sábado, 27 de setembro de 2008

U2: Rattle And Hum

Título Original: U2: Rattle And Hum
Título em Português: U2 Rattle And Hum
Realização: Phil Joanou
Elementos da banda U2: Bono (Paul David Hewson), The Edge (David Howell Evans), Adam Clayton, Larry Mullen Jr.
Data: 1988
País de Origem: Estados Unidos da América
Duração: 99 minutos
M/6Q
Preto e Branco/ Cor, Som










"Charles Manson stole this song from The Beatles. We're stealing it back!"


"It was called the Larry Mullen Band' for about ten minutes, then Bono walked in and blew any chance I had of being in charge". Foi a maneira como Larry Mullen Jr. ditou a criação da banda U2 em 1976. A partir de 1980, lançamento do primeiro álbum desta mítica banda intitulada "Boy", que a fama e o sucesso de Bono (vocalista), The Edge (guitarrista), Adam Clayton (baixista) e Larry Mullen Jr. (baterista) não pararam de crescer. É considerada a grande banda pós 60/70 que soube preservar a música ao seu mais alto nível até aos dias de hoje.

Após o terceiro álbum, "War", era perceptível a marca que eles queriam deixar, não só no mundo da música, mas em todo mundo. "Under A Blood Red Sky" capta este momento da banda em Red Rocks, sendo o primeiro concerto gravado ao vivo dos U2. Em 1988, um ano depois do lançamento do quinto álbum, "The Joshua Tree", Phil Joanou captou o momento do auge do grupo musical na década de 80 através de uma longa-metragem filmada, em grande parte, a preto e branco com o toque notável do aparecimento da cor a meio.

"U2 Rattle And Hum" começa com um cover excepcional de Helter Skelter (autores da música John Lennon e Paul McCartney). Salta-nos logo à vista o uso do preto e o branco, algo bastante raro encontrar num filme na altura. O cinema nos anos 80 foi uma década de grande uso da cor, portanto era considerado um artifício extremo a colocação do preto e branco. Quanto ao espectáculo musical, neste filme aquilo que comanda as live performances são mais as câmaras do que as músicas em que mostra outra face das melodias da banda. Por outras palavras, a realização é predominante tentando captar de uma forma diferente, uma forma mais cineasta, o momento do tour do quinto álbum dos U2 que foi localizado nos estados unidos da américa pela ligação que o álbum tinha com o país. Aliás, o título do álbum foi escolhido como tributo do mesmo. A concepção de "The Joshua Tree" justapõe-se com a antipatia sentida em relação aos conflitos que existiam na américa (um dos quais derivado da "Foreign policy of the Reagan admistration") em contraposição com a admiração que os músicos irlandeses tinham com o país pela liberdade que muitos americanos exigiam e defendiam.

Esta longa-metragem recebeu uma recepção menos boa por parte da crítica por parecer que Phil Joanou tentou colocar U2 num pedestal enorme. Outros dizem que é, de facto, uma óptima abordagem ao tour Joshua Tree. A meu ver, nunca tinha visto algo assim. Como referi anteriormente, a marca que o filme pretende é uma realização das músicas e não o contrário, como é visto milhares de vezes em concertos gravados ao vivo. A questão é que não estamos perante um concerto gravado ao vivo, nem um documentário. É algo que vai mais longe. A realização e a montagem resultam de uma direcção artística fenomenal mostrando de forma singular este primeiro grande auge da banda. O uso do preto e branco transmite uma aura mais pesada e melancólica às actuações de cada elemento da banda. "I Still Haven't Found What I'm Looking For" é exemplo disso. Bono e The Edge a actuarem em conjunto com um coro numa igreja em Harlem é uma ligação extremamente especial. A entrega por parte do coro é de uma força enorme que nos mostra uma outra versão da música, uma versão mais "gospel" (uma interpretação mais franca, segundo The Edge). "When Love Comes To Town" é outro excelente exemplo com B. B. King a tocar com a banda. Um momento cómico com o esplendor de B. B. King a mostrar os seus dotes. E isto continua até que chega uma das transições mais belas do mundo do cinema (sim, cinema). Após o delírio de "Bad", resultado de uma performance brilhante e uma montagem sem margem para dúvidas quanto à perfeição que foi exibida, a transição entre esta e "Where The Streets Have No Name" tira-nos o fôlego por completo. Ficamos fixados no ecrã a ver cor a surgir. O início é uma quietude elaborada, não só por parte da banda, mas também pela magnífica realização que presenciamos ao ver e ouvir o desenvolvimento deste single até que explode numa fusão de sons com cores. É como se Phil Joanou quis representar nesta longa-metragem a transição que os filmes preto e branco deram em relação aos filmes a cor e a magia que tal produziram. Não sei se o realizador teve essa intenção, mas foi a minha observação. Ainda mais extraordinário é a utilização de preto e branco no final para não esquecermos da força que estas duas cores têm no cinema, principalmente clássico, combinando expepcionalmente muito bem, por exemplo, com "Sunday Bloody Sunday". Excelente a forma com que se impõe Bono como a voz da banda. A presença de The Edge em palco é uma marca dele e só dele: movimentos muito rápidos com a noção de fluidez a ligá-los. Adam Clayton tem um espírito bastante vivo e Larry Mullen Jr. é claramente o mentor e marioneta da banda sendo respeitado por todos os membros. Tudo isto é mostrado da melhor forma possível graças à fantástica realização de Phil Joanou, embora ele diga que seja "uma visão muito pretensiosa dos U2". Talvez na altura, mas nos dias de hoje, a visão é outra.

"U2 Rattle And Hum" aquando da sua estreia teve as suas razões para ter uma recepção pobre, mas este filme coloca U2, não como uma banda do momento, mas sim como um ícone da música que depois veio a merecer dado o seu seguimento com o salvamento de "One" e os tours brilhantes que vieram a ter sendo um deles o inesquecível Elevation Tour em 2001. Hoje em dia, as pessoas que recordam o auge deste grupo musical na década de 80, recordam através desta "película" de Phil Joanou. Penso que Scorsese tentou alcançar este feito em "Shine A Light", documentário acerca de Rolling Stones, mas não conseguiu por considerá-lo um documentário em que acabou por ser um concerto gravado ao vivo. De facto foi uma performance notável por parte dos elementos da banda, mas previa-se um documentário bastante mais elaborado. Onde Scorsese falhou, Joanou conseguiu vinte anos antes da tentativa do célebre realizador de "Taxi Driver" e conseguiu por não considerá-lo, nem um documentário, nem um concerto gravado ao vivo, mas sim um momento épico e inesquecível da vida musical dos U2.

"It's a musical journey" - Larry Mullen Jr.

Nota: 5/5

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