quarta-feira, 28 de março de 2007

Shinjuku Kuroshakai: Chaina mafia sensô

Título Original: Shinjuku Kuroshakai: Chaina Mafia Sensô
Título em Português: Shinjuku Triad Society
Realizado por: Takashi Miike
Actores: Kippei Shiina, Tomorowo Taguchi, Takeshi Caesar, Ren Osugi, Airi Yanagi, Yukie Itou, Kyosuke Izutsu
Data: 1995
País de Origem: Japão
Duração: 100 min.
M/18
Cor, Som









Shinjuku Triad Society foi o primeiro filme de Takashi Miike a ter entrada nas salas de cinema - e o primeiro a iniciar uma triologia: a triologia Kuroshakai (Sociedade Obscura) - e por estes mesmos factos, muitos clamam ser esta a sua primeira obra de destaque. De facto, é aqui que se traça, primeiramente, uma linha estética na obra deste realizador que, na altura, contava já com 12 filmes. A linha desenhada de Shinjuku Triad Society viria a ser fechada em filmes como o excessivo Fudoh: The New Generation ou ainda no niilista Koroshiya 1 (Ichi the Killer), mas, curiosamente, nunca nas outras duas instalações desta triologia - falamos de Gokudô Kuroshakai (Rainy Dog) e Nihon Kuroshakai (Ley Lines) - observamos esta continuidade estética que tão bem caracteriza a face mais obscura (e mais conhecida) de Miike - realizador que, como todos os seres humanos, não possui apenas uma faceta. Assim, estes três filmes apenas se ligam por um único tema, sendo que depois, cada um o aborda diferentemente. E a maneira como isso sucede é tão radical, que temos razões para duvidarmos se foi o mesmo realizador a executar cada uma das instalações.
Aqui, neste Shinjuku Kuroshakai, opta-se por uma narrativa escura, uma violência à prova de sensibilidades, e uma sexualidade monstruosamente explorada. Como já se disse, pode-se marcar um paralelo deste filme com as obras mais indegestas de Miike. Por exemplo, consideremos o facto de não haver heróis, ou, não existirem valores morais - (ver a crítica de Fudoh). Parece que o mundo está imergido numa decadência completamente omnipresente, e que, tentar vir à superficie é inútil. Esta concepção negativista da realidade é mais materializada nas primeiras obras, onde existe quase que um sentimento selvagem de uma vitalidade destructiva formidável.
A premissa é, como já se viu, o desejo de destruição pela violência. O detective sino-japonês que espanca uma suspeita atirando uma cadeira à cara ou que viola uma mulher para obter respostas, é a personagem principal, todavia, ele nada percebe de bondade. Já que, para Takashi, não existe essa dualidade de valores: o bem e o mal, afinal, não são antagónicos, mas sim bons amigos.
Ora, pelo desenrolar das situações o detective Kiriya tenta desmantelar uma organização liderada por Wang, um temível e odioso chefe chinês, que formalmente, na narrativa, preenche um papel de vilão. Porém, ele apenas (e somente) reflecte - parafraseando Tom Mes - um alter-ego do herói. É ele que separa a família do herói, pegando no seu irmão, tornando-o num gansgter, e é precisamente isso que torna um caso de polícia banal numa questão não só ética (que falta desde o ínicio), mas também de identidade. Na verdade, como é comum a toda a triologia Kuroshakai, o detective Kiriya acaba por se sentir num marginalizado, num homem perdido num país alienado. Talvez seja essa a razão por colocar, acima de tudo, o bem da sua família. Temática esta última, presente também num Bijita Q (Visitor Q) ou num Katakuri-ke no Kôfuku (The Happiness of the Katakuris). A família que representa, sempre, uma concha, um abrigo no mundo mais selvagem e brutalizado que é o pós-moderno.
Em última estância, Shinjuku Kuroshakai tanto se assemelha, como se distância de filmes como Fudoh: The New Generation. Se, por um lado, assume uma posição misógina e admite uma estética visualmente chocante à la Manga(como é o caso das relações homosexuais entre gangsters), por outro, tenta construir uma mensagem. E mesmo que esteja mais sublimemente trabalhada em Ley Lines, por exemplo, é na tentativa de se lapidar algo que reside o triunfo deste filme do outro, este último, relembre-se, era totalmente vazio e nulamente insípido.
Em suma, um filme no parâmetro do razoável, sinal tanto de uma certa imaturidade técnica, como de uma genialidade indomável criativa.

Nota: 1/5

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