sexta-feira, 4 de maio de 2007

Tsumetai Chi

Título Original: Tsumetai Chi
Título em Português: An Obsession
Realizado por: Shinji Aoyama
Actores: Ryo Ishibashi, Eiko Nagashima, Taro Suwa, Kazuma Suzuki, Kyôko Toyama, Yûrei Yanagi
Data: 1997
País de Origem: Japão
Duração: 109 min.
M/16
Cor, Som









An Obsession - quarto filme de Shinji Aoyama - é um filme policial diferente. Não apresenta, ao contrário de Shiritsu tantei Hama Maiku: Namae no mai mori (Mike Yokohama: A forest with no name) e Reikusaido Mada Kesu ( Lakeside Murder Case), uma única gota de suspense. Ao invés destes dois filmes seus no mesmo género, opta por silenciar aquilo que, tradicionalmente, poderia ter sido um policial de acção. Na verdade, as intenções de Aoyama aqui foram, sem dúvida, actualizar o estilo neo-realista e noir do seu congénere Nora Inu (Stray Dog) de Akira Kurosawa. Ora, se a obra precedente fazia, através dos planos dinâmicos e da música estonteante, uma análise ao mundo frenético, em mudança, e desorganizado do Pós-guerra japonês, este Tsumetai Chi - como é apanágio de Aoyama - estuda o pós-modernismo através do constante isolamento das personagens, do seu egoísmo e do niilismo omnipresente num mundo diferente e absolutamente paralizado - daí a diferença antagónica de ritmos entre os dois filmes. Em ambos, a trama policial vale pouco. Ela só é um pretexto para o desfile mais profundo das nossas eras. Conhecendo o móbil e os crimes, não há dúvida, que se alcança a sinceridade máxima dos problemas da sociedade. É a questão do conhecer não pelas qualidades, mas sim pelos defeitos.
Tal como Nora Inu, Tsumetai Chi conta-nos a história de um policía, cuja pistola é roubada por um criminoso em fuga. Se em Stray Dog, o criminoso era um ladrão, aqui ele é um assassíno louco; se no filme de Kurosawa o polícia era simplesmente roubado como se a sua pistola fosse uma carteira, no filme de Aoyama ele é primeiramente alvejado e abandonado à sua sorte. Esta diferença fulcral em pequenos pontos do "plot" faz-nos aperceber uma evolução temporal. A versão moderna é bastante mais violenta. Sinais dos tempos... sem dúvida.
A maneira de contar as duas narrativas é, digamos, também bastante diferente. Embora a intenção seja a mesma, Tsumetai Chi nunca depende dessa tal história de polícias e ladrões, onde o bem e o mal se confrontam. Mais uma vez na filmografia de Aoyama, reparamos que a moral está ausente, sendo que, ao contrário do modelo de Akira em que o personagem principal (Toshiro Mifune) era a encarnação do bem, na versão de Aoyama, o polícia (Ryo Ishibashi) está perdido e doente, confuso e desencantado. O tema discípulo-mestre - fetiche do realizador de Shinchin no Samurai (Os Sete Samuráis) - também é prepositadamente aniquilado aqui: vivemos num mundo onde cada um vive por si, onde o egoísmo sobrevive, acima de tudo, e por isso é que a relação entre o polícia e a sua mulher é, também ela, ambígua e conflituosa.
O silêncio presente em An Obsession é sufocante. A personalidade do polícia vai-se construíndo gradualmente, principalmente quando ele conhece o assassíno - um génio niilista, que goza com o sentido histórico das figuras de Marx e Jesus, chamando-as de Inferno. A personalidade do assassíno é sufocante. O ambiente, todo ele, é de uma tristeza e desilusão profunda. As cores cinzentas, os planos fixos, lentos e parados fornecem esse sentimento do vago que seria retomado em Eureka - como representante máximo da enfermidade e cura.
No entanto, neste filme não há uma cura defenitiva. Existe sim, uma convalescença, uma convivência com a doença, através da destruição do espírito egoísta - como aliás, se afirma numa conversa sucinta na cabine telefónica antes do desfecho. Quanto ao assassíno - e à sua namorada que quer morrer por amor, num falso idealismo -, ao contrário outra vez do filme de Kurosawa em que este chorava por não ter tido outra hipótese de vida a não ser ladrão , não há esperança nem hipótese para o de An Obsession. A cena do seu suicídio é uma adição do expoente do próprio egoísmo com uma tranquilidade latente. Depois, resta ao polícia encontrar e compreender a lição moral. Mesmo com a hecatombe moderna - representada pelos homens de máscara do recente acidente do metro de Tokyo - ele dispara com a imaginação, livrando-se dos fantasmas que o atormentam.

Nota: 3/5

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