sábado, 21 de janeiro de 2012

Le Temps qui reste

Título Original: Le Temp qui reste
Título Português: O tempo que resta
Realizado por: François Ozon
Actores: Melvil Poupaud, Jeanne Moreau, Valeria Bruni Tedeschi
Data: 2006
País de Origem: França
Duração: 81 min
M/16
Cor e Som










François Ozon é considerado por muitos como um dos melhores cineastas da sua geração e conta já no currículo com uma vasta filmografia, donde destacaria o filme sobre o qual aqui falamos – Le Temps qui reste. Uma vez mais, e como o fez em Sob a Areia (2000), Ozon volta a focar-se num tema delicado: a dor solitária. Mas se naquele é a protagonista quem é abandonada, neste filme é Romain(Melvil Poupaud) quem abandona. Fotógrafo de moda que parece ter singrado com sucesso na carreira, descobre a uma altura que está com cancro, numa fase terminal. O tempo que resta a Romain são, portanto, três meses, contados a partir do momento em que o médico lhe comunica o estado avançado da sua doença e as muito remotas hipóteses de cura. O protagonista do filme recusa-se a fazer quimioterapia e passa a tratar de forma hostil todos aqueles que lhe são próximos, nomeadamente, a sua família e o seu companheiro. A única pessoa com quem ele parece relacionar-se melhor é a sua avó (Jeanne Moreau), porque, no final de contas e como o próprio Romain, ela também se encaminha para a morte. Isolando-se progressivamente do mundo, ele observa-o e retém-no na sua câmara fotográfica, como se de uma extensão da sua memória se tratasse.
De tudo isto parecerá decorrer que Le Temps qui reste não passa de um grande drama, que leve às lágrimas, a roçar o depressivo, mas engane-se quem assim pensar. François Ozon faz questão de dar à história um tratamento essencial para que mantenha a sua dignidade. E isto traduz-se nas suas atitudes – diríamos pouco clássicas -, em tudo diferentes da generalidade das pessoas que se encontrariam à beira da morte. Romain não vai mundo fora viajar, não procura experimentar sensações novas, não se desespera. Não obstante, Le Temps qui reste tem o condão de nos emocionar de uma forma ímpar e digna. A morte – esse assunto tão tabu – é tratada, tanto pelo protagonista como pelo próprio director do filme, de frente, de igual para igual. O filme tem a capacidade de ser, a um só tempo, cruel e sensível e apresenta um leque de actuações merecedoras do maior elogio, com destaque para o papel de Valeria Bruna Tedeschi, que já havia colaborado com Ozon em O Amor em 5 Tempos, de 2004.
À beleza das actuações vem juntar-se a beleza na construção de cada cena, com particular ênfase para a cena final do filme. Le Temps qui reste é portanto um filme enxuto, descarnado como o próprio corpo de Romain e depurado à essência de uma vida com os dias contados. Tem tudo para agradar aos admiradores de François Ozon, e não só, e bem merece a distinção que o considera a obra-prima do realizador de "Sob a Areia", "8 Mulheres", "Swimming Pool" e "5x2". Aqui, e por uma qualquer inexplicável ironia, o seu habitual olhar distante e clínico, por vezes mordaz, está perfeitamente intacto e é absolutamente essencial ao filme.

Nota:

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