domingo, 21 de janeiro de 2007

Kumonosu Jô

Titulo Original: Kumonosu Jô
Título em Português: O Trono de Sangue
Realizado por: Akira Kurosawa
Actores: Toshiro Mifune, Isuzu Yamada, Takashi Shimura, Akira Kubo, Minoru Chiaki
Data: 1957
País de Origem: Japão
Duração: 105 min.
M/12
Preto e Branco, Som









Alguém uma vez disse que as obras de Kurosawa se jogavam, unica e constantemente, em dois campos distintos: falamos, certamente, dos domínios da Epopeia e dos da Elegia. As Elegias, pertencendo à simbologia das dementes sociedades modernas, da constante falta de motivação e burocracia em um "Ikiru" (Viver), nos perigos nucleares de um "Ikimono no Kiroku" (Eu vivo no medo) ou então na salvação humana concomitando com uma poesia de revelação do mundo e da filosofia do sentido da vida num Yume (Sonhos). Quanto à Epopeia - sendo este filme aqui criticado um dos exemplos - serve, em Kurosawa, para a construção de um herói ou vários lutando face aos perigos e aos demónios. O palco de cena desta última é sempre um Japão feudal, datando da época dos samurais - esses guerreiros valentes e espirituosos! - que simbolizam sempre uma força indomável e invencível um pouco à la John Ford - a única influência maior deste magnífico realizador.
Ora, Kumonosu Jô (O Trono de Sangue) é uma obra-prima do último género referido. Mais poderoso e captivante do que os mais celebrados "Shinshin no Samurai" (Os Sete Samurais) ou "Yojinbo" (Guarda-Costas), este filme é o expoente do género e supera qualquer dramazinho de guerra que hoje tanto se faz e tanto se vende. É um filme que nos seduz pelo seu enquadramento de narrativa e pela força que larga cada um dos acontecimentos, e não pelas suas batalhas. Kumonosu Jô, na realidade, é, e só podia ser, baseado na obra dramática - do fabuloso William Shakespeare - Macbeth. Aqui, relembre-se, primeiramente se semeia a colaboração destes dois artistas fenomenais (sendo que em 1960 Kurosawa irá basear-se em Hamlet para fazer "Warui yatsu hodo yoku no nemuru" (Os Maus dormem bem) e em 1985 pegará em Rei Lear para produzir o magnífico épico "Ran" (Senhor da Guerra)).
Buscar uma obra tão complexa como a de Macbeth e transpôla para um Japão feudal foi um trabalho difícil. Porém, nenhuma adversidade paralizou o realizador nipónico, antes pelo contrário, mais do que nunca, presenceamos um Kurosawa que domina tudo, que constrói um cenário e personagens muito bem planeadas e comete a agradável surpresa de abrandar a acção, tornando o filme numa exótica mistura de teatro Kabuki com teatro Shakespeareano.
Toshiro Mifune interpreta Taketori Washizu, um senhor de guerra que irá ser confrontado - juntamente com um amigo - com um fantasma que lhe lê a sina: ser ele o próximo Imperador. Depois deste presságio, Washizu questiona-se sobre a veracidade daquelas palavras tão doces, e levado pela sua gananciosa mulher, Asaji, ele comete o assassínio do chefe, culpando outra pessoa e mascarando assim o seu maldoso feito.
Taketori não é só um despótico sedento de sangue, ele é também um homem controlado pelo poder e pela ambição. Mas se a ambição lhe é tão supérflua, também o medo e a desconfiança o abraçam e o levam a cometer as maiores infámias - como, por exemplo, matar o seu melhor amigo e outros guardas. A sua mulher, representa a cada latejar de díalogo, a má consciência; a que fala pelo nome da tentação e de tudo o que é demais. É ela que o leva a ser dominado pela loucura que a vontade do poder lhe provoca.
Após algumas peripécias - que não valem a pena serem referidas sobre pena de estragar o efeito dramático - o Imperador Taketori Washizu entra em guerra com outros senhores. Perdido e arrasado, louco e transfigurado os seus pecados vêm-lhe exigir um perdão. Assim, fatalmente, o desfecho do filme prevê-se, mas a sua intensidade não. Aquela última cena é uma das mais ferozes e melancólicas que se alguma vez presenceia num filme. A interpretação de Mifune é abismal e os cenários ominosos e encobertos do mistério dão-nos uma moral verdadeira, cruzamento divinal de dois humanistas brilhantes.

Nota: 5/5

1 comentário:

Bijoy disse...

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Warm Regards

Ran Movie Review