terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Ohayô

Título Original: Ohayô
Título em Português: Bom-dia
Realizado por: Yasujiro Ozu
Actores: Keiji Sada, Yoshiko Kuga, Chishu Ryu, Haruko Sugimura, Kuniko Miyake
Data:1959
País de Origem: Japão
Duração: 94 min.
M/6Q
Cor, Som









Mal começa Ohayô - o segundo filme a cores do lendário realizador de Tokyo Monogatari - e qualquer espectador atento e interessado se perguntará qual é a magia que nos vai dar Yasujiro Ozu desta vez? Se em quase todos os seus filmes, Ozu trata a temática do conflito de gerações, ou seja do interminável combate entre tradicional e moderno personificando-o quase sempre na figura de uma mulher, em Bom-dia vira-se toda esta dialética para os jovens. Para uma nova geração que nem viveu os tempos da guerra, que ignora o passado. Pode-se dizer que é nesta excelente comédia satírica que Ozu descobre, finalmente, a verdadeira essência da transfiguração de valores na sociedade moderna.
Transformando o espaço narrativo num subúrbio, pretende-se criar um humor de custumes. Na verdade as crianças de Ohayô não são propriamente um motivo de risada, antes pelo contrário, são os adultos que mais nos fazem rir. Veja-se a vizinha cuscuvilheira que não desiste enquanto não arruinar a personalidade da amiga, ou os boatos que correm mais depressa que trovões, ou o companheiro bêbado que entra na casa equivocado, ou o casal desleixado que acolhe os meninos quando estes fogem dos pais, ou a velha avó que reza aos deuses enquanto diz blasfémias à filha e por aí adiante. Mais uma vez o estilo particular de Ozu - isto quer dizer, a sua estética da busca pelo real concreto e as suas inclinações anti-cinemáticas por exemplo na criação de inúmeros tempos-mortos embebidos na banalidade quotidiana dos seus contos - está maturado o suficiente para dizermos que se trata de uma verdadeira crónica das vivências.
Por outro lado - e agora a parte que concerna às crianças - em todo o filme temos a já referida luta dos velhos valores contra os novos, sendo que estes últimos se querem impor a toda a força numa sociedade ainda demasiado conservadora. Os índicios no filme desta nova cultura são tanto a aprendizagem omnipresente do Inglês nos meninos, mas também a exigência destes de uma televisão (o que inclusivamente os leva a zangarem-se com os pais e a fazer uma espécie de greve de fala). Também não é (nem nunca foi) a atitude de Ozu, uma atitude de crítica feroz ou activista no que se relaciona com esta evolução. Aliás, todo o espaço e o tempo nos filmes de Ozu se condenssam numa narrativa tão normal e banal que mesmo a tragédia, a simbologia e os sentimentos são economizados e esmagados pela vida rotineira e repetitiva a que todas as personagens estão sujeitas.
Em último caso, o realizador nipónico queria, como sempre, contar uma história. E mesmo que os meninos acabem por fazer ceder os pais na compra da tal televisão que segundo o pai, "torna as pessoas estúpidas", eles quase que desenvolvem um mecanismo acção-reacção. Depois de terem aquilo que querem, vão correndo pelo bairro cumprimentando todas as pessoas com um caloroso "Bom-dia", algo que antes eles gozavam como sendo "coisas de adultos". A questão mais curiosa é saber se esta educação pelo bem-material é saudável - e quanto a isso cabe a cada um de nós decidir e escolher a resposta, como também é habitual em qualquer outra película de Ozu. E no entanto, no final do filme, os rapazes parecem ser os mais felizes do mundo.

Nota:

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