quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Melancholia

Título Original: Melancholia
Título Português: Melancolia
Realizado por: Lars Von Trier
Actores: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourgh, Kiefer Sutherland, Alexander Skarsgard, John Hurt, Charlotte Rampling, Cameron Spurr, Stellan Skarsgard
Data: 2011
País de Origem: Dinamarca/Suécia/França/Alemanha
Duração: 136 mins
M/16Q
Cor e Som








Lars Von Trier, 2 anos depois de Anticristo, volta a trazer-nos um filme catástrofe nauseante e original. Na verdade o realizador dinamarquês só não é totalmente original porque acaba por copiar o estilo que já havia ele próprio apresentado em Anticristo, mas isso não é nenhum defeito, antes pelo contrário, trata-se de uma orgulhosa afirmação.
Para nos localizarmos, em Melancholia Lars propõe o acompanhamento de duas personagens, mais concretamente duas irmãs. Numa primeira parte focamo-nos em Justine, interpretada por Kirsten Dunst, no seu dia de casamento. Na segunda seguimos Claire, transposta por Charlotte Gainsbourgh (mais uma vez, "Ela" em Anticristo), pouco tempo depois. O nome "Melancolia", além da metáfora para todo o sentimento que acompanha Justine ao longo do filme, bem como o próprio espectador, é o nome atribuído ao planeta misterioso que se aproxima da Terra ao longo dos dois episódios da película.
Lars Von Trier traz aqui uma visão muito própria de catástrofe, por um lado o casamento falhado de Justine, por outro o planeta que se aproxima em colisão com a Terra. Esta visão é acompanhada por um estilo artístico único. Veja-se a cena inicial, em câmara lenta, acompanhada por Wagner, Tristan Und Isolde, uma fascinante passagem de imagens, muitas delas com uma simbologia de pesquisa interessante.
Ora este Melancolia é um filme que é simultaneamente grandioso e minimalista. A arte inerente ao planeta que se aproxima, todas as cores e imagens complexas (veja-se a cena em que Kirsten Dunst observa o planeta à beira rio, despida, de noite), atribuem um sentimento de grandiosidade inegável. Um fim fatal para toda a vida que se aproxima com o próprio aproximar da "melancolia". Por outro lado, temos o minimalismo: um cenário apenas, a mansão de Claire e John, onde na primeira parte se realiza o casamento, e na segunda, Claire, Justine, John (Kiefer Sutherland) e o filho de Claire e John esperam, apenas os quatro, a passagem do planeta pela Terra. Não temos acesso a imagens mundias, telejornais, multidões em pânico nas grandes metrópoles. Nada disso. Nenhum desses clichés dos filmes de apocalipse estão presentes, e isso é simplesmente esmagador. O espectador segue o provável fim do Mundo apenas do ponto de vista destas 4 personagens, numa isolada mansão de campo. Quão mais claustrofóbico se poderia tornar?
No entanto não nos podemos esquecer de que "Melancolia" trata primariamente a incómoda depressão de Justine (ainda que essa seja a metáfora que dá gás a todo o filme), e para isso a primeira parte do filme, a do casamento, é um verdadeiro murro no estômago. É aqui que entram fantásticas, apesar de curtas, participações. John Hurt e Charlotte Rampling como os pais das irmãs, Alexander Skarsgard enquanto marido de Justine e Stellan Skarsgard como seu patrão. Todas as personagens são delicada e pormenorizadamente cuidadas, com características firmes e, sobretudo, realistas.
Em termos de prestações, esta é provavelmente a melhor prestação de Kirsten Dunst até à data, tendo ganho o prémio de melhor actriz em Cannes este ano. É complicado ter uma opinião sólida acerca desta actriz. Ora parece uma tonta que faz maus papéis (Spider Man, Elizabethtown), ora aparece como uma actriz de culto em filmes menos comerciais (Virgens Suicidas, Eternal Sunshine of the Spotless Mind). Bem, aqui Kirsten chega de facto a um novo patamar, não fosse Lars Von Trier conhecido por espremer as suas actrizes principais até ao tutano. Quanto a Charlotte Gainsbourgh, Von Trier fez a aposta segura ao trazer a actriz que já tinha feito uma interessante e muito exigente interpretação no seu filme anterior. Kiefer Sutherland está muito bem, como sempre, com um papel à sua medida e que lhe encaixa como uma luva: um homem da ciência bem abastado fascinado pelo aproximar do planeta.
Outra nota e que é um ponto muito, muito alto no filme é a banda sonora. Música clássica, ópera, incomodamente invasiva mas sempre justificada!
Lars Von Trier regressa então às salas com aquele que é talvez o seu melhor produto até à data, num momento pessoal complicado, em que foi considerado "persona non grata" no festival de Cannes por ter feito polémicas declarações nazis e anti-semitas, tendo sido banido do festival. Se essas afirmações o são ou não depende da interpretação, mas pessoalmente diria que artistas que fogem ao comercialismo alimentador de pipoca gostam muito de por vezes provocar e chocar a audiência, e foi decerto isso que aconteceu.
Em suma, é provavelmente um dos melhores filmes do ano e irá certamente valer uma nomeação para óscar para a sua actriz principal, e merecidamente. Vale muito a pena ver dum ponto de vista artístico, embora seja de complicada digestão.

Nota:

Sem comentários: