segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

La guerre est declarée

Título Original: La guerre esta declarée
Título Português: Declaração de Guerra
Realizado Por: Valérie Donzelli
Actores: Valérie Donzelli, Jérémie Elkaïm, César Desseix
Data: 2011
País de Origem: França
Duração: 100 mins
M/16
Cor e Som














É uma proposta interessante esta de Valérie Donzelli. Um drama a que chamaria de Shakesperiano, não fosse o nome das personagens principais da história um vaticínio de um destino se não horrível, pelo menos muito difícil de enfrentar. Roméo e Juliette conhecem-se numa festa e logo se interessam um pelo outro, prevendo Roméo, depois de se apresentarem mutuamente, que o seu destino em conjunto será trágico. Uma brincadeira com a coincidência dos seus nomes.
Todavia, o seu destino, nada terá ver com o das personagens da tragédia de Shakespeare. Depois de casados Roméo e Juliette têm o seu primeiro filho - Adam -, a quem, depois de alguns exames feitos e algum tempo depois do seu nascimento, será diagnosticado um tumor no cérebro. A notícia é recebida com horror e grande desespero dos pais e familiares, como não poderia deixar de ser. É depois desta hedionda notícia que a vida do casal se torna numa epopeia por corredores de hospitais, levando aquele casal – em virtude da doença do filho – a enfrentar problemas reais da vida adulta, que até ali pareceu ter-lhes passado um pouco ao lado. O sofrimento visto em cena é desesperante e a câmara ágil da directora desempenha um papel importante na transmissão dessa emocionante jornada em busca da cura. O enfoque nos sentimentos do casal e no conflito que se vive entre ambos são realçados, permanecendo e espraiando-se no nosso espírito a dúvida sobre se a criança sobreviverá ou não. E é este um ponto interessante do filme: observa-se com um certo distanciamento a criança, o tumor e os tratamentos, privilegiando-se a vivência e absorção dos acontecimentos pelos pais e bem assim o temor que os invade de poder perder o filho.
La guerre est declarée fez-me de imediato recordar Le temps qui reste, de François Ozon, pelo peculiar modo como mais uma vez se aborda o tema do cancro. A linguagem narrativa é simples e uma história inegavelmente dolorosa é camuflada por contornos coloridos, suaves e de esperança, transformando uma “história de doença” numa história de amor, não obstante todos os percalços vividos, que haverá de encontrar paz naquela inolvidável cena final na praia. Poderia com convicção dizer que La guerre est declarée é acima de tudo uma celebração da vida, estranha e compreensivelmente, povoada por algumas cenas alegres. É, de igual modo, uma lição de perseverança e luta infindável, onde sobressai o estado de espírito com que aqueles pais enfrentam a realidade, ultrapassando sobremaneira a razão compreensível da dor quotidiana. Ambos permanecem fortes, cultivando – como uma forma de escape e bloqueio do sofrimento – hábitos de eternos namorados: correm matinalmente, jogam futebol, vão a festas, brincam como crianças e embebedam-se. É assim que se mascara o drama.
A interpretação dos actores é digna do maior elogio, mais ainda por este ser um filme autobiográfico, espelhando o que na realidade ocorreu com o filho do casal. Indicado para concorrer ao Óscar de melhor filme estrangeiro, é um filme que não apela à lágrima fácil, como poderíamos esperar, é subtil para não ser trágico e é acima de tudo de uma enorme sinceridade para com a vida.



Nota:3/5

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