domingo, 5 de fevereiro de 2012

Kynodontas

Título Original: Kynodontas
Título Português: Canino

Realizado por:
Giorgos Lanthimos
Actores:
Christos Passalis, Ageliki Papoulia, Mary Tsoni, Michelle Valley, Christos Stergioglou, Anna Kalaitzidou
Data:
2009
País de
Origem: Grécia
Duração:
94 mins
M/18

Cor e Som








Nunca me aventurei muito pelo cinema grego, reconhecendo todavia que se produziram e ainda produzem filmes de muito boa qualidade. Não sei se Canino é um desses casos, mas não restam dúvidas de que é tão inesquecível quanto perturbador. Kynodontas – Canino na tradução portuguesa – conta a história de uma família sui generis com três filhos e que vive numa zona limítrofe de uma cidade, numa casa isolada.

Conhecemos o filho(Christos Passalis) e as duas filhas (Aggeliki Papoulia e Mary Tsoni) criados a pulso firme pela mãe (Michelle Valley) e pelo pai (Christos Stergioglou), nunca podendo sair dos limites da propriedade. Em volta da casa há uma cerca muito alta para lá da qual nunca nenhum dos três filhos passou, sendo que nunca nenhum deles mantém qualquer contacto com o exterior. A educação é-lhes dada única e exclusivamente pelos pais, sem qualquer influência de terceiros e consequentemente do mundo lá fora. Na verdade, o pai é o único que visita o mundo exterior, contando-lhes barbaridades sobre coisas que acontecem na rua, como o caso de gatos assassinos ou até mesmo o simples facto de ser impossível andar sem a protecção de um automóvel. Assim, desprovidos de qualquer meio de comunicação – TV, telefone ou Internet, os três filhos vivem uma vida tranquila e sem preocupações. Nunca experimentaram nada do exterior e portanto nada lhes pode fazer falta. O único elo de ligação – e ainda assim esporádico – entre a família e outras pessoas é a segurança Christina (Anna Kalaitzidou), que é paga pelo patriarca para saciar os ímpetos sexuais do filho. Mas isso acabará no momento em que “as crianças” começarem a colocar questões que já não fazem qualquer sentido no mundo a que estão confinadas. É Christina quem vem causar problemas ao quotidiano da família e fazer com que nada mais seja o mesmo dentro daquela casa.

Ao longo o filme não chegamos a perceber o que levaria os pais a vedarem assim o mundo aqueles jovens. Muito menos se percebe se, na verdade, os jovens serão filhos daquele casal. As interpretações são as mais variadas. O que na realidade podemos entender do filme é que uma doença tão grave quanto a que acomete pai e mãe pode ser totalmente ignorada, caso ninguém por perto perceba a estranheza do que acontece. Ou que o ser humano aceita qualquer realidade que lhe é colocada à frente. Para isso chega usar o correcto condicionamento. Pode desgostar-se de Canino, achá-lo absolutamente desconcertante e pensar que as personagens são do mais doentio que pode existir, mas não é isso o que realmente importa. A originalidade e surpresa das cenas a que assistimos é tanta que não será fácil ao espectador apagá-las da memória. E isto porque se por um lado é impossível não rir de cenas que se sucedem naquele mundo tão nonsense, por outro a crueldade imposta aos filhos, por aqueles pais absurdos, leva-nos a ter de tapar os olhos.

Giorgos Lanthimos prende-nos a atenção do princípio ao fim, ainda que inicialmente a narrativa corra um pouco lenta, mas a partir do momento que começamos a entender as engrenagens do trama, a curiosidade aumenta e o filme traduz-se numa sequela de cenas muito bem filmadas e enquadradas de uma maneira tão distorcida quanto as próprias personagens. Canino não será certamente um filme para um serão em família, procurando antes fazer-nos pensar e discutir sobre as atitudes do ser humano. Não é um filme para entreter, é antes uma experiência assaz estranha, nada fácil de digerir e onde se leva ao extremos os efeitos nefastos que uma educação severa e limitadora pode provocar numa família.


Nota: 3/5

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