domingo, 6 de maio de 2007

Helpless

Título Original: Helpless
Título em Português: Helpless
Realizado por: Shinji Aoyama
Actores: Tadanobu Asano, Hiroko Isayama, Ken Mitsuishi, Yoichiro Saito, Taro Suwa, Kaori Tsuji, Shinji Aoyama
Data: 1996
País de Origem: Japão
Duração: 80 min.
M/16Q
Cor, Som







Helpless - essa película singular - é o início, para Shinji Aoyama, da obsessão à volta do mundo dos jovens e da sua filosofia. O filme é feito em 1995 - um ano depois da morte de Kurt Cobain, mas já voltamos a este assunto -, porém a acção da narrativa passa-se em 1989 - como, aliás, se lapida bem cedo, quando o filme começa. De acordo com a crítica de Francisco Ferreira sobre Helpless, (à qual subscrevo tudo o que se diz) parece haver três razões fundamentais para a escolha deste ano tão sui-generis: primeiro, o atentado fanático no metro de Tokyo - que simboliza uma decadência geral do ser-humano e do espiritualismo no nosso tempo -, segundo, pela morte do Imperador Hirohito, o deus que se humanizou depois da derrota na segunda-guerra mundial - também demonstrando uma profunda agonia política pela queda de um ídolo e da força colectiva - e em terceiro lugar, como é óbvio, devido ao derrube do murro de Berlim - concumitando assim um Mundo unipolar globalizado com a reconstrução do Ocidente. Deste modo, Helpless é um filme sobre um mundo em mudança a todos os níveis, porém, o que ele quer transparecer não é, propriamente ou só, essa mudança, mas sim aquele espaço vazio de tempo que vai de uma época para a outra, aquela indefinidade emocional de uma geração velha para uma vindoura etc.
Kenji - o personagem principal que avança a todos os segundos de fita com a sua t-shirt "Nevermind" dos Nirvana - é um jovem (citando F. Ferreira) "neo-punk" irreconciliado e inconformado com a sociedade. A sua ambiguidade de carácter - balança muitas vezes entre o bem e o mal, a violência e a monotonia, a legalidade e o crime - é estrondosamente bem caracterizadora de um tempo e de uma certa desconexão e relatividade do mundo e dos valores. À filosofia "grunge" - e são inúmeros os exemplos - junta-se em Helpless a poesia juvenil e empírica de Rimbaud e o niilismo contemporâneo segundo Nietzsche e Heidegger.
Lapida-se bem aqui também um carácter rotineiro do cinema. O filme quer seguir o dia a dia, hora a hora, de Kenji, que visita o pai doente e abandonado num hospital, e é confrontado com um velho companheiro seu, Yasuo, que sai da prisão e quer soldar com ele contas que ficaram por pagar. Kenji, que é enfiado e mentalmente cercado num bar perdido na ruralidade do Japão, acaba - quase em nome do absurdo da vida - por espancar e matar o dono. O rapaz que era um marginalizado desinteressado torna-se num monstro, num ser débil que não resiste ao determinismo da História e se deixa levar pela época, pela filosofia emergente do "nada vale a pena". Yasuo, antes pelo contrário, - representante metafórico da antiga geração - deambula louco à procura de fantasmas - a geração de Kenji, por suposto - que o atormentam, quase se suicida... mas esse suicidio é, ironicamente, um gracejo. No caso do pai de Kenji, é precisamente o suicídio a melhor escolha do final de vida. É neste ping-pong ora, cómico, ora desesperante, que o espectador se vê cercado num filme histórico que acaba propositadamente incompleto. A desintegração do grupo de amigos e o conflito geracional implicito, dá lugar à narrativa aberta, que fica por explicar, enquanto que só nos é dada essa amostra de um dia na vida de um rebelde - rebelde esse que representa o colectivo, a massa - no Mundo selvagem contemporâneo.
Helpless, na verdade, por pouco poderia ter-se apelidado também "Smells like teen spirit" (como propõe F. Ferreira), esse espírito tão desinteressado e desinteressante, esse bafio grunge passageiro, tudo se conjuga neste filme excepcional. Vejam aqui, portanto, um dos filmes mais "anos 90" que existe.


Nota: 3/5

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