quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sekigun/ PFLP: Sekai Senso Sengen

Título Original: Sekigun/ PFLP: Sekai Senso Sengen
Título em Português: The Red Army/ PFLP: Declaration of World War
Realizado por: Masao Adachi, Koji Wakamatsu
Actores: -
Data: 1971
País de Origem: Japão
Duração: 69 min.
M/6
Preto e Branco, Som










Num dos únicos artigos que nos resta sobre este Declaration of World War, finaliza-se perguntando legitimamente: "Passados 40 anos, onde está essa revolução mundial?" A resposta a essa mesma pergunta retórica é óbvia: "Não está", ou melhor, "Não existe". E não existe mais apenas a continuação do projecto "Mundo em vias de revolução" (como profetizam os guerrilheiros Marxistas-Leninistas filmados) como o interesse (mesmo que histórico, sinal já de uma mumificação incontornável) em éticas sociais que se coadunam com estéticas revolucionárias. O próprio acesso ao filme em questão (jóia escondida, não conhecida e jamais referenciada) é prova dessa mesma inadaptabilidade aos nossos tempos. Não só porque a obra sofre de anacronismos evidentes (já não há União Soviética, nem Japanese Red Army, e mesmo a Frente Popular para a Libertação da Palestina [PFLP] sobrevive timidamente), como também o próprio presente não a permite. Sejamos francos: mesmo um realizador como Godard é lembrado pelos seus filmes inocentes, e raras vezes pelas suas acções revolucionárias no grupo Dziga Vertov (nesta senda, o seu filme Ici et Ailleurs de 1976 desenha um paralelo óbvio com este Sekigun/PFLP). Por isso é legítima também outra pergunta: será que a grande expectativa (e aposta) no cinema como o media privilegiado das revoluções e causas sociais se dissipa lentamente na bruma e na noite (tal e qual o título dessa fenomenal obra de Alain Resnais?).
A única alternativa de reabilitar qualquer objecto cultural é não deixar que se esqueça. Se, por outro lado, para esta obra o desconhecimento sempre tomou a dianteira (como reabilitar algo que nem se habilitou?), o esforço recaí no absurdo. A não ser que o interesse histórico se sobreponha à análise e então, poder-se-á tratar a componente política e estética em regime "do que foi", passado, portanto. Retirar todo o fulgor de uma peça que devia ser vista (e não escrita), é este o trabalho insensato do crítico.
Há 38 anos atrás, Masao Adachi e Koji Wakamatsu, após a sua estadia no festival de Cannes com Nagisa Oshima, decidiram juntar-se à Japanese Red Army (grupo terrorista japonês anti-imperialista) em Beirut. Aí, gravaram e acompanharam os dias e a luta dos guerrilheiros palestinianos, tentando penetrar no seu ideário revolucionário. O filme serve não só como propaganda (apesar de que toda a propaganda - como a dada altura clama um lutador - é a própria guerra armada), mas como manifesto da voz e da força do proletariado e, consequentemente, o ódio imenso ao imperialismo americano.
A repetição das mesmas divisas (Revolution is World War ou Armed Strugle is World War etc.) transforma imagem e mensagem no mesmo. Mais uma vez, Masao Adachi pratica a sua Teoria da Paisagem nas terras áridas palestinianas, na esperança de testemunhar os seus esforços de maneira sincera, visto que a paisagem é essa forma de comunicar mais verdadeira, que o homem não tem controlo. Assim, o grande projecto da PFLP (ao mesmo tempo, os seus incitamentos são exemplos de grande valor para a própria Red Army: por exemplo ver os dois hijackings praticados pelas duas facções) é unir palavras e armas na mesma manifestação: luta armada. De modo a alcançar esse projecto da revolução mundial, todos os revolucionários armados dever-se-iam juntar, visto que, revolução é e só pode ser luta armada. Citando Che Guevara diz-se: "A situação do mundo deveria estar como a situação do Vietname".
No último plano do filme, a palavra alcança o estatuto de concreto. O objectivo seria mesmo esse: as palavras "pistola", "arma", "gatilho" etc. deviam sensibilizar os oprimidos a lutarem pelos seus direitos. Porque os Imperialistas "através dos seus filmes, controlam a nossa maneira de pensar." Masao Adachi numa entrevista recente referia o seu medo de então, o mundo se tornar num lugar horrível como agora. Quer nos importemos ou não com o passado - e visto que a revolução mundial hoje cheira a mofo -, temos de lhe dar o mínimo de razão que seja.

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