segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Gruppo di famiglia in un interno

Título Original: Gruppo di famiglia in un interno
Título Português: Violência e Paixão
Realizado por: Luchino Visconti
Actores: Burt Lancaster, Silvana Mangano, Helmut Berger, Claudia Marsani, Stefano Patrizi
Data: 1974
País de Origem: Itália/ França
Duração: 126 mins
M/16
Cor e Som









A minha escolha de hoje recai sobre o filme Violência e Paixão (Gruppo di famiglia in un interno), de Luchino Visconti. Sem dúvida um dos maiores realizadores italianos de sempre, cuja ascendência nobre haveria de ser uma marca indelével que perpassou toda a sua filmografia. O filme em questão data de 1974 e conta com a presença de nomes sonantes como o de Burt Lancaster, que havia já entrado em Il Gattopardo, um filme memorável também de Visconti, e com Silvana Mangano, que se imortalizou com aquela celebérrima cena de dança do filme Anna, de 1951, onde dançava e cantava El negro zumbon. Não tão sonantes, mas não de somenos importância, participam também no filme Helmut Berger, Claudia Marsani e Stefano Patrizi.
O filme debruça-se sobre a vida solitária de um professor idoso (Burt Lancaster), ávido coleccionador de pinturas, um intelectual recolhido no seu apartamento de luxo, onde vive como um recluso. Todo o filme, de resto, se desenrola essencialmente no apartamento onde vive o velho Professor. Todavia, um dia a sua paz é perturbada com o surgimento da marquesa Brumonti, acompanhada da sua filha Lietta e de Stefano, o namorado desta, que pretendem arrendar-lhe um apartamento localizado acima do seu. Inicialmente o Professor nem quer pensar em arrendar o apartamento, mas acaba cedendo a rogos e relutantemente cede a casa. Talvez o faça, animado por uma forte curiosidade em querer saber qual a profundidade humana e intelectual daquele grupo familiar e por um forte desejo, que quase parece incontrolável, alimentado pelo facto de que aquelas pessoas pertencem a uma geração mais jovem do que a sua.
Para o apartamento vem viver também Konrad (Helmut Berger), o belo e jovem amante da marquesa. Um jovem que vive a expensas da Senhora Brumonti, qual bon vivant. Konrad é justamente a personagem mais fascinante do filme, estabelecendo uma muito curiosa relação, quase paternal, com o professor. É um revolucionário, anti-capitalista e idealista de Esquerda que, de uma forma assaz interessante, se envolve numa relação peculiar com o Professor, numa dialéctica verdadeiramente sui generis. O filme explora como, com o passar do tempo, o professor se vai envolvendo não só com Konrad, mas com a restante complicada família. Afinal, com as suas atitudes vulgares, incómodas e inusitadas, os novos inquilinos do andar de cima transformam a monótona vida do professor num verdadeiro caos. A atestar isso está a música, que os jovens escutam, que irrompe naquele ambiente erudito, bem como a cena da orgia (um ménage a trois filmado de uma forma, dir-se-ia, extremamente delicada e bonita) apanhada em flagrante pelo Professor, ao som de uma música de Roberto Carlos, cantada em italiano.
O filme tece também, de um modo inteligente, um comentário social e político os abusos das classes dominantes, temas que parecem ser caros a Visconti, que se diz viver a contradição de ser um aristocrata com tendências marxistas. O final do filme desencadeia sobremaneira tensões e ressentimentos morais, cuja maior vítima acaba por ser o Professor, acordado de um sono tão profundo e insensível como a morte. O plano no desfecho do filme, com o Professor no seu leito (de morte?), remete para um outro muito parecido, com Dirk Bogarde, na mesma circunstância, no começo de Morte em Veneza.
Violência e Paixão é verdadeiramente um testamento e um ciclo que se fechou na obra do brilhante cineasta italiano, que já fragilizado e numa cadeira de rodas dirigiria ainda mais um filme, o belíssimo O Inocente (L' Innocente, 1976), vindo a falecer antes de terminada a sua montagem. É por isso um filme obrigatório, uma obra sóbria e tocante, assinada por um homem que morreu a fazer cinema.

Nota:

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