segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Black Swan

Titulo Original: Black Swan
Titulo Português: Cisne Negro
Realizado por: Darren Aronofsky
Actores: Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Barbara Hershey, Winona Ryder
Data: 2010
País de Origem: Estados Unidos
Duração: 108 mins
M/16
Cor e Som









Aronofsky vem com este Black Swan estudar e expor um tema ao qual já havia dado achegas em Requiem for a Dream e The Wrestler provocando um exercício que se afigura perfeito do ponto de vista mental, visual, sobretudo artístico, quer falemos de fotografia, música ou representação enquanto tal. E perfeito é a palavra chave no Cisne Negro, é esse o seu foco. Sem alongar, é-nos apresentada a história de Nina, Natalie Portman, enquanto bailarina candidata ao papel de rainha dos cisnes (do clássico Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky) na adaptação visceral e psiquicamente agressiva, ao jeito moderno, do encenador Thomas interpretado de forma soberba (tal como seria de esperar) por Vincent Cassel, um dos melhores actores europeus da actualidade, senão o melhor. Por forma a interpretar a rainha dos cisnes, Nina terá que dominar a actuação enquanto cisne branco (puro, inocente, técnico e controlado), bem como enquanto cisne negro, a irmã maligna do cisne branco de personalidade oposta.
Nina é uma bailarina rígida, perfeita do ponto de vista técnico, a melhor de todo o conjunto. Vive para o ballet, tendo para isso sido conduzida pela sua mãe que abdicou da sua carreira de bailarina para poder criar Nina enquanto mãe solteira. Nina vive assim numa prisão, quer física quer psicológica, criada pela sua mãe (Barbara Hershey). A mãe representa aqui esse auto-controlo que foi incutido a Nina, o excesso de disciplina, sendo também ela por sua vez obcecada com o sucesso da sua filha, quase como que vivendo para viver a vida de Nina, passo o pleonasmo.
O que assistimos é à transformação de Nina, ao jeito de tragédia grega (ou neste caso russa...)começando por um pathos traduzido no sofrimento progressivo imposto pelo destino que lhe é conhecido. Dando início à peripécia Aronofsky desce ao mais cru e primitivo nível do Homem enquanto animal, colocando nos ombros de Mila Kunis (interpretando Lily, a colega de Nina) o símbolo do pecado sexual e social que, por sugestão de Thomas, Nina teria que ultrapassar, quebrando as únicas barreiras da ordem vivencial que conhecia por imposição da sua mãe.
A experiência visual e mesmo física (!) que obtemos é ímpar. Aliamo-nos à esquizofrenia e às fantasias que Nina desenvolveu durante a sua vida de apática reclusão enquanto nos deixamos envolver numa dança em sentido abstracto que nos sufoca e repele; mas ao mesmo tempo nos fascina, numa exposição grotesca e fantasmagórica do interior da sua mente. As referências a The Fly de Cronenberg são inegáveis. Aronofsky não se satisfaz com uma mutação (ou será mutilação?) psíquica de Nina, recorrendo ao choque visual que essa transformação representa no seu corpo. Absolutamente fascinante.
Somos absorvidamente conduzidos para uma catástrofe que se afigura inevitável, na qual a personagem supera o trágico desafio que lhe foi imposto; e que culmina numa catárse, num único acto, uma purificação da personagem através do terror e da piedade.
O trabalho de câmara tremulo, perseguidor e dinâmico faz com que os espectadores se juntem a Nina enquanto esta dança, seguindo os seus maravilhosos movimentos (fantástico trabalho de Portman a aprender ballet para o seu papel), sentindo a sua leveza.
A banda sonora, composta maioritariamente por música clássica, com um adoçamento de um ou outro choque mais moderno, faz com que o filme apresente um ambiente de conto/fábula, perguntando mesmo ao espectador se a história pessoal de Nina é uma adaptação do Lago dos Cisnes em si. É o complemento ideal. Todas as interpretações estão imaculadas, indo o destaque evidentemente para Natalie Portman que tem aqui o papel da sua carreira que irá levar a um óscar quase certo. Não existe overacting como alguns críticos dizem, existe sim um agravamento emocional necessário para a execução da personagem que não pode ser encarada como fazendo parte do mundo real. O mundo de Black Swan é um mundo de fantasia baseada na realidade e tem que ser assumido enquanto tal!
Black Swan é um filme de excelência, definidor de um género, e a masterpiece mais educada de Aronofsky, capaz de fazer despertar noções de "belo" de uma forma que nenhum outro filme conseguiu antes, aliás, nem sequer admitimos como espectadores que um filme consiga fazer com as nossas emoções aquilo que Black Swan fez. E isso é o que o distingue da massa. O melhor de 2010 e sem dúvida um dos melhores de todos os tempos.

