terça-feira, 4 de setembro de 2007

Dead or Alive: Final

Título Original: Dead or Alive: Final
Título em Português: Dead or Alive: Final
Realizado por: Takashi Miike
Actores: Sho Aikawa, Riki Takeuchi, Maria Chen, Richard Chen, Terence Yin, Jason Chu, Josie Ho, Tony Ho, Ken Ho
Data: 2002
País de Origem: Japão
Duração: 89 min.
M/16Q
Cor, Som









Quem já conhece bem, ou até razoavelmente bem a vasta obra de Takashi Miike, sabe, certamente, que o seu corpus se joga, quase exclusivamente, entre o besta e o bestial, o sublime (Big Bang Love Juvenile e Audition par example) e o disparatado (este Final de Dead or Alive, Full Metal Yakuza etc.), entre - em suma - o que são as raízes ainda de um profundo amadorismo - proveniente, quiçá, da sua formação "straight to video" - e essa mesma vontade (por vezes sucedida, por outras, assumidamente não desejada; sim, porque a questão encontra o seu eco na falta de vontade) de o superar. Ora, no final desta trilogia conspurcadora de qualquer filme de acção (ver o final sinistro de Dead or Alive: Hanzaisha ou toda a variação estilística em Dead or Alive 2: Tôbôsha é prova dessa ânsia de libertação daquilo a que, malformadamente, chamamos de género), Takashi Miike, desta feita, parece não querer tomar nenhum rumo inteligente, entregando-se, assim, a uma imatura estupidez (formal, estética, temática, qualquer uma que seja) já anteriormente vista em filmes pobres como Gokudô Sengokushi: Fudô (Fudoh: The New Generation) ou ainda o já referido (pelas piores razões) Full Metal Gokudô (Full Metal Yakuza).
Quais as razões então, para um filme como este se distanciar tanto da genialidade amadora dos dois anteriores capítulos? Sim, até porque poderiamos pensar que bastava fazer qualquer coisa de rebelde (algo, porventura, parecido com o final da primeira instalação) para voltarmos a categorizar este filme como algo Dadaísta, algo intimamente ligado a um meta-cinema (poderia mesmo esta trilogia da superficialidade ser uma obra digna de intelectualismos?) onde a estrutura e a incoêrencia do filme é o filme, e tudo o resto é apagado, ou pior, é usado para troçar, para frustrar o espectador. Takashi, por acaso (e por acaso não!) faz algo semelhante ao final de Hanzaisha, nesta terceira instalação, provando (e reprovando) que lhe vacilam já as suas ideias, anteriormente (e ainda) dignas de um estudo rigoroso (pois, o intelectualismo aplica-se aos dois outros capítulos). De facto, foi só pelo nome de uma trilogia que Miike volta a produzir aquilo que já tinha feito em Hanzaisha, pondo aqui exclusivamente diferenças em termos do "plot" (a narrativa passa-se num mundo futurista pós-apocaliptico), fazendo deste modo, várias alusões desnecessárias (desnecessárias, porque apenas visionamos Dead or Alive pela sua estrutura interna e pelo seu simbolismo externo, todas estas "mariquices" se nos afiguram excessivas e, por consequente, repetitivas) a filmes míticos de ficção científica como Blade Runner, Exterminador ou até mesmo The Matrix. A mesma fórmula é mantida: apenas os actores Riki Takeuchi e Sho Aikawa permanecem numa trilogia que nada deve a uma continuação narrativa (as histórias de episódio para episódio são diferentes em tudo e os personagens também).
Assim, numa confusão a todos os níveis: a narrativa que, agora se queria indispensável - com reflexões sobre o ser-humano e tudo! - , no final volta a uma incoêrencia avassaladora, com personagens despegados daquilo que eram (e deveriam ter sido) no princípio, com revelações idiotas, mal pensadas e mal executadas (o dramalhão à volta do personagem de Riki Takeuchi é de um academismo extremo), e com piadas e truques, agora, definitivamente, sem graça, num final que resgata aquela cena inesquecível de Tetsuo: The Iron Man e se auto-destrói, assumindo-se como falhanço, na impossibilidade de saber onde a narrativa pretenciosa devia ter ido (ou devia mesmo ter parado).
É na tentativa de reconciliar algo (e reconciliar, logo aqui, é renegar o extremismo e o isolamento cinematográfico dos dois anteriores capítulos) que Final se perde num falso radicalismo formal (a última cena não é provocatória, é - tendo em conta a primeira abordagem que o filme toma - apenas estúpida) e demonstra um exemplo daqueles filmes que, antes de serem feitos - o cenário futurista é excusado, de ínicio, entre outras coisas - nunca poderiam ser bons. Takashi Miike - que repudia verdadeiras sequelas - acaba, sem ele próprio querer ou aperceber, em suma, por traçar a mesma linha das grandes super-produções, isto é, continuar o incontinuável: exceder, abusar e manchar o seu próprio legado.

Nota: 1/5

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