quinta-feira, 19 de abril de 2007

28 Days Later

Título Original: 28 Days Later
Título Português: 28 Dias Depois
Realizado por: Danny Boyle
Actores: Cillian Murphy, Naomie Harris, Brendan Gleeson, Christopher Eccleston, Megan Burns
Data: 2002
País de Origem: Inglaterra
Duração: 113 mins
M/18
Cor e Som









Se existe algum género de filmes "não convencionais" que já foi explorado até à exaustão esse género seria o survival horror com mortos-vivos, ou pelo menos com terror canibalista. Resident Evil, Dawn of the Dead, Night Of The Living Dead, Evil Dead, Silent Hill, Doom, The Hills Have Eyes, são apenas alguns dos nomes que agora me vêm à memória, uns piores outros melhores. Após ter visto 28 Days Later apercebi-me que afinal este género não tinha sido explorado até à exaustão. Pelo contrário, a forma como Danny Boyle (Trainspotting, Sunshine) nos apresenta este já conhecido enredo é tão original que nos leva a pensar que não faz sentido classificar filmes por géneros, ou antes, devemos dar aos filmes a oportunidade de se expandirem até onde bem entenderem. Não falo de extremos como David Lynch, mas de trabalhos originais como Revolver ou Ocean's Twelve. Isto porque a premissa de epidemia que infecta toda a Grã-Bretanha deixando poucos sobreviventes é apenas um cenário para nos apresentar um complexo drama existencial.
Em traços largos: uma avançada estirpe do vírus da raiva é solta quando um grupo de activistas invade um laboratório para soltar os chimpanzés hospedeiros da doença, que estava a ser estudada na esperança de ser descoberta uma cura. Os chimpanzés são soltos. Seguidamente o écran fica todo preto e no canto aparece a dizer "28 dias depois". Então, 28 dias depois disto ter acontecido, Jim (Cillian Murphy) acorda num hospital. Rapidamente se depara com um cenário desértico em plena Londres. A cidade está intacta mas não existe absolutamente nenhuma actividade. Jim não sabe o que se passa mas acaba por encontrar dois sobreviventes aos quais se junta que lhe contam aquilo que aconteceu. Podemos dividir 28 Days Later em três partes completamente diferentes. Tão diferentes que cada uma delas poderia existir sem as outras. A primeira parte apresenta-nos uma atmosfera algo tensa, triste, onde o sentimento predominante é a devastação psicológica e o desespero. A segunda parte é exactamente o oposto. Somos confrontados com belissimas paisagens naturais, desenvolvem-se amizades e a ausência de terror leva-nos faz-nos pensar como este filme é excepcional. Como é que se passa de um clima apocaliptico pesadíssimo para um de alegria e esperança onde não existe mal? Observamos então como reagiria um pequeno grupo de pessoas unidas para atingir um único objectivo: a salvação, cada uma mais humilde que a outra. Na terceira parte vemos o que acontece quando esse grupo aumenta e os elementos do grupo perseguem objectivos diferentes. Não falo em maus da fita, porque em 28 Dias Depois isso não existe, apenas de atitudes desesperadas de homens sem esperança. A tensão presente nesta última parte é tão complexa e perfeita que acaba por se tornar numa das melhores sequências do cinema recente.
O melhor de 28 Dias Depois é no entanto a realização. Danny Boyle usa imagens fantásticas que por vezes até parecem quadros, seja em cenários urbanos, vastos prados verdejantes com moinhos de vento, florestas no meio de uma tempestade ou mansões de arquitectura do século XIX, igrejas ou vivendas. Em 28 Dias Depois não existe aquele ambiente escuro típico, antes pelo contrário. Aliás nem podemos considerar este um filme de terror. Os infectados que perseguem os sobreviventes nem são sequer o tema principal do filme, mas apenas um dos ingredientes. A banda sonora original é também das melhores de que me recordo. Vai desde alegres cantos corais e música clássica a músicas psicadélicas e um rock experimental, assentando na perfeição nas cenas em que foram inseridas. A banda sonora é talvez o ponto mais forte dos pontos mais fortes do filme. As interpretações são todas muito boas. Destaca-se a de Cillian Murphy, na altura um actor algo inexperiente e Megan Burns, uma actriz na altura de 16 anos que nunca havia feito um filme na vida e surpreendentemente continua sem o fazer desde 28 Dias Depois.
28 Days Later apresenta-nos um filme de visão apocaliptica onde o ser humano é o principal objecto de análise, aliás pensem apenas nos infectados ou zombies como um acessório para esta magnifica história. Excelente fotografia, excelente banda sonora, excelente tudo, original em todas as vertentes sem excepção. A única coisa que poderia estar melhor e que salta à vista é a actuação de Naomie Harris como Selena. A seguir às obras de Fincher este é sem dúvida o meu thriller favorito, onde não falta nada e deve ser visto por toda a gente amante do bom thriller. Mas com estes infectados é sem dúvida preciso ter muito estômago. Não se deixem iludir pelo seu póster ou pela sua aparente premissa, 28 Days Later é muito mais que isso. Como disse no inicio, um drama existencial perfeito na pele do ignorante Jim.

Nota: 5/5

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