terça-feira, 24 de julho de 2007

19

Título Original: 19
Título em Português: 19
Realizado por: Kazushi Watanabe
Actores: Kazushi Watanabe, Daijiro Kawaoka, Takeo Noro, Ryo Shinmyo, Masashi Endô, Nachi Nozawa
Data: 2000
País de Origem: Japão
Duração: 83 min.
M/12Q
Cor, Som









Há uma noção crítica dominante acerca de 19 que peca por defeito, pois reduz injustamente um tipo de cinema que nasce dos pequenos pormenores enquadrando-o num estilo mais familiar ao público ocidental. Evocando o mutismo estilista de Takeshi Kitano e rotulando-o neste 19 - primeiro, e até agora único, filme de Kazushi Watanabe, o infame visitante em Bijitâ Q (Visitor Q) - a crítica esperava fornecer referênciais a um público pouco informado sobre este tal cinema. Só que, antes pelo contrário - e recordando os efeitos discriminatórios de qualquer informação - a presente comparação fácil (a de empacotar o grafismo kitanesco com o estilismo semelhante de Watanabe) é injusta para com este filme belo. É certo que existem pontos que colidem numa e noutra obra, para além do carácter mudo, no qual as palavras são substituídas por imagens, igualmente se assume a fuga dos indivíduos da urbanidade procurando refúgio ora num ambiente tranquilo ora na sua própria marginalidade, essa marcada quase sempre por uma inocência que nos relembram uma espécie de infância perdida.
Porventura, a obra de Watanabe, road-movie episodicamente disperso, nunca deve ser tomada como uma "cópia" da estilistica de filmes como 3-4xJuugatsu (Boiling Point), Sonatine etc, isso seria reduzir o filme a género, seria generalizar percepções semelhantes da realidade de dois autores separados unicamente pelo tempo. Mas voltemos a 19, e deixemos Kitano, que, sendo na actualidade um autor consagrado no Ocidente, parece haver por parte dos críticos um rotulador "isto é inspirado em..." sempre pronto a usar - nascido, quiçá, para fins aliciantes ao consumo dos que já gostavam.
19 inicia-se numa sequência extraordinária imprimida pela sua serenidade, acompanhada por acordos fabulosos de guitarra elétrica, onde três sujeitos num carro de aspecto duvidoso, ao perguntar a um rapaz uma informação, o raptam. A pouco e pouco, e à medida que o filme avança, o garoto vai conhecendo o pitoresco gang: um cego e aparente mudo (pois não balbucia uma única palavra em todo o filme), um motorista que dá tiradas filosóficas e o chefe (interpretado brilhantemente pelo próprio Kazushi) cuja inteligência parece ser a mais avulsa, à primeira vista. Os "gags" são pontuais, e as inquietações, diálogos (pouquíssimos, mas óptimos), e comportamentos são de um interesse fora de série. A narrativa parece não querer ir a lado algum. Ás tantas, não sabemos bem o que pretende 19, um filme que nada tem de moral (os marginais vão às compras, roubando) e muito menos de presunçoso. É por esta mesma característica - este carácter mendicante, saltando do mais aspecto mundano para a caricatura cómica - que 19 se afigura como uma revelação; tanto na perícia de Watanabe para a realização (planos verdadeiramente magníficos, cores e ambientes enublados, cinzas tristes) como na simples, mas suficiente, narrativa baseada na entrada e saída, quebra da rotina, de um jovem normal num grupo de resistentes à lei, em suma, à sociedade.

Nota: 3/5

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