domingo, 1 de junho de 2008

C'era una volta il West

Título Original: C'era una volta il West
Título em Português: Aconteceu no Oeste
Realizado por: Sergio Leone
Actores: Charles Bronson, Henry Fonda, Claudia Cardinale, Jason Robards
Data: 1968
Países de Origem: Itália/ Estados Unidos da América
Duração: 159 minutos
M/12Q
Cor, Som










Em 1948, o filme "Ladri di biciclette" (Ladrão de Bicicletas) foi um dos primeiros filmes do neorealismo, realizado por Vittorio de Sica. Curiosamente, o assistente de realização, foi, nem mais, nem menos, um dos realizadores mais mediáticos de westerns de toda a história de cinema, Sergio Leone. A sua fama começou em 1964 com "Per un pugno di dollari" (Por um punhado de dólares) protagonizado por Clint Eastwood. Dois anos depois nasce "Buono, il brutto, il cattivo, Il" (O Bom, o Mau e o Vilão) e em 1968, Sergio Leone realiza um dos melhores filmes do velho oeste: um clássico dos clássicos. "C'era una volta il West" (Aconteceu no Oeste) é dos poucos westerns com influência italiana que ultrapassa em léguas os "Spaghetti Westerns" tendo um estatuto tão elevado como "The Searchers" (A Desaparecida) ou "The Man Who Shot Liberty Vallance" (O Homem que matou Liberty Vallance), ambos realizados por John Ford, mestre dos westerns.

A cena inicial de "Once Upon A Time In The West" é brilhante. Entre cinco a dez minutos é nos mostrado três homens parados numa paragem de comboios em que se percebe que estão à espera de algo ou de alguém, sendo fabulosa a maneira como esta cena é filmada. Um deles não pode com o barulho de uma mosca que, por sua vez, tenta silenciá-la enfiando a mosca no cano do seu revólver. Outro deixa-se estar por debaixo de um tecto molhado a pingar constantemente para cima dele só para depois beber a poça que ficou acumulada no seu chapéu. O terceiro simplesmente fica à espera. Quando o comboio chega ouve-se uma harmónica a tocar e vê-se um fulano com o instrumento na boca e aí descobre-se o sentido da espera dos outros três homens. Assim é o filme, desde o início até ao fim. Cenas duradouras que dão um relevo maior àquilo que está a acontecer. Mistério é predominante que se enquadra perfeitamente com o ambiente meio parado à espera que algo se suceda. Espectacular a performance dos actores. Charles Bronson, Henry Fonda, Claudia Cardinale (musa do cinema italiano) e Jason Robards interpretem maravilhosamente cada papel. Desde que começa o filme que o público é sugado e fixado de uma forma absurda durante duas horas e quarenta minutos. Ao contrário do que se pensa, a espera agarra-nos por tudo o que se passa à volta e a actuação dos actores é essencial pelas expressões que transmitem nessas cenas. Frases marcantes introduzem uma comédia subtil ao enredo. A personagem Harmonica (Charles Bronson) é tão misteriosa que nem se sabe o seu nome e enreda o caminho para a surpresa final ao lado de Cheyenne (Jason Robards) e Jill (Claudia Cardinale) para o duelo final contra Frank (Henry Fonda)

O ambiente pesado não nos permite desinteressar de forma nenhuma pela história, só favorece para o seu proveito. Argumento riquíssimo que começa com uma tragédia: uma família completamente dizimada e dois pontos de grande incógnita se revelam, o porquê da família dizimada e a violência psicológica transmitida ao público através da morte do filho mais novo que é uma simples criança parecendo ser violência gratuita. Por outro lado, numa análise mais profunda, este filme conta a ligação do este americano com o oeste, através da chegada dos caminhos-de-ferro ao velho oeste, acontecimento fundamental para o progresso dos Estados Unidos. Ponto fulcral e determinante para o desenvolvimento do enredo desta grande obra de 1968. Predominante a história da América em "Once Upon A Time In The West".

O que mais me espanta no filme é aquilo que quase já não se presencia hoje no cinema, obras filmadas em locais e estúdios que nos oferecem algo mais do que efeitos especiais. Embora os efeitos especiais sejam inovadores e dão a possibilidade para fazer cenas mais extravagantes, não deixa de ser uma reforçada ilusão no cinema, enquanto nos locais e nos estúdios conseguem atribuir mais veracidade ao filme em si. Outro exemplo é "Bladerunner" que é mais espectacular visualmente que "The Day After Tomorrow" (O dia depois de amanhã) e todos os outros filmes que recorrem aos efeitos especiais. "Sunrise: A Song Of Two Humans" é visualmente espantoso e foi realizado em 1927, que foi há mais de oitenta anos. Voltando ao "Once Upon A Time In The West", é fabuloso ver como esta obra foi toda filmada, paisagens lindíssimas, adereços fantásticos criando vilas de um tamanho assombroso. É um western que tem tudo aquilo que é necessário para deslumbrar tudo e todos desde à imagem, passando pela actuação notável dos actores acabando no argumento riquíssimo. Uma história excpecional e uma surpresa que nos prende até à exaustão.

Um filme espectacularmente fabuloso, um western excepcional, uma realização absolutamente fantástica, sendo injusto incluir esta obra nos "Spaghetti Western", se alguma vez foi feito. É preciso revê-lo variadíssimas vezes para podermos captar toda a qualidade tanto no aspecto do argumento como no aspecto da realização. Cada vez que o fazemos ficamos ainda mais interessados nesta grande aventura pelo velho oeste. Só mesmo "The Man Who Shot Liberty Vallance" oferece mais que "Once Upon A Time In The West" no mundo dos westerns.

"You don't understand, Jill. People like that have something inside... something to do with death" - Cheyenne

Nota: 5/5

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