sábado, 8 de novembro de 2008

A Arte de Roubar

Titulo Original: A Arte de Roubar
Titulo Português: A Arte de Roubar
Realizado por: Leonel Vieira
Actores: Ivo Canelas, Henrique Arce, Nicolau Breyner, Flora Martinez, Aldo Lima, Soraia Chaves, Miguel Borges, Rulo Pardo, Marco Horácio, Pedro Tochas
Data: 2008
País de Origem: Portugal
Duração: 110 mins
M/12Q
Cor e Som





É fácil dizer mal de um filme que se assemelha tanto, e pelo qual tão negativamente foi criticado, a Tarantino e Rodriguez. A Arte de Roubar não é plágio nem cópia farsulenta, é antes um tributo e um desfilar de referências e clichés que devem ser vistas de barriga cheia. Este não é um filme revolucionário, espreita o internacional é certo, mas o próprio inglês em que este filme português é falado acaba por ser essencial para esse tributo. Mas inglês para tributo ou para comércio, fica a dúvida, mas também não se lhe deve apontar o dedo. O cinema português não vive do ar como muitos parecem julgar acusando o já falecido João César Monteiro ou o quase falecido Manoel de Oliveira de realizar "porcaria" com financiamentos estaduais, principalmente o primeiro que nem imagens apresenta. Assim se Leonel Vieira pôs Ivo Canelas e Nicolau Breyner a falar inglês fê-lo muito bem, afinal cá não temos Hollywoods nem Bollywoods.
Pessoalmente, e apesar das referências óbvias a Tarantino e Rodriguez, não nos ficamos por aí. Existe um grande toque de irmãos Coen. As personagens desajeitadas e incompetentes, e sobretudo as caras, expressoes ridiculas à la Coen (veja-se Burn After Reading). E mais que estes todos, a meu ver o filme inspiração da Arte de Roubar foi mesmo Lock Stock and Two Smokin Barrels, a obra prima de Guy Ritchie que quase a papel químico traduz a situação dos ladróes mas só de nome, interpretados por Ivo Canelas e Henrique Arce, cuja acção funciona a base de estilo. É muito giro.
Agora do filme propriamente dito, funciona, tal como as anteriores referências, de situações cómicas, muitas vezes despropositadas, mas que estão requintadamente inseridas. Até tem o seu toque de nonsense quando um grupo de anões mafiosos persegue os dois anti-heróis em câmara lenta, entre outras situações do género. A cena da tourada, o homem que é enterrado, enfim vários elementos que tornam A Arte de Roubar o já referido tributo ao género. E palmas para Leonel Vieira por esta comédia negra, que não hesitou em ir buscar caras conhecidas do público português como Marco Horácio, Pedro Tochas, Aldo Lima e até alguns nomes dos aplaudidos "Malucos do Riso" para personagens secundárias intrinsecamente cómicas que inevitavelmente enchem o olho do espectador, tal como (e mais uma referência) Ocean's Twelve fez com Julia Roberts, Bruce Willis, Clooney ou Brad Pitt. E isto só prova que A Arte de Roubar não tem vergonha de Portugal, como Luís Miguel Oliveira tão prontamente afirma à boca cheia na sua critica no cinecartaz ou Público. Há que ver as dimensões, intenções e contornos do que rodeia o cinema português, o cinema português comercial, e ainda mais particularmente o cinema português que quer ser visto e não consegue e tenta com todos os pouos meios de que dispõe ser reconhecido, no mínimo visto fora de Portugal.
Não posso, e terminando, deixar de referir a banda sonora não original autorizada por Paulo Furtado como Legendary Tigerman e lider dos Wraygunn, e pelos Dead Combo, que ainda mais atmosfera trouxe ao filme, e em jeito de redundância, Tarantino fez com a sua Misirlou em Pulp Fiction.

Nota:

Outras Notas:
RMC:

18 comentários:

Rmc disse...

