sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Zhantai

Título Original: Zhantai
Título em Português: Zhan Tai: Plataforma
Realizado por: Jia Zhang-Ke
Actores: Wang Hong Wei, Zhao Tao, Liang Jing Dong, Yang Tian Yi, Wang Bo
Data:2000
País de Origem: China/ Hong Kong/ Japão/ França
Duração: 154 min.
M/12
Cor, Som









Após o ensaio experimental de Xiao Wu (O Carteirista), Jia Zhang-Ke avança para um segundo filme ligeiramente diferente. Se num Xiao Wu, a crítica ao maoísmo estava muito bem mascarada pela dupla noção de criminoso e de culpabilidade, neste Zhantai tudo é mais claro. Até porque, no primeiro filme deste realizador havia um certo anonimato temporal (e até espacial: sabemos que é na China, porém onde exactamente?) da acção. Em Plataforma de 2000, o tempo é bem marcado: 1979/ 1980 - ou seja, China comunista, pós-Mao-Tsetung. Apontando um tempo e uma época particular da China, o filme torna-se num estudo cronológico sem datas nem acontecimentos políticos das transformações humanas e comportamentais de um regime vigente num país (e mundo) em mudança e em rumo dilacerado ora pela modernidade, ora pelo tradicionalismo provinciano rural.
A narrativa centra-se num grupo teatral que viaja pela China representando uma peça em honra a Mao Tsé Tung. O tempo vai passando e as relações entre os membros vão se construíndo (ou destruindo) ao mesmo tempo que serenamente chega a omnipresente vaga Ocidental. Os rapazes começam a usar calças à boca de sino, as raparigas começam a experimentar novos penteados e todos vêem filmes estrangeiros. De repente, através de uma mudança nas políticas comunistas, a companhia teatral acaba por ser privatizada e os membros a pouco e pouco navegam num marasmo emocional, sentimental e individual. Aliás, toda a estética de Zhang-ke reflecte esta economia visual e este desencanto e desprezo pelas formas de filmar. Durante todo o filme não há close-ups ou zooms. A câmara filma de forma pesada, movendo-se, timida e raramente, como os olhos de um espectador. Mesmo no Xiao Wu (e na sua temática semelhante, todavia, menos evidente), escolhia-se um registo pragmático e funcional (mesmo que amador) mas não atípico e claustrofóbico, tal é a dimensão simbólica, exaustiva e sofredora da película.
Na verdade, há quase simultaneamente um paralelo e um distânciamento entre as personagens de Zhantai e toda a população da China. Por um lado, os actores sonham, tentam contornar a vida routineira da pequena cidade, imitando os canônes ocidentais, tentando ser rebeldes sem destino nem ambição. Por outro, no final, os que se sustentavam numa Plataforma para passar ao próximo nível acabam por cair na mesma vida, nos mesmos erros de uma geração inteira apática que não soube ser revolucionária, apoiando-se no comunismo, na colectividade e na figura do grande ditador como se fosse algo intransformável, algo fatalmente pré-definido. Assim, Jia Zhang-ke não quer esquecer as origens do regime que marcou aquela civilização milenar, nem quer, de forma alguma, aceitar a pressão exercida pela globalização e o capitalismo que transforma e modifica radicalmente tudo o que toca, simplesmente ele busca saber, auxiliando-se de uma estética e norma documentarista, no que se transformou a China nesse período de tempo, sendo que o grupo teatral representa um anti-herói colectivo no meio da estagnação e da confusão quanto ao futuro e à vida.

Nota:

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