segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Ningen Johatsu

Título Original: Ningen Johatsu
Título em Português: A Man Vanishes
Realizado por: Shohei Imamura
Actores: Yoshie Hayakawa, Shohei Imamura, Shigeru Tsuyuguchi
Data: 1967
País de Origem: Japão
Duração: 130 min.
M/12Q
Preto e Branco, Som









Em Ningen Johatsu, Shohei Imamura aborda pela primeira vez o estilo documentário. Se, em The Pornographers - seu filme anterior - podiamos ver já aquilo que eram sinais de uma vontade intrinseca de abordar o real concreto, de descrever automamente o quotidiano por mais duro e visceral que ele fosse, aqui neste Ningen Johatsu há toda a liberdade para desenvolver a história verídica de um desaparecimento de um homem, o Sr. Oshima. O resultado é um dos filmes mais bizarros em si (ou seja, pela forma como se apresenta), onde o realizador se inicia nos cânones do género (dando entrevistas, perguntando a vários inquiridos o paradeiro de Oshima entre outras idiossincrasias que seriam inevitáveis circundar) e acaba numa rígida dialética entre o que é verdade e o que (não) se queria ficção, destruíndo o próprio significado do documentário, e falindo no seu principal objectivo encontrar o homem, cujo paradeiro e razões do seu desaparecimento são ignotos.
Podemos quase afirmar, haver, no final das contas, uma estranha mas fatal desilusão no labor a que Imamura se propôs (no final, um assistente de realização, anunciando o fim da película grita: "O filme acabou, mas a realidade não!"). Parece que a cada nova descoberta de dados quer sobre a personalidade de Oshima, quer sobre as hipotéticas motivações que o fizeram deixar a sua mulher e roubar uma considerável soma de dinheiro da empresa onde antes se empregava, Shohei se vai decepcionando e consequentemente vai aprendendo - por experiência e refutação , como queria Popper - que este seu trabalho (extremamente mediatizado, com cartazes nas ruas, pessoas a comentarem tudo e nada) acaba por não avançar nada, acaba por ser, em suma,(e agora as cabeças vão rolar) inquestionavelmente inútil. Ora, como o trabalho documentarial exige, como é óbvio, um seguimento lógico e temporal da realidade (onde cada situação desencadeia a outra e assim sucessivamente, sendo o acaso a única coisa a ser sempre esperada), Imamura deparado com a desilusão (apenas e tão só porque se iludiu) soluciona, à última hora, naquela fulgurosa e inspirada última metade, uma interessante e derradeira prova de como este género nunca pode ser também (a ficção já provava não o ser) o vínculo entre a veracidade do real e o próprio real, isto porque, o acto de congelar factos (e é isto que , em última estância é O Documentário) demonstra-se logo como um artíficio de manipulação, ou seja, como uma antítese da realidade. É neste diálogo puramente formal (que o filme, por força das circunstâncias, se torna) que o realizador confessa ser impossível este filme, ser - e pasme-se - impossível o mesmo documentário.
Numa era em que tudo está mediatizado (ou melhor - como diria o nosso sagaz João César - merdiatizado) e que a mediatização é tida - acima de qualquer suspeita - como verídica e inquestionável, pior, amiga do povo, vale bem a pena visionar esta pérola filosófica que renega toda e qualquer veracidade ao documentário, carnavalizando-se a ele próprio como uma partida bem pregada, e relembrarmo-nos que sempre que existe uma camâra por perto (nas entrevistas de Imamura, em que no final até a víuva se apaixona por um assistente de realização) existe sempre teatralização, isto é, falsidade e melodrama.

Nota: 3/5

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