sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Sono otoko, kyôbo ni tsuki

Título Original: Sono otoko, kyôbo ni tsuki
Título em Português: Violent Cop
Realizado por: Takeshi Kitano
Actores: Beat Takeshi, Makoto Ashikawa, Sei Hiraizumi, Hakuryu, Ittoku Kishibe, Susumu Terajima
Data:1989
País de Origem: Japão
Duração: 103 min.
M/16Q
Cor, Som







Comediante conhecidíssimo no Japão, personagem caricatural saltando do rídiculo para o engraçado; Takeshi Kitano tentou em 1989 realizar o seu primeiro filme após a desistência de Kinji Fukasaku - o realizador inicialmente proposto. O que era, supostamente, uma comédia transformou-se num filme violentamente forte, amorfo e apático, abismal e frio. O cómico manzai espantava tudo e todos nesta descoberta pelo cinema. Na verdade, em Violent Cop não há nada. É um filme oco, niilista, sem esperança quanto ao futuro. Um grande e assustador deserto donde as emoções das personagens não existem ou são escondidas por meio de uma narrativa fatalista simples e minimalista que explode sempre numa brutalidade animalesca, surda e sinistra.
A narrativa é tão simplista e directa que muitos podem categorizá-la como lugar-comum, ora, nunca é intenção de Takeshi Kitano criar um ambiente de intriga. A intriga aqui é morta, tal como uma narrativa que dê reviravoltas e "prenda o espectador". Antes disso, Kitano prefere fazer um ensaio à violência - e note-se que neste filme a violência jamais é agradável, pelo contrário, ela é chocante, repentina, repetitiva e repugnante.
Azuma é um polícia violento que confia somente na força bruta para resolver os casos. Ele é apático e rege-se quase sempre por instintos; sendo o seu próprio cadáver. Após algum tempo, ele envolve-se num caso arriscado com Yakuzas traficantes de droga que acabam por raptar a sua irmã enferma.
Como diria Henrik Sylow acerca desta personagem:"Azuma (Beat Takeshi) não está só acima da lei, ele está acima da sociedade aplicando um código pessoal e individual de honra e justiça". Na verdade, o ideal de um ser vegetativo e vazio está presente em toda a obra de Kitano. Um ser que (como manda a nossa sociedade moderna) simplesmente vai vivendo até o destino conduzir à sua perda. Vejam-se dois tipos de personagens sempre omnipresentes nestas circunstâncias: os jovens e as mulheres. Os jovens que em Violent Cop espancam um sem-abrigo até à morte, deitam pedras para os idosos, e drogam e violam a irmã de Azuma. Por outro lado, a figura feminina que está louca ou doente, representando uma "sexualidade difusa e frustrada", onde não há lugar para sentimentos, só bestialização do ser e da razão. Aqui, a irmã do polícia é um objecto, algo que se tem de sacrificar almejando o suicídio megalómano e final. Veja-se como acaba o filme.
Kitano imprime paradoxos constantes nesta obra de carácter desesperante. A violência surge por flashes quebrando sempre o silêncio e a calma Zen das personagens mortas interiormente. A surdina, característica da cinematografia de Kitano, está sempre presente aqui, quando a título de exemplo, se espanca brutalmente Kyohiro- o traficante - ou se dão estaladas durante alguns 5 minutos num interrogatório. A câmara, tentando realçar um efeito duro e repugnante, não sai do mesmo sítio. Fica preplexa e estática, tal como numa película de Ozu, deixando as personagens sair e entrar quando se achar necessário, mas também apontar a violência ou o acto sexual como disformes e brutos. A acção, por isso, é por vezes, demorada e calma, como por outras, intensa e sangrenta.
Violent Cop, sendo o primeiro filme de Kitano, é sempre uma incurssão útil e necessária para compreender o legado deste fenomenal realizador. Nos seus próximos (e mais maduros e maturados) filmes - como por exemplo 3-4x10Jugatsu, Sonatine e Hana-bi - Kitano como que vai buscar os mesmos temas, as mesmas obsessões, seja a animalização do homem, seja a serenidade do mar e da praia (que aqui aparece numa única cena, não sendo tão notável essa simbologia como num Sonatine). Apercebemo-nos já aqui, portanto, do estilo inconfundível, das temáticas repetitivas e constantemente reiventadas até à loucura total e colectiva de um filme que não gosta das palavras, só dos actos. Desesperante e original.

Nota:

1 comentário:

Anónimo disse...

Este esta no 2º "grupo" (de 3) dos meus favoritos do mestre Kitano.
Aquela cena dos estalos é mitica!
Existe um filme (nao consigo recordar o nome) que tem uma cena igual com tantos ou mais pares de estalos! Quando o vi lembrei-me logo do mestre :)

abraço!