segunda-feira, 27 de abril de 2009

Tokyo Sonata

Título Original: Tokyo Sonata
Título em Português: Tokyo Sonata
Realizado por: Kiyoshi Kurosawa
Actores: Teruyuki Kagawa, Kyoko Koizumi, Yu Koyanagi, Inowaki Kai, Haruka Igawa, Kanji Tsuda, Kazuya Kojima, Koji Yakusho
Data: 2008
País de Origem: Japão/Holanda/Hong-Kong
Duração: 119 min.
M/12Q
Cor, Som








Não é leviano afirmar que 2008 foi, sem dúvida, um dos melhores anos no que concerne o cinema japonês desta década a finalizar! Note-se: as obras-primas Achilles and the Tortoise de Takeshi Kitano, Still Walking de Hirokazu Koreeda e All Around Us de Ryosuke Hashigushi, uma nomeação americana fortuita com Departures de Yojiro Takita, e os esperados United Red Army de Koji Wakamatsu, Nanayo de Naomi Kawase e Love Exposure de Sion Sono! (para não falar do regresso de Hayao Miyazaki, Ponyo e obras mais coloridas como Fine totally Fine).

De uma ponta a outra (e sem grandes descobertas de novos talentos) o que imperou foram os regressos em forma daqueles cineastas que, ora estavam desaparecidos, ora tinham perdido vitalidade nas obras anteriores. Kiyoshi Kurosawa, é certo, enquadrar-se-ia mais na segunda categoria: os seus dois últimos filmes, Sakebi (2006) e Loft (2005) são dispersos, insípidos e repetitivos, com quase nada a acrescentar nessa verdadeira elegia desconstrutiva ao género cinematográfico que é toda a sua obra.
Este Tokyo Sonata apresenta-se como o culminar de um percurso que se maturava. Este é, verdadeiramente, o filme mais maduro de Kiyoshi, sendo também um dos mais difíceis de superar devido à temática. Kiyoshi Kurosawa abandona as problemáticas do "género" para entrar noutro problema. Como tratar ainda a temática da família sem tautologias? Sabe-se que, desde os anos 80 - com o "duo", Family Game de Yoshimitsu Morita e Crazy Family de Sogo Ishii - até hoje, o questionamento da família nipónica é um dos temas mais abordados por realizadores dos mais diversificados possível. Alguns exemplos seriam Visitor Q (2001) de Takashi Miike, Desert Moon (2001) de Shinji Aoyama, Noriko's Dinner Table (2005) de Sion Sono, e o genial Hanging Garden (2005) de Toshiaki Toyoda entre outros.
A câmara de Kiyoshi Kurosawa penetra num aparente pessimismo com pinceladas de humor negro para denunciar uma época de falsas imagens e autoridades ilusórias (social e paterna). Ryuhei Sasaki, pai de família, é despedido da sua empresa e finge trabalhar como qualquer respeitável cidadão, enganando toda a sua família para conseguir manter a sua autoridade. Se a sociedade como um todo não pode resolver todos os problemas (não resolvendo, em rigor, nenhum), são os indivíduos e os aglomerados familiares que tentam sobreviver, nas aparências de uma sociedade fria que silenciosamente os rejeita. Nessa hipocrisia verdadeiramente cruel (filmada em Tokyo Sonata como anedótica) tudo parece já não valer a pena. O filho mais velho alista-se no exército americano, abandonando o seu país sem futuro (vê-se pelo exemplo do pai, condenado às injustiças de uma sociedade que não dá respostas dos seus problemas). Ao filho mais novo não lhe é dado valor. E a mãe perde-se naquele sorriso hospitaleiro tão típico (lembram-se como acabava When a woman ascends the stairs de Mikio Naruse?), condenado aqui, a ser posto em causa.
A fórmula típica de individualmente minar cada um dos membros da família em situações extremas, que os levam a questionar a sua natureza enquanto agentes de um colectivo é usada, outra vez, em Tokyo Sonata, porém, sem grande relevância. O que salta aqui é o ambiente, o contexto discreto e temível (filmado de maneira tão subtil). Um abandono colectivo e abstracto, esquecido porque quotidiano, mas mais terrível por isso mesmo.
De facto, subjacente ao ridículo dos episódios dos personagens (muitas vezes, num tom risível e descontraído) está um horror enorme, uma espécie de falta de resposta, uma incomunicabilidade tão própria de Kiyoshi noutros seus trabalhos (Cure, Kairo ou Bright Future). Optando, porém, por um realismo comovente, o happy-end duvidoso é aquele sorriso discreto no meio da tristeza. Tokyo Sonata, por preferir como final um concerto de piano (que nada nos diz, senão sentindo), a uma revelação pretensiosa é uma genuína reinvenção do filme de família, um objecto cinematográfico de respeito.
Sem dúvida a obra-prima de Kiyoshi Kurosawa e , talvez, "o" filme de 2008.

Nota: 5/5

1 comentário:

pedro manuel magalhães de andrade disse...

no que diz respeito a tokyo sonata, tudo o que dele se diga, é muito pouco. os "talvez" nao lhe ficam bem. é o filme de 2008.