segunda-feira, 25 de junho de 2007

Kikoku

Título Original: Kikoku
Título em Português: Yakuza Demon
Realizado por: Takashi Miike
Actores: Riki Takeuchi, Hideki Sone, Mickey Curtis, Kenichi Endo, Renji Ishibashi, Tetsuro Tamba, Kouichi Iwaki, Ryôsuke Miki
Data: 2003
País de Origem: Japão
Duração: 100 min.
M/16
Cor, Som








Kikoku, filme yakuza com o cansativo tema da vingança, parece sugerir-nos uma maneira diferente de contar uma história repetida ao extremo. Takashi Miike, na realidade, de 2001 a 2003, iniciou um círculo de quatro filmes (sendo que este Kikoku é o último) onde as histórias são desesperantemente iguais, porém a maneira de as contar é antagonicamente diferente. Nada que se estranhe, vindo de um dos realizadores mais experimentais do momento.
No seu drama contemplativo de quase três horas , Araburu Tamashii-Tachi (traduzido para Agitator) - filme que inicia esta quadrologia Yakuza, feito em 2001 -Takashi Miike pretendia fazer uma epopeia sangrenta ao estilo da aclamada saga Jingi Naki Tatakai (Battles Without Honour and Humanity) de Fukasaku, ou até mesmo de The Godfather, onde as complexas relações entre personagens e a lentidão de um desfecho se correlacionavam numa história sangrenta de vingança. Já no ano a seguir, saía o insano Jitsuroku Andô Noburo Kyôdo-den: Rekka (Deadly Outlaw Rekka), instalação com uma narrativa igual (uma vingança pessoal inicia uma guerra entre gangues) , porém, com uma estética louca, onde bazocas explodem edifícios, cabeças saltam e os yakuzas recebem infinitos tiros e não morrem. Este Deadly Outlaw Rekka, para além de agitar uma audiência acustumada com a banalidade da história, é acompanhada com números Rock and Roll da pesada, violência gratuita e absurda e aquela destruição típica, por exemplo, de Dead or Alive: Hanzaisha. No ano de 2003, saíria ainda, Yurusarezaru Mono (The Man in White), e outra vez: mesma história num universo paralelo (guerras entre yakuzas, onde um homem isolado procura vingança), só que, desta vez, a estética é da reconciliação entre a violência e o reflexo moral.
Então, e depois disto, que significa a saída de Kikoku (Yakuza Demon), filme que a cada plano transpira cansaço, que cada minuto parece uma enternidade e que cada díalogo é tão previsível quanto o desfecho dramático? Tom Mes - estudioso de Miike - acertou no seu julgamento ao dizer que Yakuza Demon representa o abandono final dos filmes de Yakuza por parte do realizador de Koroshiya 1 (Ichi the Killer). O momento em que já se espremeu todo o suco da laranja, que já não basta a estética, é vital a narrativa. Talvez Gozu (saído uns meses antes) fosse o primeiro passo desta percepção. O "irmão" que ama o seu parceiro yakuza e viaja para um mundo imaginário, onírico e surreal, donde ele está representado como uma mulher, de modo a não receber represálias por uma sociedade liderada por homens (como são as dos yakuzas) , foi talvez o primeiro grito de inovação de um género constantemente repetitivo e cansativamente previsível.
A estética de Kikoku é - ao contrário da épica de Agitator, da furiosa de Deadly Outlaw Rekka, e da reflexiva (quase religiosa) de The Man in White - básica e simples. A narrativa resume-se na vingança de um só homem - pois o seu chefe foi preso por não pagar contas - contra todos os mafiosos que o prenderam e que se lhe opõem. Tudo é tão desnecessário quanto previsto. As batalhas são realistas, a violência é simplista e as personagens são exploradas na medida em que o filme permite que elas o sejam. Não há extravagâncias, há, antes disso, um sentido de contenção invulgar num filme de yakuzas e, também, num filme de Miike. O desfecho nem se iniciou e todos já sabemos como acaba esta cruzada auto-destrutiva de um contra todos. Pessimista, enfim, como cabe a um realizador - talvez, muito provavelmente - desiludido com o género.

Nota: 1/5

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