domingo, 19 de outubro de 2008

Versus

Título Original: Versus
Título em Português: Versus: A ressurreição
Realizado por:
Ryuhei Kitamura
Actores:
Tak Sakaguchi, Hideo Sakaki, Chieko Misaka
Data:
2000
País de Origem: Japão

Duração:
116 min.
M/18

Cor, Som










Na procura incessante por novas matrizes narrativas e formais, o cinema japonês do princípio do milénio afigura-se completamente separado das aspirações políticas da velha geração de 60 (Oshima, Imamura, Yoshida et al.).
Ora dilacerado por uma componente mais intimista e solipsista do dito “cinema de autor” (cineastas como Kawase, Koreeda, Suwa, Aoyama etc.), ora categorizado pela irreverência e originalidade dentro do sistema dos “filmes de género” (exemplo de Miike e Kitamura: o que iremos tratar a seguir), o cinema japonês contemporâneo é incerto quanto à sua orientação global e desorganizado quanto à sua coerência interna.
Versus de Ryuhei Kitamura revela-se um confronto às sensibilidades de qualquer espectador, preparado ou não. Não do ponto de vista visceral de Ichi the Killer, note-se, em que o barroco do gore e do kitsch sangrento enchem as medidas de qualquer adorador do bizarro, mas que a sua estrutura narrativa é inexistente. Imagine-se um filme “série-B” em que os já rarefeitos artifícios dramáticos são suspensos de modo a cada segundo ser puramente gratuito na sua concretização. Kitamura assassina o destino do filme-sequência, isto é, o esquema formal duma cena se deduzir a outra e assim sucessivamente. É à deriva que os seus personagens autómatos reagem, e é no escuro que o espectador tenta lapidar um significado.
Absurdas são as constantes e repetitivas batalhas ad infinitum, com mortes e ressurreições programadas numa irrealidade tão estranha como qualquer delírio. Aqui estamos no domínio do “puro entretenimento”, dando à componente “trash” um significado coerente à filosofia do quanto pior, melhor. Talvez, assim, a gratuitidade de Versus venha a propósito num panorama em que já nada serve, senão a recusa da própria lógica, para distrair um espectador cansado, expectante por algo de inteiramente novo.
Será, afinal, a surpresa e a originalidade a quintessência em Versus? Será nessa revelação da estrutura artificial e mentirosa do filme de acção que poderá residir uma experiência absolutamente nova? Se considerarmos entretenimento como essa forma de nos evadirmos do mundo real, da maneira mais selvagem possível, a experiência iconoclasta de Versus não é mais do que uma desrealização, das regras inerentes ao cinema e não só. Há falta de modelos formais e narrativos, a negação (a apologia do vazio) parece ser a escolha apropriada para um filme apoiado no seu próprio paradoxo e espelhando, sem ele próprio saber, a sua época e mentalidade. Cabe mais uma vez a quem vê decidir o desenlace e emitir o seu juízo.

Nota: 3/5

Outras Notas:
Pedro Mourão-Ferreira: 3/5

1 comentário:

Anónimo disse...

bahhhh Kitamura, faz-te à vidinha.......


Se tens mais de 18 anos e não sabes o que fazer, junta-te ao gang anti-kitamura!

:)