segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Ninjo Kami Fusen

Título Original: Ninjo Kami Fusen
Título em Português: Humanity and Paper Balloons
Realizado por: Sadao Yamanaka
Actores: Chojuro Kawarasaki, Kanemon Nakamura, Sukezo Sukedakaya, Shizue Yamagishi, Daisuke Katô, Choemon Bando, Tsuruzo Nakamura
Data: 1937
País de Origem: Japão
Duração: 86 min.
M/6Q
Preto e Branco, Som







Humanity and Paper Balloons estreou nos cinemas no mesmo dia em que o seu criador, Sadao Yamanaka, partia para a Manchúria, alistado no Exército Imperial e com intenções de voltar (tal e qual o seu companheiro Yasujiro Ozu, que até então só realizara comédias simpáticas). Não sabia que a morte lhe esperava silenciosamente e em 1938, com apenas 28 anos, Yamanaka falecia num hospital militar, vítima de disenteria, deixando no seu país natal o seu último e inesperado filme, que por essa altura já era o seu inevitável testamento artístico. Ninjo Kami Fusen deixa claro o génio prematuro daquele que é um dos maiores feitos da História do Cinema Japonês.
Embora estejamos longe de ter obra extensa disponível para explanarmos a sua influência real e a sua importância estética de forma justa (o que nos restou da sua filmografia contendo 23 filmes foram apenas 3 exemplares) poder-se-ia comparar a perfeição de Humanity Paper Balloons a qualquer outro filme da altura e apenas um ou outro raro diamante (um Orochi [1925] de Buntaro Futagawa, por exemplo) são igualmente extraordinários. Nem os catalogados "mestres do cinema clássico japonês", como Ozu ou Mizoguchi, nem por exemplo um Mikio Naruse (o mestre esquecido, mas recentemente redescoberto) chegavam nesta altura a manejar com excelência todos os motivos para integrar obras que completem o que vinham desenvolvendo. Isto principalmente porque cada um dos autores mencionados só se consagraram depois de 37 (principalmente na década de 50: Mizoguchi só é verdadeiramente Mizoguchi em The Life of Oharu [1952], Ozu com Late Spring [1949] e Naruse com Late Crhrysanthemums [1954]). Ilusão tendenciosa justificada pelo final precoce da carreira de Yamanaka ou não, seguramente este último poderia ter vindo a ser o quarto mestre clássico se as situações fossem outras (especulemos, pois).
Em termos narrativos, Humanity and Paper Balloons usa um esquema minimalista amplamente inspirador até da própria concepção de drama Ozuniano que se estava formulando, convicto de que quando o ritmo da realidade se impõe à tragédia humana, aí reside o pathos. A acção dramática passa-se, portanto, principalmente em dois locais chave: a ruela "sem amor nem esperança" (tal e qual o filme de Nagisa Oshima) e a casa dos nobres ricos. Sem querer ser directamente uma tragédia esquerdista de intentos político-sociais (como eram algumas produções de Kenji Mizoguchi na mesma altura), a dicotomia marcada, os pobres honestos e os ricos snobs, servem um conto alicerçado nesse humanismo trágico, tipicamente japonês, no qual as personagens silenciosamente estão destinadas a experienciar um desenlace funesto pelo seu heroísmo absurdo. Mas, se o individualismo dos agentes na tragédia é fulcral, a sociedade não deixa de ser caracterizada com reticências. Os ricos ignoram os pobres até à sua miséria, derramando um sentimento de injustiça avassalador (que nem é resolvido na acção dramática). Essa é, apesar de tudo, a sua derradeira força, porque, apesar de constantemente haver um esforço baseado na vontade para que a situação se clarifique, ela permanece sempre na obscuridade. Até nesse final discreto, mas sublime em que o rapaz corre e o balão entra no esgoto, sinonímia do desespero da morte frustrada dos heróis. Ela não trará nada. Manifestação silenciosa dos pobres humanos.
Obra pessimista avant la lettre, Humanity and Paper Balloons também vaticina o cinema japonês do descrédito ou da crítica mais que social, acima de tudo humana. O cinema de Yamanaka, portanto, reconcilia-se na Humanidade. Pessimista ou não, com ou sem respostas para a trama complexa e aparentemente sem solução, é exactamente essa probidade que Yamanaka filma, a de heróis puros na sua infortuna.

Nota: 5/5

3 comentários:

Anónimo disse...

4 minutos e 56 segundos de http://www.youtube.com/watch?v=hmmjDhj4MDs

depois de tanto tempo e de tantas vezes, continuo a sentir sempre o mesmo "arrepio na espinha" nesse preciso momento em que entra a musica!
Sem palavras......absolutamente maravilhoso!

Um dos meus favoritos de todos os tempos!

(p.s. Depois do falso alarme do ano passado, pode ser que surjam legendas para o seu 3º filme! Eu nao desisto!)

Miguel P. disse...

Exactamente! A música levemente conformista a entrar na melancólica madrugada. Esse "arrepio na espinha" é totalmente inevitável, tf10!
Obrigado pelo clip!

Anónimo disse...

Hã?... não entendo nada.lol.absurdo