quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Taiyo o Nusunda Otoko

Título Original: Taiyo o nusunda otoko
Título em Português: The Man Who Stole the Sun
Realizado por: Kazuhiko Hasegawa
Actores: Kenji Sawada, Bunta Sugawara, Kimiko Ikegami, Yunosuke Ito, Kazuo Kitamura, Hosei Komatsu, Yutaka Mizutani, Kiyoshi Kurosawa, Kei Sato
Data: 1979
País de Origem: Japão
Duração: 147 min.
M/16
Cor, Som










E foi assim que em 1979 Kazuhiko Hasegawa revia a História Global na criação de uma obra que, a princípio, parecia ser inútil e incómoda, enfim, repleta de uma simbologia e divisas enigmáticas, melhor dizendo, incompreensíveis, numa Era politicamente complexa como tinham sido os anos da Guerra Fria. Com este The Man Who Stole the Sun, Hasegawa remete-nos para aquele diálogo cinemático longínquo no qual Godzilla, em 1954, era o epítome e o produto das perdas e dos medos japoneses das explosões em Hiroxima e Nagasáqui. Ou seja, pretende-se usar e transmutar - tanto aqui, como no caso de Ishiro Honda e seu monstro criado pela radioactividade nuclear - a ficção científica como palco de horror extremado de uma elevada verosimilhança da historicidade (quer seja esta última baseada no passado, presente ou futuro). Logo, podemos dizer que o que se almeja aqui é obviamente a criação de uma narrativa com contornos e implicações históricas, mascarando-se e infundando-se numa peça niilista que usa e abusa dos géneros cinematográficos (será The Man Who Stole um drama, thriler policial ou filme de acção made in Hong-Kong?) para apenas ironizar (tal como o inteligente Kubrick de Dr. Strangelove) uma película que se quer, no presente, como pérola incompreendida e bizarra, desejosa de ser descoberta num futuro próximo por algum cinéfilo-arqueólogo (sim, porque há filmes que têm vontade própria e querem ser desenterrados da obscuridade!)
Se não fosse isto verdade, como justificar - à luz do racionalismo e da lógica ocidental - o plot? Makoto "Bublegum" Kido, professor pitoresco de ensino secundário, depois de roubar plutónio de uma fábrica nuclear (tal e qual como o Prometeu do Mito que rouba o fogo aos Deuses) passa os seus dias na cozinha, a preparar uma Bomba Atómica caseira. Depois de preparada chantageia o Governo com propostas curiosas (uma delas é pedir que não interrompam os jogos de Baseball, com noticiários, senão o mundo explode) até ele próprio ficar sem coisas para pedir. No meio da narrativa absurda, no qual o indivíduo se reclama mais forte do que uma Nação, pois o seu futuro depende unicamente dele mesmo, é nos salutar denunciar neste pseudo-Nº9 (isto porque Makoto é a nona nação a possuir, legal ou ilegalmente, a bomba atómica) o nascimento do Terrorismo Atómico como acto que parte de minorias querendo destruír as maiorias. Curioso notar que é justamente em 79, ano da saída do filme, que o Ayatola Khomeini anuncia a formação de uma República Islmâmica, no qual mais tarde nasceriam os fanatismos religiosos e ainda em Dezembro do mesmo ano, os Sovietes invadiam o Afeganistão, numa guerra que originaria, entre outros tantos factores, a queda do bloco Comunista e, consequentemente, a unipolarização e ocidentalização do Mundo.
Desta feita, o Terrorista Nº9 que aprecia jogos de Baseball e ameça destrúir outra vez o mundo se os Rolling Stones não vierem tocar ao Japão, é, na senda de Prometeu ladrão da sacra sabedoria dos Deuses, castigado: devido à radiação o seu cabelo caí, e as suas forças diminuem; esperando-se-lhe uma morte lenta e dolorosa. Porém, ao contrário do mito no qual Prometeu face à ataraxia não complacente dos Deuses ficava incapacitado de responder, sendo punido e acorrentado para a eternidade, a própria ruína e decadência de Kido - o homem que, por não ter mais sonhos, chega a inquirir os desejos do povo para chantagear a Dieta a realizá-los - é levada para uma auto-destruição suicidária do Mundo. O filme assim, assume-se como circular; o plano inicial era uma explosão atómica, e embora a imagem final não seja essa, o som da explosão num ecrã a negro lá está como ponto de situação para o anunciado fim da humanidade. O perigo, afinal, não eram os antagonismos entre Nações (e a História ficou encarregada de provar esse facto), mas sim o(s) indivíduo(s) alienado(s) e deprimido(s) que estas construíram e que reivindica(m) com o conhecimento científico, no meio de todo o niilismo e desconcerto, a vontade do Apocalipse, o último capricho do consumista.

Nota:

1 comentário:

Anónimo disse...

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