terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Akumu Tantei

Título Original: Akumu Tantei
Título em Português: Nightmare Detective
Realizado por: Shinya Tsukamoto
Actores: Ryuhei Matsuda, Hitomi, Masanobu Ando, Ren Osugi, Yoshio Harada, Shinya Tsukamoto
Data: 2006
País de Origem: Japão
Duração: 106 min.
M/16Q
Cor, Som









Após uma mudança de registo em Vital (2004), uma apaziguadora e deprimente experiência, e após esse reencontro Tetsuniano caótico que antevia a fusão da carne e da mente num Haze (2005), chega-nos o mais recente filme do génio maligno Shinya Tsukamoto. Nightmare Detective representa, primeiramente, um esforço por parte do autor, em largar planos fetichistas e filantrópicos. Uma tentativa sóbria de dilacerar aquele que é o tema envolvente de todos os seus filmes: o relacionamento do homem com o devir, esse "vir-a-ser" completamente dominado pela urbanidade e pela técnica que o orbiga a mutar-se, ora exteriormente (vejam-se os Tetsuos e o tema de uma metamorfose Kafkiana), ora interiormente (por exemplo Tokyo Fist, Bullet Ballet, A Snake of June ou até mesmo Vital). Essa temática é a bitola do Homem Moderno (ou melhor, pós-moderno), aquele que vive fechado na cidade e na sua própria vida submissa e cuja rebeldia surge, em querer estar mais perto da morte, para, paradoxalmente, resgatar o valor essencial da vida. Querer sair dessa virtualidade que o faz pensar que está vivo, sem provas disso. Ora, se Tsukamoto há muito que vinha expressando a sua vontade de abandonar esse tema originário do movimento cyber-punk, a realidade é que neste Nightmare Detective - uma tentativa de também ser-se comercial com inteligência - existem espasmos ténues de repetição.
A narrativa crua e quase toda ela sem muito interesse, parece querer-se aproximar de uma ênquete policial num contexto do paranormal e do mistério. Mas esse tratamento do fantástico não augura nada de bom, visto que o modo como se executa, é mais baseado nos sucessos de bilheteira do cinema de terror japonês do que propriamente pela coragem da originalidade. O princípio é de baixa qualidade: uma detective (péssima actuação de Hitomi) à procura de um homem que entra nos sonhos das pessoas (Matsuda) para desvendar uma onda de suicídios durante o sono que tem vindo a percorrer Tokyo. O desenvolvimento, em termos narrativos, não nos prende. Se essa era a função de Nightmare Detective, então falhou. Porém, acreditamos que este filme nos consegue levar para a margem da narrativa insípida, e que só a contemplação dos seus segmentos finais nos podem reconciliar com o opúsculo de Tsukamoto.
Acabamos então por ver um filme bizarro. Comercial, no fundo, mas com pequenos rasgos de genialidade em momentos curtos mas eficazes. Este é outro "mudar de ares" falhado para Shinya, que acaba por chegar ao ponto de partida (com Vital o mesmo já se tinha passado) e cuja fórmula se esgota numa retórica insuficiente e bastante repisada: o tratamento massificado e sem graça do J-Horror. Na verdade, Nightmare Detective está sempre muito próximo de cair no abismo do total fracasso - e isso seria equivaler-se na mediocridade a filmes como Ringu de Nakata ou Ju-On de Shimizu. Porém, tal não sucede na totalidade, pois é justamente no momento em que a forma e a retórica comercial se vão dissolvendo, que entra aquilo que admiramos na obra do criador de Tetsuo: o terror de cair em si, a melancolia de se estar vivo sem uma razão que nos prenda e a vontade de nos aproximar gradualmente da morte, para darmos sentido à vida. Tudo isto, na recta final da película, acompanhada por uma estética do caos e do desespero. Poderíamos dizer que, por detrás da premissa curiosa mas fácil reside escondida a essência do nosso querido Humanista Furioso. E por esta mesma e única razão, este não é um filme totalmente dispensável, no entanto, continua sendo das piores coisas que Tsukamoto se aventurou.

Nota:2/5

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