domingo, 4 de novembro de 2007

Gonin

Título Original: Gonin
Título em Português: Gonin
Realizado por: Takashi Ishii
Actores: Koichi Sato, Masahiro Motoki, Jinpachi Nezu, Kippei Shina, Naoto Takenaka, Beat Takeshi, Kazuya Kimura, Shingo Tsurumi, Megumi Yokoyama, Toshiyuki Nagashima
Data: 1995
País de Origem: Japão
Duração: 109 min.
M/16Q
Cor, Som








Gonin é um filme que para trás de si deixou bastantes pontos mal elucidados, ou melhor, pontos que, na promiscuidade irónica do marketing, se permaneceram mal explicados por turbulentas razões que encontram as suas respostas numa única palavra: dinheiro. Ora, foi por dinheiro que chamaram a este Gonin "O Reservoir Dogs Japonês", e foi igualmente por dinheiro que crismaram ser Takashi Ishii o Quentin Tarantino do país do sol nascente. Noutro plano a não ser o da má interpretação Ocidental do Cinema (Japonês) como encontro de paralelos com outros autores, de modo a farejar um público-alvo, na tradição anglo-saxónica de "target", podemos ver neste poster original uma centralização de Takeshi Kitano como figura central do filme. Nada mais falso: Gonin tem um Kitano figurante (e ainda bem que o tem!), não tem rigorosamente nada que ver com Quentin Tarantino e muito menos com Reservoir Dogs, a não ser o facto de lidarmos aqui como ali, com uma espécie de assalto planeado transmutado em caça ao homem.
Agora que apagámos as indulgências e já nos libertámos do fantasma da publicidade, podemos prosseguir com cautela. Todavia, a mesma questão permanece: O que é Gonin afinal de contas? Um filme maneirista de um formalismo abrupto. Película homo-erótica, ultra-violenta no percurso do exagero e estilhaçada ora numa busca pelo humor nos piores lugares e nas piores situações, ora numa languidez muito singular que acaba por transmutar todo o filme numa parábola urbana, num gangster movie dividido em profundidade, entre a clareza do lugar-comum do género (generalizado) , e a sombra da criatividade, lá, onde tudo se nos apresenta selvaticamente, com ganas de se desenraizar na melancolia, no niilismo. São esses últimos momentos que nos comprovam a presença da mão de Takashi Ishii neste Gonin. O enfant terrible do recente bloco pornográfico, arte transgressora Hana To Hebi (Flower and Snake), aqui parece tentar conciliar um discurso comercial com outro na medida e no rigor dos filmes do próprio Beat Takeshi - aqui presente num pequeno mas poderoso papel - , isto é, naqueles jogos de silêncio zen e violência repentina, brutal.
Por essa mesma tentativa de reconciliação (que se nos mostra sempre intransigente, decidida a remeter-nos para o falhanço), Gonin tenta abrir-nos espaço para a tragédia mas quase sempre esta não se pode alargar como era pretendido (salvo algumas excepções isoladas). O assalto frustre a uma sede de yakuzas por parte de cinco homens à beira do colapso (um dono de discoteca, um travesti, um Yakuza louco, um polícia reformado e um empresário falido), rematando para a vingança em forma de carnificina e para o massacre dramático e integral, não é, de forma alguma mostrado com coerência. Ou seja, existem altos e baixos na estrutura trágica de Gonin. Filme que de longe se quer aperfeiçoar, ele é isto mesmo: uma mistura inclassificável e invulgar de situações, umas vezes lineares, outras complexas e embricadas em misteriosas concepções. Algumas patéticas (o amor infundado dos dois protagonistas), outras simplesmente geniais (o segmento final que, de resto, é dos melhores finais num filme de gangsters, e ainda hoje nos atormenta). Para lá dos rótulos, Gonin é original, acima de tudo, abrindo caminho à nova concepção cinéfila de Yakuza que, por exemplo, Takashi Miike, um ano depois, executaria.

Nota: 2/5

3 comentários:

Anónimo disse...

Mestre Kitano é sempre uma boa razão para ver um filme! (mesmo com a publicidade enganoso do cartaz!)
eheh
;)

Miguel P. disse...

Eheh! Evidentemente!

Obrigado pela visita, tf10!

Ads disse...

Caro Miguel Patricio,

Lamento mas discordo da sua analise. O Gonin merecia mais que duas estrelas.

E eu explico porquê.
O Gonin é dos poucos filmes que eu vejo, todos os dias, antes de me deitar.

Está neste momento a pensar "ah e tal, tal facto é evidentemente mentira".
E realmente é. Mas passemos á frente.

O Gonin é também, por sua vez, um dos poucos filmes que cativou, apenas numa determinada zona de Leiria, milhares e milhares de fãs.

Desde crianças a idosos.

E depois dá-lhe apenas 2 estrelas?
Em 5?
Duas?

O mundo está perdido.
E a tal zona de Leiria também...

;)