quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Oldboy

Título original:Oldboy
Título em Português:Oldboy - Velho amigo
Realizado por: Park Chan-Wook
Actores: Choi Min-Sik, Yo Ji-Tae, Kang Jeong-Hye
Data:2003
País de Origem: Coreia do Sul
Duração:120 min.
M/16Q
Cor, Som










Oldboy, baseado no manga japonês de Tsuchiya Garon e Minegishi Nobuaki, apresenta-nos o tema da vingança e do ódio ressentido oriental. Realizado por Park Chan-Wook, a história da banda-desenhada vizinha era a ideal para adaptar à sua Triologia da Vingança - que em 2003, ano de saída deste filme, contava já com o impervisível Boksuneun naui geot (Simpatia pelo Sr. Vingança) e iria ser completada em 2005 com o imperdível Chinjeolhan geumjassi (Simpatia pela Snhra. Vingança).
Oh-Dae Su é um homem casado e com uma filha, situa-se emocionalmente entre a tristeza e o abatimento ridículo. Um dia, depois de estar bêbado, Dae-Su é raptado e quando acorda está enclausorado num pequeno e claustrofóbico quarto de hotel. Assim estará fechado do mundo, durante 15 anos, tendo como único companheiro o (in)existente guarda que lhe leva a comida, os desconhecidos que o adormecem com gáz e lhe cortam o cabelo e a televisão. A televisão é, na realidade, o único amigo de Dae-Su , como este comenta: " A televisão é tanto um relógio como um calendário. É a nossa escola, casa, igreja, amiga e amante." Curiosamente é também na televisão que se informa a Dae-Su que a sua mulher foi assassinada e ele, estando desaparecido, é o principal suspeito. Porém a narrativa sofre uma reviravolta: Dae-Su é liberto do quarto, sem saber o porquê e como, dando-lhe uma hipótese de descobrir quem o prendeu, através de um telemóvel com quem vai mantendo contacto com uma voz desconhecida.
Aqui começa o caminho da vingança, ao que o animalizado Dae-Su quer acabar e apagar o rasto. Tal como em Boksuneun naui geot, o pai da filha que foi morta vende a alma ao diabo para punir pelas suas próprias mãos os culpados da sua morte, também em Oldboy a procura pela vingança visando uma estabilidade e paz depois do acto é omnipresente.
No decorrer da resolução das pistas propostas pela voz do culpado, Dae-Su encontra Mi-Do, uma rapariga mais nova que o decide ajudar. A paixão carnal começa a desenvolver-se logo no príncipio do seu encontro, não havendo ainda nenhuma concretização dos seus sentimentos um pelo outro. Isso será algo que tragicamente se vai desenvolver no decorrer da narrativa.
Quando Dae-Su encontra o culpado, este diz-lhe que só metade do trabalho estava completo: era preciso saber o porquê daquele aprisionamento. Dando-lhe mais cinco dias para desenvolver o mistério. A partir daqui a narrativa dá uma reviravolta tão gigante, tão forte que o espectador começa a deliniar na sua cabeça uma aspiração a um fim trágico - digno de uma tragédia clássica. O final do filme é algo nunca visto em cinema. Junta numa explosão sensacionalista e sensacionista as emoções das personagens numa catárse fogosa e espiral. Tal como um Rei Édipo, Oldboy atinge proporções trágicas e cénicas altamente sublimes e cortantes, restando a compaixão ou pelo herói, ou pelo vilão, pois compreender este lado é o teste do filme. Nos momentos extremos, não há razão nem juízos possíveis, apenas o fado que teceu a colisão entre o ódio e a vingança daqueles dois homens. Tendo um, seguindo como máxima de vida: "Riam-se e o mundo ri-se convosco. Chorem e chorarão sozinhos"; e o outro: "Sê uma pedra ou um grão de areia, na água ambas se afundam."
Quanto a termos técnicos, a realização é óptima - fazendo a ponte entre a violência e o ódio com o amor e o carinho de Dae-Su e Mi-do. Já se disse aqui que o cinema oriental, para além de ser aquele que relativiza todos os dogmas, é também aquele que brinca com o paradoxo: note-se a cena de amor entre os dois amantes felizes ou a cena extremamente violenta de tirar os dentes com um alicate, ao som do "Inverno" de Vivaldi. Ambas são por vezes grosseiras, por outras vezes cómicas, ou até por outras belas e esteticamente perfeitas. Por último, realce-se o "cast" excelente, quer seja pela participação vivida de Choi Min-Sik no papel de Oh Dae-Su, ou Yo Ji-Tae no papel de vilão Woo-Jiin. Um filme digno de receber os melhores prémios na senda da representação do segundo episódio da Triologia da Vingança(como o prémio do júri em Cannes) e embaixador de um nascimento de um cinema sul-coreano fortificado com um estilo próprio dos melhores realizadores.

Nota:

Outras Notas:
David Bernardino:

Pedro Mourão-Ferreira:

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma verdadeira epopeia em pleno século XXI. Concordo com tudo o que o chefe do blog diz, mas discordo com a nota dada no final.Aí concordo mais com David Bernardino e também dou 8.5.