terça-feira, 18 de setembro de 2007

Jôi-uchi: Hairyô Tsuma Shimatsu

Título Original: Jôi-uchi: Hairyô Tsuma Shimatsu
Título em Português: Rebellion
Realizado por: Masaki Kobayashi
Actores: Toshiro Mifune, Yoko Tsukasa, Takeshi Kato, Tatsuya Nakadai, Tatsuyoshi Ehara, Etsuko Ichihara
Data: 1967
País de Origem: Japão
Duração: 128 min.
M/12Q
Preto e Branco, Som








Na maior parte das obras de Masaki Kobayashi encontramos sempre (ou quase sempre), quer esteja patente, quer esteja implícito um forte desejo de contestação de uma autoridade. Isto é, explicar questionando, na medida do possível (mas também do impossível), qual o papel do indivíduo perante as ordens de um superior, ou melhor, o que é isso da superioridade? Quais as razões da hierarquia? Será que essas razões se justificam numa superioridade negadora da liberdade? Na sua épica trilogia histórica de 9 horas, Ningen no Joken (A Condição Humana) - dez anos anterior a este Rebelião - Tatsuya Nakadai interpretava um quasi alter-ego do realizador, um corpo que transformava a teoria em prática (questionava ele, um comunista inserido num sistema militar rigoroso, a razão da guerra e as ordens dos seus superiores), mutando, assim, um conceito ético num mártir, numa chaga sacrificada em plena Segunda Guerra Mundial. Ora, as intenções do corpus de Kobayashi não se distanciam muito dessa sua grande primeira-obra. Quer existam militares, quer existam samurais, a intemporalidade da mensagem é sempre a mesma. Senão vejamos, em Seppuku (Harakiri, filme que o catapultou para o reconhecimento Europeu), Kobayashi laborava um discurso mais teatral, um cruzamento formal entre os motivos do teatro clássico, e técnincas vanguardistas (não só de filmagem, mas também dentro da estrutura interna da narrativa), contudo a sua marca estava lá bem fixada: a história de um Ronin que se vinga (construíndo um "verdadeiro jogo de xadrez" até à sua morte) da injustiça social exercida pelo clan de Samurais.
Se tudo isto está dito, o que vem de novo (e o que vem bem de antigo) de Joi Uchi? Uma plena revisitação da sua temática predilecta conciliada com um discurso menos "hierático do que Harakiri"- isto parafraseando as sábias palavras de Manuel Cintra Ferreira -, mas não menos clássico e condensado no seu valor estético. Os planos são de um rigor geométrico inigualável, o enquadramento e as sequências fornecem um fulgor dramático medido em crescente, e as interpretações (saliente-se as de Mifune e de Nakadai) são transparentes e lúcidas, sendo que as restantes cedem, um pouco, ao melodrama, mas também, não seria de esperar de menos de uma estética extremamente ligada ao folclore e a um tradicionalismo japonês.
Tal como os heróis de Ningen no Joken e Harakiri (ambos interpretados pelo magnífico Tatsuya Nakadai), o herói de Joi-Uchi (desta vez, o colosso Kurosawaiano Toshiro Mifune) é aquele protótipo do herói Romântico, aquele que só numa demanda contra a sociedade, a pretende, justamente, mudar por meios do seu próprio exemplo. Mais uma vez, temos a recorrência da obsessão: Injustiça e abuso dos fortes (dos que tem, ou pretendem ter o poder) contra os fracos (os humildes, os cumpridores da ordem, neste caso, da lei), e a Revolta destes últimos contra os primeiros. Uma rebelião que nada tem de lógico, antes suicida (na senda, mais uma vez, dos exemplos de Ningen no Joken e Seppuku) e que leva à desagregação de uma família construída sem bases fortes, e ao mártir dos protagonistas.
Esperando conseguir apontar como exemplos a seguir os revoltosos, os revolucionários (nem que sejam pela violência), Masaki Kobayashi em Rebelião está igual a si próprio. Ainda que formalmente luxuriante e dramaticamente audaz, aquela cena final - memorável é certo - não conseguirá apagar nem substituir das nossas memórias aquela "orgia de brutalidade" de Harakiri a que se refere Manuel Cintra Ferreira na sua crítica para a Cinemateca.

Nota: 3/5

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