domingo, 2 de setembro de 2007

Izo

Título Original: Izo
Título em Português: Izo
Realizado por: Takashi Miike
Actores: Kazuya Nakayama, Kaori Momoi, Ryhuei Matsuda, Ryôsuke Miki, Beat Takeshi, Kenichi Endo, Mickey Curtis, Yuya Uchida, Ken Ogata, Teah, Susumu Terajima, Renji Ishibashi, Bob Sapp
Data: 2004
País de Orígem: Japão
Duração: 128 min.
M/18
Cor, Som







Izo é uma imensa alegoria política que reflecte aquele velho diálogo que percorre gerações - desde mitos gregos até à filosofia contemporânea de um Sartre - que concerne o homem - o indivíduo - contra o mundo social. Ou seja, saber realmente quando começa a individualização (o que faz parte do Ego, do Eu enquanto homem livre) e quando acaba (se é que acaba), dando lugar à responsabilidade social, político-ideológica. Se nunca acabar essa noção, que numa perspectiva social têm os seus limites, e o Ego subverter a própria essência sociológica, cria-se a anarquia, o sentimento, muitas vezes auto-destrutivo (note-se, como finaliza Izo) por meio do qual se assassina e indefeniza, à luz da relatividade cultural, o domínio e o interesse colectivo
A maneira de Takashi Miike estetizar um tema (um dos temas fundamentais da filosofia europeia) tão vasto (e que dá, assim, realmente, "pano para mangas") é o de liberalizar um discurso narrativo e repeti-lo, de maneira Sisífica, até ao extremo. Isto é, um debate que se apresenta como algo elitista (infelizmente, no nosso tempo, assim o é) é apresentado ao grande público (aquele que encara o filme ou como diversão ou então como choradeira que apela às emoções) munido de uma linguagem deveras circular, confusa e redundante, mas apesar de tudo, sensacional, brutal... comercial. Quem vir Izo num primeiro visionamento desatento dirá certamente que não percebeu nada das duas largas horas que o filme tem àparte das 1000 mortes e da acção estupidificante, comme il faut para conquistar a grande carneirada.
Os senhores engravatados que se encontram na mesa (os ditadores, por e apenas por imagem, democráticos) são justamente os donos do mundo social, os que não podem permitir a anarquia nem restícios dela, ou seja, a vitória da vontade do indivíduo sobre a massa, abrindo uma brecha irreconciliável com o próprio conceito do colectivo. Os políticos são tanto a lei (leigis) como os árbitros do Bem e do Mal, em suma os donos da História (e dái o carácter universal e intemporal da acção), são os que operam a polícia para acabar com as minorias anti-valor que desejam - (não) fazer parte da maioria (esses são sempre bem-vindos), mas continuarem a ser minorias.
Por entre a halucinação (esta categoria que se iria definir melhor em Big Bang Love Jovenile) e a marginalidade do protagonista - que, à semelhança de Édipo, comete relações incestuosas com a sua mãe, pois devido à morte de Deus (ver Dostoievski ou Nietzsche) e, por consequente, a morte das Regras sociais, tudo pode ser permitido, tudo é possível, pois o certo ou errado, o Bem e o Mal, os valores, melhor dizendo, não existem - temos em Izo um filme disperso e complexo, repleto de referênciais e paralelos culturais avançados.
Vale a pena ver, não tão só pelo prazer da carnificina (isto não é nenhum Versus!) e da barbárie absurda mas por toda a simbologia que faz de Izo um filme anormal e atípico, anárquico e nietzscheano, simultaneamente para um grande público (a estética que saltita violentamente da fita e que, por vezes, nem sempre quer arranjar consensos) e para uma elite (a ética indispensável para o cinema enquanto arte).

E que bonitas músicas e poesias!

Nota: 3/5

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