quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Seishun no Satsujin Sha

Título Original: Seishun no Satsujin Sha
Título em Português: The Youth Killer
Realizado por: Kazuhiko Hasegawa
Actores: Yutaka Mizutani, Mieko Harada, Etsuko Ichihara, Ryohei Uchida, Kazuko Shirakawa, Jun Eto, Kaori Momoi, Takeo Chii
Data: 1976
País de Origem: Japão
Duração: 132 min.
M/16Q
Cor, Som








Youth Killer é um filme que, apesar de não ser marcante (isto porque se insere totalmente no ideário, por vezes, circular da Nouvelle Vague) é brilhante. E é brilhante pois Kazuhiko Hasegawa no seu primeiro filme não só toca e retoca nas filmografias indígenas e marginais de Akio Jissoji, Nagisa Oshima ou Shohei Imamura (este último co-produtor) como também corre (e se cansa!) na prescruta de um novo sentido estético e dramático. Não lhe basta - parece-nos - aquela entomologia que Imamura crismava ao filmar o povo nipónico com um olhar nu e cru e consequentemente, portador de um cientifismo e de um realismo descritivo como queria Taine. Hasegawa, antes, procura as bases de um realismo despido e imaculado, mas agarrado em simultâneo, a jogos teatrais; músicas, memórias e clivagens melancólias profundamente niilistas. Niilismo é, no final de contas, a palavra que melhor descreve a obra curta (apenas dois filmes) mas notável de Kazuhiko. Uma corpo tardio que escapou ao climáx da Nouvelle Vague, mas mesmo na sua substituição exterior eminente (pelo cinema "pinku" e "roman-porno", pela pornografia) se equilibra em (fracas) bases até se reduzir a pó, tal como o mundo no seu último filme: Taiyo o Nusunda Otoko (The Man Who Stole The Sun), de 1979.
Este Seishun no Satsujin, por antítese ao crescente kamikaziano Taiyo o Nusunda Otoko, encontra um decréscimo constante na força dramática. Inicia-se com um estrondo, e vai perdendo intensidade na fumaça. O anti-herói assassina o pai e depois a mãe (e que poderosa cena, essa!), logo no início, e todo o resto é uma demanda carnal pela inexistência de perdão, por entre cenários sem cor, chuvosos e deprimentes, rememorando, sempre que possível, o suicídio como forma última de absolvição. O "milieu" de Taine e o estudo dos insectos (enfim, dos humanos) de Imamura mantêm-se presente: há uma fábrica assombrosa que desprende fumo que se torna em nuvens cinzentas, as imagens dos cadáveres dos pais que nos assaltam de ora em vez, parecem remeter-nos para a alinação (como filmava Antonioni) que provêm de um extremo cuidado cênico nunca renegando aquele certo realismo não-artificial, saltitado nas obras dispersas da Nova Vaga. Ainda mais o "papelão" de Yutaka Mizutani como o jovem parricida que não compreende a razão pela qual matou os seus pais. Nele - e através do mutismo reminiscente dos personagens iniciais de Takeshi Kitano - se centra toda a descrença, todo uma fúria caracterizadora dos verdes anos que se quer, como já se disse, como verosímil.
Para acabar (ou continuar) a aspiração ao Nada deste Youth Killer, parábola pontuada entre hiper-realismo e efabulação, faltava-nos essa pedrada no charco que é The Man Who Stole The Sun - filme que quase finaliza formalmente, pela informalidade, a militância político-cinematográfica dos anos setenta. Mas até lá havia que esperar...

Nota:

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