quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Hakuchi

Título Original: Hakuchi
Título em Português: O Idiota
Realizado por: Akira Kurosawa
Actores: Setsuko Hara, Masayuki Mori, Toshiro Mifune, Takashi Shimura, Chieko Higashiyama
Data: 1951
País de Origem: Japão
Duração: 166 min.
M/12
Preto e Branco, Som









Após Rashomon e do Leão de Ouro que recebera em 1950, Kurosawa aventura-se no seu próximo filme: uma adaptação da obra O Idiota de Fyodor Dostoievski - o seu autor predilecto.
Mais uma vez, Kurosawa é inteligente o bastante para transportar a realidade russa do século XIX para o Japão de 1950. Não existe a preocupação de arranjar inovações que deturpam a narrativa original (veja-se o infortúnio de obras adaptadas como o patético "Romeo + Juliet" e o "nosso"(?) paupérrimo "O Crime do Padre Amaro"). Kurosawa inventa novidades, mas estas são simplesmente para a narrativa se acomodar ao espaço e ao tempo, todo o resto das temáticas permanecem lá: por exemplo o ideal do herói cristíco, o amor que vence o ódio, a idiotice como metáfora e ironia etc. Isto como sinal demonstrador do respeito que o realizador tinha pela narrativa do novelista Russo.
Assim, escolhe-se Hokkaido como local de filmagens, que para além de ser a região mais ocidentalizada do Japão também é bastante fria e conhecida pelos seus grandes períodos de neve. Uma visível tentativa de procurar um espaço ideal semelhante ao do Romance original. Quanto às personagens, a história de Hakuchi também é fiel às suas origens, embora com nomes japoneses, o espectador consegue distinguir claramente quem é quem. Por último, realce-se a presença das cenas marcantes do romance - veja-se a cena da festa de Nastássia e a cena final a título de exemplo - e mesmo certos diálogos foram mantidos sem qualquer modificação. Ver Hakuchi, em suma, é ler grande parte de O Idiota.
Outro aspecto curioso, e não referido na maior parte das críticas, é o facto de Hakuchi ser o filme que reune os melhores actores da Era de Ouro do Cinema Japonês. Temos a fabulosa Setsuko Hara interpretando a sedutora Nastássia, o sublime Masayuki Mori interpretando o herói Michkin e o tremendo Toshiro Mifune interpretando o rival Rogojin.
Esquecido pela maior parte dos críticos de cinema (e inclusive especialistas em Kurosawa!), Hakuchi é por estes factores, certamente, uma das melhores adaptações do realizador nipónico. E arriscaria afirmar que é superior a Ran - a aclamada adaptação da obra de Shakespeare, O Rei Lear.
Porém, o filme que criticamos é uma versão reduzida do original que está, infelizmente, desaparecida (a versão original contava com 265 min.) . Este é o maior problema de Hakuchi: muitas vezes reparamos que existiram cortes narrativos importantes que supostamente deveriam lá estar. Por outro lado, a curiosidade de saber como estaria feito aguça-nos o nosso interesse no visionamento.

Nota:

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