Mais do que um tributo, Arte de Roubar, é algo que Julian Richards já Fizera em Inglaterra, Guillermo del Toro em Espanha, e Luc Besson em França: Uma adaptação de um género clássico americano à cultura nacional! Leonel Vieira fá-lo em jeito de tributo, reproduzindo de forma quase igual cenas que marcaram a história do cinema do género, de filmes como Reservoir Dogs, Pulp Fiction Death Proof e Four Rooms (Quentin Tarantino) tambem de Dezperados, Once Upon a Time in Mexico e Planet Terror (Robert Rodriguez), Snatch (Guy Ritchie), Fargo e Burn After Reading(Joel e Ethan Coen), e ainda duas corajosas incursões como são caso de Curdled (Reb Braddock)e Nueve Reinas (Fabián Bielinsky). Todos estes títulos estão em Arte de Roubar, tal como encontra-mos dezenas de outros títulos e realizadores(John Carpenter, Dario Argento etc) nos filmes tributo que compõem o Grindhouse de Tarantino e Rodriguez.
A lingua inglesa é um complemento necessário, e a pronuncia tosca e por vezes errónea não é mais do que a reafirmação de que Arte de Roubar é totalmente nacional, de tal forma que até o Inglês é falado à portuguesa.
Este filme revela-se assim como documento único no género em Portugal! Uma experiência bem sucedida que não procura o brilhantismo mas tem a coragem de ambicionar algo mais do que se juntar a tantos outros títulos nacionais incompreendidos que se vão acumulando nos escaparates.

OMal disse...

Epá, estava mesmo a precisar disto. Não se esqueçam que o meu guião foi escrito em 2003.

abraços

David Bernardino disse...

boas noites caro OMal, poderia identificar-se? seria um grande acaso tratar-se dum dos argumentistas d'A Arte de Roubar!

Cumprimentos

Anónimo disse...

A banda sonora é realmente muito boa. Não esquecer também The Soaked Lamb e Dead Combo, por exemplo.

Rmc disse...

Se o comentário anterior com a assinatura de "omal" fôr do argumentista João Quadros como nós levemente desconfiamos. Esta nova informação de o argumento ter sido escrito em 2003, é bastante relevante na medida em que anula a influência de alguns títulos como nós proclamámos. Contudo do ponto de vista visual e mesmo do enredo, as referencias dos cineastas referidos são marcadas, e imprimem ao filme alguma da mística que ele transpira!
E se o nosso palpite estiver certo deixo desde já o nosso cumprimento com satisfação pela visita a este blog!E os parabens pelo belo trabalho em Arte de Roubar!
Abraços!

OMal disse...

Sou o João Quadros, sim senhor, e um abraço para todos. o guião foi escrito no final de 2002, início de 2003 e venceu o concurso do ICAM em 2003, na altura com o nome Naturezas Mortas

OMal disse...

E obrigado pelo vosso blog, para mim é um ponto de referência.
Joao Quadros

Anónimo disse...

Eu é que sou o João Quadros.

OMal disse...

Não, Tu és parvo.

VirtualFM disse...

Viva!

Só quero dizer que estou muito satisfeito em ler comentários deste calibre, aqui e noutros blogues e foruns. Isto porque se me aperta o coração qunado leio as críticas "oficiais" ao "Arte de Roubar"... É que simplesmente... não as entendo! Andaram anos e anos a queixar-se que o Cinema PortuguÊs não avançava, que a qualidade é isto e aquilo, que são filmes lentos, apenas cinema de Autor ou armados em intelectuais. Finalmente um filme bem feito, com uma editçã/montagem rápida (ao invés de planos de 5 minutos com dois gajos a andar num longo caminho, câmara parada, vindo eles desde o horizonte, devagarinho, até passar pelo campo de visão da câmara), com humor e acção a rodos, com efeitos sonoros decentes e cuidado em toda a produção de som (e finlamente com diálogos que se ouvem, não como na maioria dos filmes Portugueses onde o som é tão mau que eu desejo ardentemente que hajam legendas para conseguir perceber o que dizem), com música suficientemente boa para se poder finalmente querer ter uma banda sonora de um filme Português e, modéstia à parte, com efeitos especiais que não envergonham. Em suma, um filme divertido e bem disposto.

E sim, é ao estilo de Tarantino e irmãos Cohen... Mas não vejo onde está a razão de crítica porque:
a) o Leonel Vieira sempre se confessou fã
b) o Leonel Vieira disse por várias vezes que queria fazer um filme dentro deste estilo
c) finalmente, há qualidade suficiente para que um realizador se compare ao Cinema "lá de fora", e logo com Tarantino! Logo, nºao vejo qual a razão de crítica!

Criticável seria se fosse comparável ao Uwe Boll, ou a um "filme do Steven Seagal/Van Damme".

