segunda-feira, 7 de maio de 2007

Wild Life

Título Original: Wild life
Título em Português: Wild life
Realizado por: Shinji Aoyama
Actores: Mickey Curtis, Akiko Izumi, Jun Kunimura, Eiko Nagashima, Yuna Natsuo, Yoichiro Saito, Kosuke Toyohara
Data: 1997
País de Origem: Japão
Duração: 102 min.
M/16
Cor, Som









Há vezes no cinema, em que o experimentalismo supera qualquer erro num filme; já aconteceu, inclusive, uma (ou mais) película(s) que devido ao seu teor experimental tenha(m) apagado qualquer restício técnico que faltava. Antes de criticar este Wild Life, relembro só que é a experimentação que inova e recria o cinema, sem ela, nunca os irmãos Lumiére, no princípio do século, teriam tentado jogar com os truques de luz e com a montagem de modo a criar essa ilusão que é o cinema. Nunca - se não existisse experimentalismo - poderia ter Toshio Matsumoto, por exemplo, feito o seu Bara no Soretsu (Funeral Parade of Roses), em 1969, ou o exímio Stanley Kubrick ter produzido essa maravilha que é 2001: Odisseia no Espaço, ou até mesmo, o seu malévolo Laranja Mecânica. Ora, Wild life é experimental na medida em que valoriza, acima de tudo, a criação de uma intriga inatingível e, à primeira vez, incompreensível. Quando pensamos que a história vai para um caminho, ela logo nos oferece flashbacks despropositados ou momentos ocos na sua relevância. Estamos presente um filme confuso, que quer rir à nossa custa e à custa dos típicos filmes de Yakuza - nos quais Shinji se tinha aventurado um ano antes com a experiência pouco satisfatória que tinha sido Chinpira (Two Punks). Mais uma vez, volto a frisar a necessidade de radicalizar ainda mais o experimentalismo no cinema. Vivemos em tempos nos quais se pensa que já se inventaram todas as fórmulas, todas as maneiras de criar. Isto é, inteiramente falso e duplamente perigoso. Provaram-nos Takashi Miike, Shinya Tsukamoto e continuam a relembrar-nos essa falsidade, o fenómeno David Lynch, o velho mestre Seijun Suzuki entre outros. O artista tem de inovar. Deixou de ser uma escolha e passou a ser um imperativo. Pois é desesperante quando a criação não passa de repetição. E hoje experenciamos mais do que nunca isso. A repetição que é pensada como lucro, e nunca como reflexão, como estética ou como moralidade. É nos mais cómodo ver (ou será rever e rever e rever?) a mesma situação encarnada por outros contextos, do que ser chocado, ser agitado, ser galvanizado por aquilo que não esperávamos. Aoyama pensou nisso e faz em Wild Life um filme de gangsters com idiotas, um filme de acção que mais nos parece uma brincadeira de crianças, uma história de amor que, desde o princípio, se nos apresenta como ridícula e ordinária.
No entanto, Wild Life não chega a ser tão extremista no seu isolamento consigo próprio como um Dead or Alive: Hanzaisha de Takashi Miike - e deste modo, pode deixar um pouco a desejar. Ao contrário deste "homem dos sete-ofícios", Aoyama parece querer apenas nos impressionar com parvoíces (e impressiona-nos bem!) ou fazer-nos saír (o que aconselho vivamente a não fazerem) desesperados por percebermos apenas o essencial. E acreditem que o essencial não basta para perceber as reviravoltas (e será que o são?), a mudança de atitude das personagens ou a moralidade do filme. Isto não quer dizer que, à boa maneira rude e campesinata dos nossos espectadores, o filme seja péssimo ou - pior - não valha nada. Antes pelo contrário, o que peca em Wild Life é não ser ainda mais radical. É contentar-se só com a indefenidade da narrativa, esquecendo outros promenores que poderiam ter sido ainda melhor cerrados - veja-se como Miike conseguiu em Dead or Alive projectar aquele final maldito - sem recorrer ao mimetismo. Tudo o resto no filme é suficiente para o que se quis apresentar: actuações razoáveis, música despropositadamente escolhida para os momentos delirantes, planos demorados e longos como é apanágio de um realizador que se diz, acima de tudo, português noutra encarnação.
Enfim, Wild Life não é para todos - tal como o cinema da Nouvelle Vague também não era. Shinji abandona aqui - no seu terceiro filme - aquela temática obsessiva da enfermidade e da, prepotente cura, para um labiríntico desafio e para uma jornada satírica do mundo dos gangsters . Sem redundâncias, Wild Life é repentino e, por vezes, inovador. Faltando, como já se disse, um maior cuidado com essa inovação. De resto, para a elite amante das novas experiências, que não se contenta com a estagnação evolutiva, aconselho-vos esta película que talvez vos surpreenda.

Nota: 2/5

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