P.S. Hoje em dia está cada vez mais difícil ir ao cinema e ver um filme em condições. Ou é um que come as pipocas como um porco a quem servem a ração da tarde, ou é outro que vai em grupo e passa o filme numa algazarra e risada que arruína todo o impacto, ou é o outro que sempre que há um momento de silêncio comenta o que se passou e o que se irá passar a seguir. Uma das principais e mais intensas cenas de Black Swan foi-me arruinada por um destes sabujos. Fica portanto a revolta e a advertência: vão às sessões das 14h ou às da 00h num dia de semana (não é remédio santo mas pode ajudar).

P.S.(2) Este texto não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

Nota: 5/5

7 comentários:

Anónimo disse...

A "prisão, quer física quer psicológica, criada pela sua mãe" fazia parte do delírio da Nina. Pode ser comprovado pelo facto de a mãe estar na plateia com aquele ar, no fim. Não é auto-controlo.

Durante o filme todo os gajos mandaram dicas do que era suposto passar-se com a Nina: bulímia e sobnutrição. Várias vezes vomitou, os olhos dela tinham os vasos rebentados (olhos vermelho), dois sintomas da bulímia e o resto, ela achar que a Lily lhe tinha lambido a carpete, achar que a mãe era inimiga e ter achado até que tinha morto a Lily não passam do delírio causado pela subnutrição.

Mas enfim catársa-te por aí

Anónimo disse...

excelente crítica, a melhor que li até agora sobre este filme e das únicas que demonstra uma verdadeira compreensão do mesmo e que consegue captar a sua essencia. é de bradar aos céus a maior parte dos opinanços acerca do Black Swan.

continua com o bom trabalho.

David Bernardino disse...

Ai caro anónimo... não lhe parece evidente que os olhos vermelhos faziam parte da transformação para cisne negro? Pesquise lá imagens no google. E não percebe o que quer dizer no inicio quando diz que nao é auto.controlo se antes disse que a prisão partia da própria nina. e como pode reduzir o filme a subnutrição.ja agora QUAL SUBNUTRIÇÃO??? se ela vomita é por enjoo e agonia perante todo o choque que a mutila e corroi ao longo do filme.. quer-me parecer que e um dos muitos espectadores que nao percebeu o filme e que o reduz a "filme de terror com sexo". ignorante..

Jorge Almeida disse...

Creio que a maioria das pessoas sabe que está perante um excelente filme, daqueles que irá reunir um consenso quanto à qualidade. Vai daí procuram particularidades no filme para dar azo às suas interpretações menos convencionais ( a miude idiotas) para se destacarem enquanto apreciadores de cinema e pessoas de bom gosto.
É tudo uma massagem ao ego.
Quanto à bulimia, na eventualidade de até estar presente, é no minimo secundário e querer ignorar que a mãe de Nina e Lily são as projecções de lados em conflicto da própria personalidade de Nina e que isso leva à transformação do personagem que interpreta na peça é pura casmurrice.

Esta é provavelmente a critica mais fiel a Black Swan e a que não procura algo que não existe só pelo bem de um pretensiosismo intelectual.

Anónimo disse...

no seio de um poder cognitivo tão massivo, porventura seria boa doutrina alcançar um dicionário e examinar a grafia da palavra catarse.

Mas enfim o que digo é que à javardo que um gajo se entende.

Fora isso, só quero dizer que a minha opinião é válida por ser minha. Por isso é que os filmes têm piada, podem ter várias interpretações, ou não? :/

Anónimo disse...

"no seio de um poder cognitivo tão massivo, porventura seria boa doutrina alcançar um dicionário e examinar a grafia da palavra catarse."

essa tua tentativa de falar bem so deu em porcaria. nunca vi tanto disparate junto numa só frase.
em primeiro lugar não se percebe porque é que empregas a palavra doutrina nesse contexto (se calhar tu é que devias "alcançar" um dicionário) em segundo lugar a palavra grafia refere-se à forma como se escreve uma palavra e não ao seu significado, o que era isso que tu querias dizer (fazendo uma tentativa frustrada de escrever de forma cara). quanto à tua teoria de nina sofrer de bulimia, acho sinceramente que o teu cérebro é que sofre de subnutrição. mas tudo bem, é uma opinião válida porque vinda de um cérebro carente de inteligência nao se esperava outra coisa...

Anónimo disse...

Natalie Portman - bulímica ou não, ela mete os dedos onde nenhuma actriz actualmente tem posto e por isso merece ganhar o óscar de melhor actriz pelo seu desempenho magnífico cheio de drama e de fantasia.