar um papel sério? Acho que nem o próprio actor acreditaria nessa possibilidade. Contudo, Jim Carrey provou que consegue interpretar qualquer papel, desde o mais maluco até ao mais sério. Por outro lado, por mais incrível que pareça, Kate Winslet, habituada a papéis mais sérios, integra uma personagem mais extrovertida. Estranho, não é? No entanto, esta decisão foi uma escolha acertada, sem margem para dúvidas. Estes dois actores a contracenarem é algo próximo de genial.

Outra coisa de genial é a forma como se conta esta história. Michel Gondry soube interpretar o argumento da melhor forma possível. Tendo em conta que a narrativa se trata de apagar memórias que envolveram alturas problemáticas das vidas das personagens, todas as cenas são como se fossem as memórias da personagem principal. Não existem planos de transição, nenhuns quaisquer. Nunca tinha visto uma obra deste género. Nem (500) Days Of Summer explora as memórias como explora Eternal Sunshine Of The Spotless Mind.

Resumidamente, para não estragar o toque soberbo que o argumento nos traz, Joel (Jim Carrey) desobre que a ex-namorada dele, Clementine (Kate Winslet), encontrou um local onde consegue apagar as memórias. Através do uso da ciência, decidiu apagar todas as memórias relacionadas com a personagem de Jim Carrey. Joel, furioso, decide tomar o mesmo caminho, mas, durante o processo, rapidamente se arrepende da sua escolha. Vemo-lo nas suas memórias a tentar fugir para outras, memórias que não têm relação nenhuma com Clementine, para os cientistas (que não parecem nada cientistas) não o acharem. No entanto, mais para o final, Joel desiste de fugir e tenta apreciar aquilo que tem, nem que seja uma memória. Por outras palavras, apesar de passarmos por alturas difíceis das nossas vidas, conseguimos sempre encontrar bons momentos e o filme transmite isso mesmo. Paremos de fugir, apreciemos aquilo que temos à nossa frente e foi mesmo isso que aconteceu comigo ao ver esta longa metragem magnífica.

Serei sincero. De início, até nem estava a gostar muito do filme, não era muito o meu estilo, muito sujo e estranho, mas, à medida que a narrativa avançava, apercebi-me da qualidade brutal e do envolvimento emocional que Michel Gondry nos consegue transmitir. Fiquei, literalmente, parvo a ver esta película. Foi por filmes como este que decidi conhecer melhor o cinema. Não me arrependo desta decisão, como não nos devemos arrepender das memórias que temos. Agora, o início e o fim de Eternal Sunshine Of The Spotless Mind metem esta obra prima ao lado dos clássicos do cinema. Das coisas mais simples e eficazes que vi nos últimos tempos.

2º - Inglourious Basterds (2009)

Pensavam que estava a referir a Avatar aquando da escolha feita a (500) Days Of Summer? Ora, como podem ver, estavam bem enganados.

Para quem odeia Tarantino, devem estar em desacordo total com esta escolha. Para os amantes, o mesmo deve-se passar por ter metido Inglourios Basterds em 2º em vez do 1º lugar. Bem, uma coisa é certa: este filme é brutal, no verdadeiro sentido da palavra. Joga connosco quando pensamos que vamos ver uma obra em que tudo se trata dos Inglourious Basterds, cujo objectivo é aniquilar nazis. Não se esqueçam que se trata de Tarantino, o Bob Dylan do cinema (provavelmente das comparações mais parvas que fiz em toda a minha vida, mas, ao mesmo tempo, das mais acertadas).

Já em Death Proof, Tarantino começou por desviar um pouco daquilo a que estávamos habituados nas outras obras dele, embora semelhante a Reservoir Dogs. O "build up" que Tarantino cria em Death Proof é excepcionalmente bem feito. Quando atinge o clímax, ficamos boquiabertos, por ser completamente diferente daquilo que estávamos à espera. Em Inglourious Basterds acontece exactamente o mesmo, mas com uma diferença: o "build up" aqui traz-nos uma tensão enormérrima em que ficamos agarrados às nossas cadeiras, tudo através do uso de conversas. O "subtext" encontrado aqui é extremamente eficaz. Aquilo que eles falam não é aquilo que realmente querem dizer e estas cenas demoram o seu tempo a evoluir, sabendo que há algo por trás da conversa, algo que existe. Não sabemos ao certo o quê, mas está lá e o resultado destas cenas é memorável. Quando chega a cena final, todo o "build up" explode de uma forma inesquecível. Existem tantas sátiras encontradas nesta cena, em relação ao público e ao cinema. De facto, aquilo que Tarantino é capaz de fazer com um tema da segunda guerra mundial é, como referi anteriormente, brutal no seu sentido da palavra. Como menciona o trailer, é, sem dúvida, uma visão à Tarantino. Sabemos que o final vai ser explosivo, mas não sabemos como e nunca estamos preparados para o enfrentar.

No entanto, o trailer é enganador. Não é um filme de acção. Aliás, quando somos introduzidos aos Inglourious Basterds, de repente surge uma elipse. A partir deste momento, eles já são conhecidíssimos na Alemanha. É uma piada de grande mau gosto do realizador de Pulp Fiction, mas é por estas razões que o tornam num mestre do imprevisível. Não faltará muito para ser considerado um clássico do cinema. Pode vir a destronar Pulp Fiction e Reservoir Dogs como o "masterpiece" dele, como o próprio refere em Inglourious Basterds. Não me considero um amante de Quentin Tarantino, mas uma coisa é certa: ele sabe realizar cinema.