Pior, li críticas em que diziam que era um "ripoff"... Ora, o facto de ser dentro do mesmo estilo não quer dizer que seja um ripoff. A cena da tourada é bem original e a do bar tb está muito bem. Se isto é ripoff, parem já de fazer todas aquelas comédias românticas que se têm feito! E pare-se já de cantar o Fado, que aquilo é tudo um "ripoff" de alguma coisa cantada pela Amália Rodrigues!

Agora é mau porque é comparável ao Tarantino! Então que venham mais filmes conparáveis aos filems do Spielberg/Cameron/Ridley Scott! Que se faça "O Resgate do Soldado Zé Manel" e que seja tão bom!

PS para o João Quadros e para quem quiser ler: Sou o Fernando Martins. Trabalhei no filme o triplo do previsto pelo mesmo preço. Esforcei-me ao máximo, trabalhando uma média de 18 horas por dia durante semanas seguidas. Porquê? Porque li o teu guião - versão extensa que daria para pelo menos 3 horas de filme, com vários flashbacks - e enquanto lia, além de me rir à brava pensava: "Espectacular, é tal e qual como os filmes do Tarantino!" e POR ISSO MESMO e por ter gostado tanto é que investi tanto nele. Portanto, se toda a gente vê que isto é como um filme do Tarantino, melhor! Objectivo cumprido!

Anónimo disse...

deixem-se de tretas o filme é uma merda. É uma cópia barata e de homenagem não tem. O Leonel Vieira só faz plágios e para pior.

Brunorix disse...

Exactamente por tudo o que o filme abertamente sugere (leia-se tarantinos, rodriguez e outros que tais)é que o achei EXCELENTE!!

Leonel & Companhia, se possível façam mais! Fui ver sem saber ao que ia e adorei!

OMal disse...

E tu acreditas tanto na tua crítica e tens tanto orgulho nela que assinas, anónimo.

OMal disse...

Peço desculpa ao dono do blog e um grande abraço para o ultratalentoso Fernando Martins.

Anónimo disse...

Fui ver a “Arte de Roubar”, apesar de não ter muito o hábito de ver filmes portugueses, não tenho nada contra estes, mas não faço fretes.
Fui ver o filme por causa da história ser do João Quadros, cujo trabalho sigo desde o início e à distância. Reconheço-lhe o mérito de já me ter feito muito rir e a coragem de não esconder as angústias de um humorista em Portugal.
Tinha lido as críticas, e penitencio-me por isso. Perdi uns preciosos minutos iniciais do filme a comparar aquilo que via, com aquilo que tinha sido escrito por quem nada tinha feito.
Não durou, graças a Deus!
Entrei no ritmo, afeiçoei-me às personagens, adorei os ambientes e a banda sonora, e isso, vejam lá, apesar de conhecer sobejamente as ditas referências cinematográficas, não achei que fosse um pastiche. Gostei! A sério, gostei mesmo.
Posso dizer que não éramos muitos na sala (sessão da tarde), mas à saída, notei essa satisfação nos restantes espectadores, “a modos que” uma espécie de cumplicidade.
Já vos disse que gostei do filme, e mais uma vez, o João Quadros não me decepcionou.
Para as sumidades da crítica, este filme e, é claro, o meu texto de mera espectadora, não passarão de um somatório de clichés.
Que se lixe!
Parabéns a toda a equipa, que para mim, fez um filme notável naquilo que o cinema tem de entretenimento, e é isso que fará com que eu compre o próximo bilhete de cinema – dinheiro esse, que pelos vistos, consegue sustentar os críticos mas já não os guionistas.
Parabéns João.

OMal disse...

mais uma vez peço desculpa...mas era só para dizer...Obrigado, Amélia.

Anónimo disse...

Sim, o filme é inspirado em outros filmes, outros ambientes, outros realizadores (não o são 90% dos filmes - mesmo dos bons - que vemos? Um guionista e um realizador não vivem numa caverna sem contacto com o exterior). E então? Está bem feito e dá-nos muito prazer ver. Não é também para isto que serve um filme? Não só é um tempo bem passado no cinema, como é uma esperança de poder acontecer cinema deste em Portugal.

Até o próximo

Teresa Leal

VirtualFM disse...

"ultratalentoso"?! Elá! Nunca ninguém me tinha chamado um nome tão comprido!

PS: Obrigado e retribuo o abraço!