domingo, 7 de outubro de 2007

Tsigoineruwaizen

Título Original: Tsigoineruwaizen
Título em Português: Zigeunerweisen
Realizado por: Seijun Suzuki
Actores: Yoshio Harada, Naoko Otani, Toshiya Fujita, Michiyo Ookusu, Kisako Makishi, Yuki Furutachi, Kirin Kiki, Akaji Maro, Hatsuo Yamatani
Data: 1980
País de Origem: Japão
Duração: 144 min.
M/16Q
Cor, Som











Não há nenhum filme como este. Talvez só dois outros se aproximem na originalidade e na estilística finamente estudada do horror como claustrofobia asfixiante: Kagero-za de 1981, e Yumeji de 1991. Sendo que estes dois pertencem (mais este Zigeunerweisen) à trilogia Taisho, obra-completa e o regresso em força do iconoclasta Seijun Suzuki à realização após o torcidado Koroshi no Rakunin (Branded to Kill, aqui já criticado), podemos já delinear a partir desta referência um isolamento fílmico como jamais existiu no cinema. É ponto acente, pois, que esta trilogia é algo nunca antes feito, e só o seu visionamento comparado o pode realmente provar. A história, que joga com o inexplicável e se reconstrói numa parábola surrealista, inspirada grandemente no folclore japonês, onde a um erotismo abrasador se intrinca a bizarra relação entre dois amigos (ou estranhos?) é espaço de manobra, é pretexto, para o famigerado e infame criador desenvolver em crescente um cinema profundamente surreal que parecia ter-se estancado em Branded to Kill. Este Zigeunerweisen é o cume do corpus artístico de Seijun: um filme de terror que, afinal, é um filme-arte que toma a ambiguidade como norma à qual é-nos impossível ultrapassar (como explicar uma história prepositadamente imperceptível?) e vai evoluindo deformadamente, com um rigor estético fora do alcance (a atmosfera é única na sua tenebrosidade) até fazer o próprio espectador entrar no sonho exótico e nos ambientes oníricos de um Japão filmado como assombro de princípio do século XX.
Podemos afirmar a existência de um estudo sério e extensivo no que concerne os motivos do terror: Zigeunerweisen é o mais brilhante pois não usa, em circunstância alguma, o susto repentino como forma de semear o medo, antes prefere sufocar lentamente o espectador com acontecimentos dispersos que se unem num clima final homogeneizado, uno na sua autenticidade. Nunca o Japão fora tão originalmente captado pela sua verdadeira e actual essência: de um lado o frágil tradicionalismo e de outro o modernismo que se quer impor como regra nova, como hábito.
Talvez seja por isso que à imperceptibilidade e negação de causalidade para justificar os efeitos haja, no final de contas, uma significância relevante da narrativa em forma de rascunho rabiscado. Os dois personagens são, talvez, a representação alegórica desta realidade em planos distintos: um, a faceta tradicional (até mesmo pelo modo de se vestirem esta evidência ressalta) e outra moderna - esta ganhando cada vez mais espaço, engolindo o epicentro e as atenções da história facticamente errónea. Até o desdobramento em dois da figura feminina nos faz, talvez, repensar o conflito pessoal e pessoalizante, a perda de identidade colectiva? Esta constante transfiguração piramidal - filme de terror, que era filme arte, mas que é sobretudo filme-parábola - é própria de um autor que afirma o seu carácter desolador e iconoclasta de uma forma bastante menos directa daquela de Branded to Kill (onde, como se sabe se apagava o lugar-comum e se reduzia tudo a essência, que no caso dos filmes gangsters, é nenhuma).
Este, assim, é o último grande suspiro original e criativo de Suzuki, sendo que no futuro, para o bem e para o mal, nos seus outros filmes já não se consegue, até mesmo com todos os meios ao seu dispor (Pistol Opera é o melhor exemplo dessa prisão redundante que o trabalho de Suzuki doravante se torna) romper com este marco cinematográfico esquecido e que, requer, por conseguinte, mais atenção.

Nota:

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