quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Gokudô Sengokushi: Fudô

Título Original: Gokudô Sengokushi: Fudô
Título em Português: Fudoh - The New Generation
Realizado por: Takashi Miike
Actores: Shosuke Tanihara, Kenji Tanako, Marie Jinno, Riki Takeuchi, Takeshi Caesar, Tôru Minegishi, Miho Nomoto
Data: 1996
País de Origem: Japão
Duração: 98 min.
M/18
Cor, Som









Filme choque - considerado por muitos ofensivo e sem sentido - Fudoh: The New Generation foi o primeiro grande filme que deu a conhecer ao Ocidente a figura de Takashi Miike, em 1996. Neste filme, já se nota a capacidade do realizador da Triologia Sociedade Triade no que toca a inovação e o choque - absurdo, por vezes - que os seus filmes largam a cada instante. A fúria, a violência bestializada, o desprendimento emocional das personagens e da narrativa são o começo de algo que viria a ser aperfeiçoado (se é que se pode aperfeiçoar algo imperfeito à priori) em Bijita Q (Visitor Q), Ôdishon (Audition), Dead Or Alive, Gozu e Koroshiya 1 (Ichi the Killer).
Um chefe yakuza mata o filho cadete, de forma a apaziguar uma guerra entre dois clans. O filho benjamin assiste à carnificina e, após dez anos, insurge-se discretamente contra o pai e o mundo negro dos gangs. Como vemos, o "plot" de Fudoh é o típico confronto de gerações irrompendo num acto de vingança desmesurada e, sobretudo, fria. Filmes como Oldboy de Park Chan-Wook, ou até Kill Bill de Tarantino apresentam estas características - as da vingança - , porém, se nestes dois filmes resta um pingo de bondade e de esperança, em Fudoh tudo é apagado de forma drástica. Na verdade, estamos na presença de um filme totalmente oco, quer seja no seu sentido (não há qualquer mensagem ou simbólica) quer seja na sua estética (planos e situações exageradamente violentas, chocantes e selvagens). Para o leitor ter uma ideia do quão insólito é Fudoh (mas não mais insólito do que Visitor Q ou Gozu) advirta-se que existe uma rapariga que atira dardos dos seus genitais, um gigante que chuta uma cabeça - como se fosse uma bola de futebol - fazendo com que esta exploda, e uma estudante que é hermafrodita por opção - ou seja, ela pode escolher quando se torna homem ou mulher. Tudo isto é executado com uma desinibição total por parte de Miike - o criador do que poderia ter sido um filme de vingança entre mafiosos, tornando-se numa viagem excessiva com rios de sangue, perversão e apatia sentimental.
Como classificar Fudoh? Ele é inclassificável. Ousaria dizer que o classificaria mais facilmente no ramo da banda-desenhada. De facto, a narrativa e temática previsível é só o pretexto para a parada visualmente niilista e ambígua que se nos afigura. Tal como num Manga moderno, não é a história que nos prende, mas sim a barbárie caricatural da carnificina exagerada e da sexualidade débil e disforme. Posto isto, é sempre complicado para um crítico lidar com a obra de Takashi Miike: se por um lado, achamos genial, único e particular o seu trabalho, por outro, duvidamos seriamente do tipo de cinema que se está desenvolvendo. E já se disse isto aqui - um tipo de cinema que não olha a humanização, mas sim a desumanização pelo simples prazer do que é vazio, e neste efeito, note-se a quantidade de filmes sem narrativa (e moral) nos últimos tempos. Compreendo que, para muitos, Fudoh possa ser uma obra máxima do cinema, porém a verdade é que, se o experimentalismo é essencial para o cinema, ele também o pode matar e mutar-se numa outra coisa. E, para finalizar, custaria-me muito ver este género yakuza/gore/sexualidade expandido noutro tipo de realizadores sem ser Miike, pois raros são os que podem ter o privilégio de (re)iventar o absurdo, o imperfeito e o bizarro saudavelmente. Se este niilismo elitista de Miike rebenta-se e virasse moda, teríamos seguramente uma crise mundial de valores (e não seriam só os do cinema).

Nota: 0/5

1 comentário:

Sérgio Lopes disse...

Este filme como aliás todos os de Miike é desconcertante!Cumprimentos,

Sérgio Lopes