sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Ai no Borei

Título Original: Ai no Borei
Título em Português: O Império da Paixão
Realizado por: Nagisa Oshima
Actores: Tatsuya Fuji, Kazuko Yoshiyuki, Takahiro Tamura
Data:1978
País de Origem: Japão/ França
Duração: 104 min.
M/16Q
Cor, Som










Depois da polémica levantada e discutida (ou talvez não) de Ai no Corrida (O Impérios dos Sentidos), Nagisa Oshima preparava-se para lançar mais um filme na tradição do cinema erótico Pinku sob protectorado francês. Foi, justamente, o cinema francês da nouvelle vague que acolheu e financiou estes projectos negligenciados no Japão, donde a existência de uma cultura tradicionalista e - talvez - puritana, não permitiu muitas vezes os intentos de realizadores "avançados" como Wakamatsu, Terayama, Oshima entre tantos outros. Como disse Yoichi Sai numa entrevista sobre Ai no Borei, acerca do cinema da nouvelle vague: "esse tipo de cinema é aquele que pretende impôr novos valores, que arrasem com o cinema anterior a ele." Ora é exactamente isso que o realizador de Ai no Corrida quer no seu cinema: uma arte que quebre com todas as barreiras e todos os valores ou preconceitos. Concordemos ou não com o seu ponto de vista, a verdade é que para um amante de cinema que se preze por esse nome, tanto O Império dos Sentidos como este Império da Paixão são obras fundamentais para entender, nem que seja, uma época do cinema e da mentalidade mundial.
Para surpresa de muitos, Ai no Borei não é um filme como a prequela. Ele não passeia unicamente à volta do acto sexual. Aliás, Oshima quis renegar a sua tendência sensacionalista de filmar explicitamente o sexo, antes disso, preferiu focar-se aqui em dois temas essênciais daquilo que é o amor-paixão neo-romântico: a figura de Eros e de Thanatos. Amor sensual e Morte, sendo que em Ai no Borei escolhe-se agarrar mais na Morte e no conflito de consciência do que no amor físico.
Toyoji tem um caso com uma mulher mais velha e casada, Seki. Ambos, embriagados pela loucura da paixão, decidem matar o marido da amante casada. Aqui começa uma busca incanssável pela estabilidade enquanto que o povo da aldeia onde eles vivem desconfiam das suas intenções. Ela é atormentada pelo fantasma do seu marido. Um espectro que representa a dor do acto criminal e do momento fugaz do assassinío passional dos dois amantes. A pouco e pouco só a loucura toma lugar na relação; a suspeita e a desconfiança são comuns em todo o filme. E para quem esperava um romance erótico amoral e claustrofóbico como Ai no Corrida, encontra em Ai no Borei uma fábula moral com tons policiais de um thriller e com um gosto levemente sensual e violento.
Por sua vez, se Império dos sentidos possuía uma cor de fundo cénica estrondosa, em Império da Paixão são as paisagens rurais do interior nipónico as mais belas e misteriosas. A cena memorável do incêndio da casa de Seki, ou a cena na floresta e do fosso são os melhores exemplos para representar o poder visual deste filme.
Para finalizar, relembre-se a última cena. Menos memorável da do filme precedente, menos visceral mas mais dramática. A cena do espancamento dos dois amantes punidos pela lei de forma bastante violenta é, na verdade, o fechamento de algo que já sabemos desde o princípio. O amor de Seki por Toyoji é tão maníaco e tão doente que só a morte os podia separar. Ou seja, a figura de Thanatos, que, desde sempre, anda de mãos dadas com Eros num círculo infernal de sofrimento e dor.

Nota: 3/5

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