domingo, 10 de dezembro de 2006

Banshun

Título original: Banshun
Título Português: Primavera Tardia
Realizado por: Yasujiro Ozu
Actores: Setsuko Hara, Chishu Ryu
Data: 1949
País de Origem:Japão
Duração:110 min.
M/6Q
Preto e Branco, Som










Banshun (Late Spring em inglês) é um filme do mestre realizador Yasujiro Ozu, feito em 1949 e o primeiro da triologia Noriko - personagem personificada pela actriz Setsuko Hara nos três filmes.
Os traços estilísticos finais de Ozu começam nesta película - por um lado a escolha de narrativas simples e quotidianas, por outro a caracterização de sentimentos genuínos e puros como sinal de um Japão tradicional que resiste à modernidade, e por último a criação de personagens que não tenham (citando as suas próprias palavras) "qualquer tipo de artíficio dramático". Ozu almejava um cinema tão real, tão puro, tão claro que daria ao espectador a noção de Quotidiano na sua acepção mais básica. Como se cada filme fosse uma descrição da vida japonesa, e por isso todos estes filmes da última fase de Ozu (de 1949 a 1962) podem ser considerados como verdadeiros documentários dos hábitos, dos valores, das vivências japonesas. Por isso, Ozu admite na sua vida como realizador uma atitude digamos tradicionalista face ao cinema e à construção de narrativas. Quanto a técnicas, recusa o uso do som até ao final dos anos 30; e só usa o cinema a cores dez anos mais tarde de ele ter sido implementado no Japão. Quanto as narrativas diria ele:"A história serve-se das personagens e dos espectadores, e servir-se deles é precisamente enganá-los."
É em Bashun, e no começo da saga Noriko, que se inicia esta perseguição pelo real concreto e a descrição das vidas reais e dos problemas actuais da sociedade. Em todos os filmes existe Noriko - uma jovem mulher - e sua família, e em cada um dos três filmes, há uma nova solução ou alternativa para enfrentar o mesmo problema: o conflito de gerações. Resultando do pós-guerra, a sociedade japonesa enfrenta por um lado a "invasão" americana de Mac Arthur, e por outro a crise dos valores tradicionais que - imageticamente - morrem na segunda guerra, juntamente com o regime direitista que se tinha instaurado. Digamos, porém, que Ozu não pretende nem uma análise política nem uma defesa pelo retrocesso da sociedade em Banshun ou noutro filme posterior ou anterior. Ele apenas quer "viver vidas alheias", quer demonstrar o carinho, o amor e a protecção das infra-estruturas tanto na família como no trabalho. Quer, em última estância, demonstrar o "aquecimento do coração" e não necessariamente "aquecer o coração" do espectador.
Noriko vive só com o pai, e renega a sua independência (não se casando) para ficar com o progenitor já velho e no final dos seus dias. Em todo o filme, é esta problemática que se vive: Noriko não se quer casar, não quer ficar longe do pai, mas a sociedade pressiona-a - e isto vem personificado em todas as personagens que se dão com Noriko - , ora arranjando pretendentes para ela ou marcando encontros etc.
A prestação comovente de Noriko, pela graciosa e inocente Setsuko Hara, e a do lendário Chishu Ryo no papel de seu pai são puras lições de representação num estilo único. Veja-se a cena da peça de teatro Noh, cena essa criticada por alguns como a mais completa e bela de Ozu, quando Noriko se sente dividida tanto pela vida com seu pai, ou o ressentimento de nunca ter vivido outra. Vemos unicamente um actor representando o drama, e a troca de olhares como se de um micro-mundo se tratasse.
A tragédia chega ao clímax, quando o Pai encoraja Noriko a casar. A última viagem que os dois fazem é ora melancólica, ora cómica. Finalizando o filme por um lado com Noriko saindo de casa, e por outro o envelhecimento constante do pai - que acabará por morrer só, sabendo que a filha está mais feliz. Note-se a dramática viragem na cena final do filme juntamente com a prestação de Chishu Ryu.
A passagem do tempo é um factor importante numa consideração das obras de Ozu, veja-se que os títulos jogam muitas vezes com os antónimos "tarde" e "cedo", e com estações do ano conotando assim o crescimento e prosperidade das novas gerações, mas também a extinção das mais antigas. É também a renovação da sociedade e dos valores, que está em causa nas obras de Yasujiro Ozu.

Nota: 5/5

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