quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Maradona by Kusturica

Título Original: Maradona by Kusturica
Título em Português:
Maradona
Realizado por:
Emir Kusturica
Actores:
Diego Maradona, Emir Kusturica, Lucas Fuíca, Manu Chao
Data:
2008
País de Origem:
Argentina,
Duração:
90 min.
M/12Q

Cor, Som






A motivação para esta crítica nasce na sequência de uma outra, daquela que tive oportunidade de ler na Ipsilon desta semana, da autoria de Vasco Câmara, não passa de uma esperança vã e de uma crença na possibilidade de que ele por momentos abandonasse o altar de critico superior que tantos de nós lhe oferecemos (e incluo-me a mim no lote) e passasse por aqui.

Se tal acontecesse espero que ele me perdoasse esta interpretação das suas palavras com tanto de extensiva como de abstracta, mas o que VC realiza na sua análise é a transformação de Maradona By Kusturica num confronto de egos o que tem tanto de verdadeiro como de minimizador. Não haja dúvida, Maradona e Kusturica são duas Punk Stars cada uma á sua maneira e na sua profissão, não haja dúvida que também por isso alguma parte deste documentário que podia ser um filme se teria de focar precisamente nessa vertente nessa popularidade mágica e surpreendente que ambas as personagens (que são reais mas poderiam ser de ficção) reúnem.

Maradona foi o melhor jogador de futebol de todos os tempos, se calhar também o foi Pélé, se calhar também o foi Eusébio, se calhar também o foi Di Stefano, se calhar também o foi Zico, entre tantos outros. Mas a verdade é que quando saem do mundo de futebol todos estes são pessoas normais, todos os reconhecemos e em alguns casos admiramos, todos são dotados de um dom magnifico para o futebol, mas o dom deles tal como o seu universo extingue-se nisso mesmo…no futebol!

Diego Armando Maradona é deus numa igreja de fanáticos com tanto de ridícula como de divertida, lembro-me de alguém dizer que no panorama social com que hoje nos deparamos, em que o futebol move milhões de pessoas e se revela o centro de maior união e conflito, se houvesse um novo Messias não seria político, nem filosofo, mas sim futebolista. Verificar o efeito Maradona que este filme tão bem retrata, faz-nos comprovar isso mesmo a Igreja Maradoniana é apenas a caricatura disso mesmo, contudo é bem real que a T-shirt do eterno numero 10 argentino ainda seja a mais vendida, é bem certo que encontremos pinturas com a cara desta Punk Star um pouco pelas paredes de todo o mundo, e um pouco por todo o lado na Argentina. E se é verdade que a essência do futebol não passa pelos milhões que cada jogador ganha por mês mas sim pela paixão que cada camisola desperta, então não será menos verdade que o golo que Maradona marcou à Inglaterra foi realmente um momento eterno de união, foi o golo dos pobres contra o poderoso e rico gigante ocidental. E se a revolução, não for exactamente isso, não for a união despertada por uma figura colossal, por um discurso inspirador, ou por um golo magnânime na altura certa, então não sei o que será.

Tudo isto para provar que realmente um filme sobre Maradona teria de se focar em grande parte exactamente nisto, na força viva em que se tornou este homem equiparado a deus.

E porque não falar do balcânico cujos filmes se impuseram por toda a Europa e até (imagine-se) pelos EUA. Porque não falar do homem que com a sua No Smoking Orchestra antecede o fenómeno Gogol Bordello, enchendo salas de espectáculo com musica Punk Cigana, porque não falar do homem que concretiza o impensável que seria levar Underground e Black Cat, White Cat, a figurar entre os títulos mais importantes do cinema moderno. Realmente tanto Maradona como Kusturica são heróis inesperados, e á sua medida são também revolucionários.

Ao contrario do que se pode extrair da critica de Vasco Câmara, Kusturica não se limita a projectar em si a grandiosidade da figura de Maradona, antes pelo contrário, Emir utiliza como forma de justificação deste documentário a ilustração de ambos os caminhos e a forma como em certo ponto estes se acabam por cruzar, por isso é que o filme se chama Maradona by Kusturica, e não se chama só Maradona (apesar da tradução portuguesa se ter encarregue de estragar isso revelando mais uma vez toda a sua competência).

Kusturica não é nem nunca foi documentarista, logo o seu filme nunca se poderia cingir a um simples documentário, não poderia ser uma biografia da vida de Maradona, até porque para isso há os jornalistas, os próprios documentaristas etc. Kusturica tinha de transformar o seu documentário noutra coisa, numa história, na história de dois caminhos que poderiam ter sido paralelos mas que se cruzam pela construção e conquista que a ambos está inerente. E todo este documentário é isso mesmo, não é apenas um agregado dos melhores golos de Maradona, não é apenas um retrato dos muitos altos e muitos baixos da vida deste futebolista. Maradona by Kusturica é a ilustração de como em certo momento da vida muitos são os que se podem tornar revolucionários á sua maneira, muitos se podem tornar em Maradonas, e Kusturica inclui-se nesse lote, como tantos outros se podem inserir, tal como Manu Chao que toca a música para Diego a musica que lhe é dedicada numa rua de Buenos Aires, o mesmo Manu Chao que com letras contra o imperialismo americano encheu todos os locais por onde passou pelos EUA chegando mesmo a fechar um dos maiores festivais daquele país. E tal como a minha critica o filme não é apenas sobre Maradona, sobre a sua vida, sobre os seus golos, nem sobre Kusturica, sobre os seus filmes, Maradona By Kusturica é o retrato de todos os revolucionários, nas mais diversas formas, nas mais diversas áreas, quer já o tenham concretizado, quer não o tenham, quer nunca se tenham apercebido dessa possibilidade.


Nota:

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