segunda-feira, 9 de abril de 2007

Hatsukoi: Jigoku-Hen

Título Original: Hatsukoi: Jigoku-hen
Título em Português: Nanami: The Inferno of First Love
Realizado por: Susumu Hani
Actores: Akio Takahashi, Kuniko Ishii, Koji Mitsui, Minoru Yuasa, Ichirô Kimura, Haruo Asano, Kazuko Fukuda
Data: 1968
País de Origem: Japão
Duração: 108 min.
M/18
Preto e Branco/Cor, Som









Susumu Hani, explorador inato dos mistérios do crescimento humano, mostra-nos neste filme progressista - enunciador também do movimento cinematográfico da nouvelle vague japonesa - de que forma a passagem de uma infantilidade pura para uma adolescência corrupta e mórbida é penosa. Alargando os horizontes do seu desaparecido primeiro filme, Kyoshitsu no Kodomotachi (Children in the Classroom), de 1954 - película documentária sobre crianças numa sala de aula -, juntando uma vitalidade juvenil de Furyo Shonen (Bad boys) de 1961, Hani, revela-se neste conto sexual, porém, acima de tudo, moral, um dos grandes impulsionadores do novo cinema japonês - aquele que despreza a estética modelar de um Ozu ou de um Mizoguchi, e que se afirma independente, longe da subordinação criativa e temática dos grandes estúdios de cinema, como até aqui se tinha passado.
De facto, este Hatsukoi: Jigoku-hen mostra-nos essa liberdade selvagem numa fusão - característica do cinema de época mundial, feito por Bresson, Pasolini, Godard, Herzog, Truffaut etc. - entre o real e a ficção. Os actores - à semelhança de Furyo Shonen - são rapazes e raparigas normais, encontrados na rua, e numa narrativa complexa, surrealista e absolutamente ambígua o espectador tem a dificuldade prepositada em separar o que é documentário e o que é filme, ou seja, fingimento. Para a geração de Hani - e foi ele que a iniciou no Japão - o que realmente conta é captar a dissimulação do guião e da narrativa da forma mais real e honesta possível. É como que, de alguma maneira, se admitisse um ressurgimento e depois uma impossibilidade plausível do documentário num cinema que se quer intemporal - e, como todos nós sabemos, o documentário diz sempre respeito a uma época, a um tempo, em suma, a um reflexo do real tendo em conta a História - não a do guião, mas sim a ciência.
Quanto à narrativa, escrita pelo futuro autor de filmes magistrais como Sho Suteyo Machi e Deyou (Throw away your books, rally in the streets) de 1971, ou Den-en ni Shisu (Pastoral: To Die in the Country), de 1974, ela trata exactamente o problema da pressão social de dois jovens dilacerados entre uma nostalgia inatingível pueril de infância, e um constante descobrimento do mundo secreto da sexualidade dos adultos. Shun - o anti-herói - apaixona-se por uma modelo chamada Nanami. Os dois adolescentes vão descobrir que precisam um do outro, visto terem os dois uma vida e um passado assombrosamente chocante: Shun é abandonado pela mãe, e é violado pelo pai adoptivo, Nanami posa em sessões de sado-masoquismo lésbico e apaixona-se por um homem casado. Ambos precisam dessa estabilidade que se não for concretizada, leva ao caminho da loucura. Shun, cuja única amizade que tem é uma criança, é acusado de a violar, e Nanami morre de ciúmes por não poder ter o homem casado. No final, o desfecho conclusivo demonstra o quão pode ser trágico o desfecho do primeiro amor.
Demonstrando numa forma abstracta todos esses sentimentos juvenis da tristeza, de um amor-sofrimento próximo da morte, de uma sexualidade por descobrir, portanto ainda por defenir, Inferno of First Love rebusca, nesta versão de Neo-Realismo recheada de simbologia avant-gardista, o significado das questões profundas nunca resolvidas na nossa infantilidade.

Nota:

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