quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Munich

Titulo Original: Munich
Titulo Português: Munique
Realizado por: Steven Spielberg
Actores: Eric Bana, Daniel Craig, Ciarán Hinds, Mathieu Kassovitz, Hanns Zischler, Geoffrey Rush, Mathieu Amalric, Ayelet Zurer, Michael Lonsdale, Omar Metwally, Richard Brake, Brian Goodman
Data: 2005
Pais de Origem: Estados Unidos
Duraçao: 157 min.
M/16Q
Cor, Som







Munique é daqueles raros filme que transcende a arte e nos prende directamente num mundo de consciência e de luta interior. Não adianta referir mais vezes, ou elogiar mais vezes o génio de Spielberg, mas com este filme mostra que consegue não só superar-se a nível de realização mas também como a nível de enredo. Munique consegue o que outros filmes de Spielberg não conseguiram: uma orgia de sentimentos e emoções.
Mas vamos por partes. Para começar a história é baseada em factos reais, e logo aqui pode-se questionar se Spielberg era o realizador mais indicado, devido a toda uma história cinematográfica virada para a ficção, com excepções como os magníficos Schindler's List, Catch Me If You Can, Jaws,The Color Purple,Empire of The Sun, Saving Private Ryan, etc. Consegue realizar um poderoso thriller de suspense que nos transmite um grande compromisso social.
Recuemos a 1972 onde decorriam os jogos olímpicos na Alemanha Federal, e 11 membros da equipa israelita foram raptados e subsequentemente mortos pelas Black September, um movimento extremista Palestiniano. Munique começa precisamente nessa calamitosa e trágica noite. O filme transporta-nos não aos eventos que levaram ao massacre mas sim ao grupo de 5 agentes Israelitas liderados por Eric Bana (Chopper,Black Hawk Down, Troy, Hulk, The Other Boleyn Girl), que tem por missão eliminar os terroristas responsáveis pelo massacre. Spielberg seguiu uma inteligente realização, optando não por um acontecimento corrido, mas sim por espalhar segmentos dessa noite ao longo do filme, principalmente nos momentos em que Avner, personagem interpretada de forma fúlgida, mas não excessiva por Eric Bana, tem as suas maiores dúvidas em relação á missão a que está destinado. O que poderá alguém pedir a um oficial de baixo nível da Mossad, que está em casa com a família?
Eric Bana já provou o seu valor enquanto actor desta nova geração, mas talvez seja o elenco, um autêntico conjunto de actores dedicados e, que dá ainda mais crédito a este filme. Temos que concordar que Bana não é um actor muito requisitado e quem sabe podem surgir interrogações quanto á confiança demonstrada por Spielberg. Os cépticos que se desenganem. Bana integra a personagem na maior das perfeições dando-lhe credibilidade suficiente para arquitectar uma ligação ao espectador quase magistral. Ao longo do filme conseguimos sentir por completo a angústia de um agente que lidera uma equipa com um objectivo soturno, seguindo á letra “olho por olho, dente por dente”. E é aqui que o filme vai buscar a sua força. Estamos sempre numa dualidade de sensações, num misto entre raiva e compreensão para com estes cinco homens, para com estes cinco agentes que se vêem a cumprir ordens pelo seu país, para vingar sangue israelita. “Será correcta esta acção, será sensato retaliar desta forma?”
O tema sem dúvida que ganha hoje em dia uma nova perspectiva, e poderemos pensar se a visão de Spielberg não colocará as pessoas a criar um ódio sublimado aos Palestinianos, porque se não vejamos, o filme é todo ele virado para uma vingança, para um premissa de que partimos ser justa. Só vemos a versão Israelita, vemos homens que têm valores de defesa da pátria, da família, etc. e quando nos apresenta um Palestiniano, vemos um homem que tem por único objectivo: matar. É na conversa entre Avner e Ali (Omar Metwally) que esta temática é posta no seu extremo, cabendo ao espectador mais informado e atento tirar as suas elações. Mas sublinho que esta questão devia ter sido tratada com mais cuidado.
Como já foi referido o elenco do filme é composto por muitos actores que já mostraram a sua qualidade, como por exemplo Geoffrey Rush, o oficial de ligação sempre com uma postura preocupantemente descontraída, Ciarán Hinds e o não menos famoso Daniel Craig que tem igualmente neste filme um papel poderoso. Será o futuro senhor Bond capaz de um filme que vai ao âmago do sentimento humano? A sua personagem, Steve, partilha do mesmo valor que toda a equipa, mas Craig dá um toque especial. Não é um mero agente a cumprir ordens, é um homem que pretende vingar o seu país sem olhar para trás, custe o que custar, demonstrando isso em todas as conversas que tem.
O filme ganha dimensão com a entrada de Louis (Mathieu Amalric), que cria aqui mais um elemento de reflexão critica. Juntamente com o seu Papa (Michael Lonsdale), aparecem como os fornecedores dos nomes, uns autênticos mercenários escondidos por detrás de valores questionáveis, principalmente quando Papa tenta justificar com moralismos o facto de fazer o que faz e o facto de tentar tornar válida a missão de Avner ao dizer que só estão a vingar-se da crueldade que o mundo mostrou para com eles, os judeus como é óbvio. Mas por incrível que pareça sentimos um certo fascínio e no momento em que referem que não trabalham com governos, uma súbdita percepção de que talvez não sejam tão sombrios e reprováveis quanto isso. Alias Spielberg conseguiu, e bem, criar mais uma vez esta estranha ligação ao espectador no momento em que Avner visita a família de Louis, onde existe um fervilhar de vida, e onde crianças brincam descontraidamente no jardim como se de uma vulgar família se tratasse. A história desenrola-se de uma forma constante, culminando num final onde vemos uma equipa totalmente destruída. Avner volta para a sua família que está a habitar nos EUA, mostrando o seu constante medo por todo e qualquer sujeito estranho. As implicações da missão foram muito maiores do que poderia esperar, chegando mesmo ao ridículo de questionar se o próprio estado o queria matar.
Convém salientar que Munique não é um filme que me faça levantar do sofá e bater palmas, é um filme que quanto muito me faz não meter em pausa para ir beber agua. A profundidade com que as implicações pessoais que esta missão acarreta para toda a equipa são retratadas é que dá a Munique e honestamente também a Spielberg este toque de grandiosidade, sendo nomeado para cinco Óscares da Academia, entre eles Melhor Realizador e Melhor Filme. É uma equipa que se vê ao longo do filme envolta em constantes dúvidas, e em constantes suspeições. Munique é para ser visto com cuidado, e sem retirar conclusões precipitadas, principalmente anti-semitas ou anti-palestinianas, visto serem muito fáceis, devido a uma falta de cuidado que se deveria ter tido. Não estou a defender posições, estou apenas a reflectir e a consciencializar que o terrorismo nunca teve um fim á vista, e isso é bastante elucidativo no filme.

Nota: 3/5

1 comentário:

jgoncal disse...

Boa estreia!
Fiquei com vontade de ver o filme e é o que farei brevemente, deixando, depois, a minha opinião sobre o filme.
Abraço