segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Sôseiji

Título Original: Sôseiji
Título em Português: Gemini
Realizado por: Shinya Tsukamoto
Actores: Masahiro Motoki, Ryô, Tadanobu Asano, Renji Ishibashi
Data: 1999
País de Origem: Japão
Duração: 84 min.
M/16
Cor, Som








Shinya Tsukamoto neste Sôseiji não só contradiz toda a tendência cyber-punk que vinha a desenvolver desde os Tetsuos, mas também a própria forma do tratamento do horror ou da depravação do ser pós-moderno. Este filme é o filme para quem não aprecia muito o estilo de azáfama do realizador japonês, que, aqui prefere humanizar e não desumanizar.
Baseado num conto de Edogawa Ranpo - o mestre do inexplicável e do bizarro, algo que foi, no Ocidente, Allan Poe -, Sôseiji trata a divisão da personalidade numa expansão do espiamento da culpa e da traição do amor falhado. Também aponta o dedo para a divisão hierárquica da sociedade: dos dois clones, um vive rico e abastado e outro reside no bairro de lata.
Quanto à narrativa, ela é simples e normal - algo que também este estranho realizador não nos tinha habituado -, sendo que por vezes existem retrocessos na história em forma de flashback, mas estes são perceptiveis e não confusos e anárquicos como os de Tetsuo por exemplo. Conta-se a história de Yukio, um médico rico e despreocupado que será assaltado pelo seu irmão e clone Sutekichi. Inicia-se assim uma diabólica opera encaixada num triângulo amoroso bizarro de Yukio - Rin(a estranha visitante ligada aos dois irmãos) - e Sutekichi.
O espectador sente a dor de Yukio, quando este permanece num fosso durante dias, sabe a verdade chocante das origens do seu amor e passa fome enquanto Sutekichi fica com o seu lugar na sociedade.
Numa outra visão, a trama dos dois irmãos gémeos não é mais do que a luta do índividuo com a sua sombra. A perda de identidade que resulta no lado negativo contra o positivo, sendo que o positivo se torna no negativo e vice-versa. A raiva do povo do bairro de lata por parte de Yukio não é mais do que o ressurgimento a pouco e pouco da sombra que o vai querer matar e ocupar o seu lugar. Mas não se tratam de pessoas diferentes, mas sim da mesma pessoa. Outro aspecto fulcral é a razão porque Sutekichi é enviado para um bairro de lata, pois apenas possuía uma marca na perna. A estupidez e o preconceito humano levado ao extremo resulta na sociedade alienada de Sôseiji. Por outro lado, a mulher, que em Tokyo Fist era o símbolo da hipocrisia e do erotismo de humilhação, aqui é o ser que acredita, mas também é o motivo de luta e conquista por parte dos dois seres brutalizados. O símbolo da fé contra o controlo do burlesco, que é o dos homens. Mas a resistência não é infinita. E ela, também acaba louca, mesmo quando Yukio vence a sua sombra e se entrega aos seus braços. A vontade de se redimir é, finalmente, o último reduto da força humana. E por isso falamos de um desejo de humanizar neste filme, pois, mesmo que as personagens andem circularmente nos campos da violência, poder e sexo, é sempre a consciência a última a ditar a palavra.

Nota: 3/5

1 comentário:

Anónimo disse...

Um Tsukamoto visualmente mais colorido do que é normal com uma estética fantastica e ainda por cima inspirado num conto do sempre bizarro Ranpo fez com que eu ficasse completamente hipnotizado! Dos meus favoritos dele!