E por fim...

1º - Lost In Translation (2003)

Este foi a primeira obra prima a "despertar o meu interesse para o cinema". Se não o escolhesse, seria um desrespeito enorme para este clássico.

Lembro-me de ter quinze anos quando o vi pela primeira vez, altura da minha vida quando comecei a descobrir novas coisas, normal para um adolescente de quinze anos e uma dessas coisas foi o mundo enorme que o cinema nos oferece, desde o cinema americano, italiano, francês, japonês, alemão, entre muitos outros (Portugal incluído).

Bem, para começar, é preciso frisar que nunca antes tinha visto um filme de romance como este. O uso de poucos diálogos em troca do uso constante do olhar trouxe-me algo de novo. Sentimos que estamos mesmo perdidos, como o título sugere. Não sabemos muito bem o que procurar, tal como acontece nas personagens principais, interpretados por Bill Murray e Scarlett Johansson. A partir do momento que Bob e Charlotte se encontram, essa procura começa a desvanecer, a pouco e pouco. Estão ambos perdidos em fases diferentes das suas vidas. O facto de isto acontecer num país estrangeiro, como o do Japão, sendo bastante diferente da cultura americana, realça ainda mais esta procura e a importância dos dois se encontrarem. Ficamos sempre à espera que aconteça alguma coisa. Primeiro se irão ter relações sexuais e depois se irão beijar. No entanto, existe um acontecimento: comunicação. As conversas que eles têm, embora poucas, são, pura e simplesmente, entendimento. A experiência de Bob complementa Charlotte e a ingenuidade dela complementa Bob. Não passam muito tempo juntos, mas quando estão, deixam-se de preocupar tanto com os seus problemas e passam a viver e a conhecer o mundo em que eles estão que, curiosamente, são dois. O mundo de Japão e a relação deles. Pode-se dizer que é muito semelhante àquilo que acontece em Last Life In The Universe. Ambos nos permitem conhecer mundos diferentes e Sofia Coppola soube realzar esta função na perfeição. Para além da filha de Francis Ford Coppola, o cinemtógrafo desempenha distintamente bem o seu papel atribuindo uma marca própria para esta longa metragem. Quando cada um procura por uma resposta, sentimos isso na imagem, no silêncio que é transmitido. É como se nós estivéssemos a procurar através do uso do ponto subjectivo das personagens, principalmente o de Charlotte. Por fim, mais uma vez, chegamos ao fim, só que não existe fim. Porquê? Porque razão não existe fim? Frustração! Onde é que está o fim? Ora, o fim não existe, porque esta obra é uma demosntração de um momento de duas vidas. A única coisa que acaba é o momento que os dois vivem. Aliás, Charlotte transmite a Bob para nunca mais voltarem ao Japão, porque não seria o mesmo e é mesmo disto que se trata. Um momento na vida de duas pessoas, nada mais, porque é isto que normalmente acontece na vida real. Não há propriamente um fim. Somente existe na fase em que estávamos inseridos, mas a vida continua.

Não sei como Sofia Coppola conseguiu transmitir tão bem isto. Percebo a nível de realização e de narrativa, mas a forma como estas emoções são transferidas ao público, pelo menos a mim, realmente, não consigo explicar. Só sei é que existe e cada vez que o revejo, sinto o mesmo, de outra forma claro, mas está lá.

E é por isto que escolho Lost In Translation, como o melhor filme da década de 2000-2009.

Quanto ao Avatar, jamais meterei este filme no Top 20 da década passada, muito menos no Top 10. É um bom filme de entretentimento que não explora como deve ser a história e os últimos quarenta minutos são um bombardeamento de cenas de acção que, sinceramente, aborreceu-me tanto que comecei a desviar a minha atenção do ecrã. É um filme engraçado com efeitos visuais assombrosos, mas quando comparado com o peso daquilo que é real, não é tão fascinante quanto isso. É mais um Titanic. Não sou contra efeitos especiais, atenção. Agora, quando o foco central do filme são os efeitos especiais de computador, simplesmente desligo-me. Se relerem a crítica feita a Last Life In The Universe, conseguirão perceber que não estou somente a falar da sequela de Transformers.

Antes de acabar a crítica, gostaria de apontar, talvez, o filme com maior qualidade cinematográfica. Consegue criar extremamente bem uma ligação com o cinema clássico. Esse filme é Control, realizado em 2007 por Anton Corbijn. É um filme espectacular que tem tudo o que o cinema precisa. No entanto, não se encontra no meu Top 10, porque não conseguiu ficar tão imortalizado na minha memória como estes que mencionei. Não quer dizer com isso que seja pior, até pode ser melhor destes todos a nível cinematográfico e acredito que seja, mas cada um experiencia cinema de forma diferente e foi por isso que não conseguiu ganhar um lugar na minha lista. Contudo, não deixem de ver este clássico do cinema, vale mesmo a pena presenciá-lo. É uma visão da vida do Ian Curtis que merece ser vista através dos olhos de um dos fotógrafos mais conceituados do mundo.

E aqui acabo a minha análise a esta década de cinema, uma década de enorme qualidade cinematográfica. O problema é que para encontrá-los, hoje em dia, requer mais esforço. No entanto, sou jovem e ainda há muito cinema para conhecer, passado e futuro. Espero que não seja o único a fazê-lo.

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