quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Drive

Título Original: Drive
Título Português: Risco Duplo
Realizado por: Nicolas Winding Refn
Actores: Ryan Gosling, Bryan Cranston, Carey Mulligan, Ron Perlman, Oscar Isaac, Albert Brooks
Data: 2011
País de Origem: Estados Unidos
Duração: 100 mins
M/16
Cor e Som









Ingrato. É dificil trazer justiça a Drive. Por um lado temos Ryan Gosling com uma interpretação digna de um senhor, e por outro temos um anti-filme que acaba por ser anti anti-filme. Passo a explicar. Nicolas Winding Refn, realizador dinamarquês, tem como intenção ressuscitar com Drive o espírito dos anos 80, com um tipo de letra ofuscante e uma banda sonora pop de enganadora qualidade. Pretende o realizador trazer um filme com uma fórmula antiga em termos de enredo, espaçado e escuro, através dum estilo visual e ignorantemente artístico que enche o olho.
Ryan Gosling é um duplo de filmes de hollywood que trava conhecimento com a sua vizinha, interpretada por Carey Mulligan, acabando por se envolver na sua vida privada. No entanto, secretamente, este condutor trabalha também como motorista de fuga em crimes variados.
O que se passa é que Drive quer com todas as suas forças ser considerado um filme de qualidade, um filme de culto. E isso está tão visível que é impossível ver a totalidade do filme sem pensar que este já está a exagerar. Exagera no estilo visual. Drive usa o já recorrente argumento manipulativo de que a imagem parada é sinónimo de qualidade. Por vezes sucede (O Assassinato de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford), por vezes falha (Babel). Aqui em Drive nem um nem outro.
Temos entre mãos um filme entorpecido e dormente, uma personagem que propositadamente raramente fala, planos fixos durante muito tempo, diálogos com longas pausas que aparentam ser "naturais". Que espectáculo hein, isto sim será qualidade? Depende. O problema de Drive surge quando o enredo não consegue de todo acompanhar o estilo do filme. Temos uma história de amor baixa e pretensiosamente de cariz "familiar" (a vizinha do condutor tem um filho e o pai está na prisão) e uma série de bandidos à mistura envolvidos em grandes conspirações (mas que na realidade não são assim tão grandes porque isso já seria demasiado mainstream). Tudo o que está colocado no filme foi lá colocado com o puro e simples motivo de tornar Drive um filme acima da média, um filme de culto. Tudo é tão premeditado que tudo soa a falso. O mais trágico é ainda o uso de uma ou outra situação de violência extrema ou nudez num filme que em nada pedia isso, mostrando assim, e mais uma vez, que pretende ser um filme para um publico potencialmente "culto" e alternativo. Esquece-se é que o público a quem pretende chegar essa sensação é nada mais nada menos que todo o público: não admira que Drive esteja a ser recebido tão positivamente. Como o poderia não ser? E já referi a banda sonora na linha entre o comercial e o alternativo? A melhor cena do filme acaba por ser a cena inicial, menos de 10 minutos, em que o condutor escapa de forma quase apática, mas de uma sobriedade de realização espantosa, de uma perseguição policial por entre a escuridão nocturna de Los Angeles.
Por outro lado temos Ryan Gosling. Ao passo que a generalidade dos outros actores estarem razoáveis (à excepção de Bryan Cranston, talvez), Ryan Gosling tem aqui uma interpretação imaculada de um anti-herói que, só por si, é carismático e digno de ser recordado. Se estávamos habituados a vê-lo em romances, aqui o actor espreita o óscar para melhor actor principal. Apesar das poucas falas que de facto tem, a postura e todo o carácter envolvido na estrutura psicológica da personagem é de se tirar o chapéu.
A realização do dinamarquês está óptima, só que Drive simplesmente não consegue deixar de ser um filme que pretende ser grande, e isso está escrito ao longo dos 100 minutos.
Não é aborrecido e gostamos de o ver, mas não há forma de escapar à pouquíssima substância que tanto "brilho" traduz. Um filme razoável que conseguiu penetrar no vasto público com um falso selo de qualidade.

Nota: 2/5

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