quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Carnage

Título Original: Carnage
Título Português: O Deus da Carnificina
Realizado por: Roman Polanski
Actores: Jodie Foster, John C. Reilly, Christoph Waltz, Kate Winslet
Data: 2011
País de Origem: França/Alemanha/Polónia/Espanha
Duração: 79 mins
M/12
Cor e Som








Yasmina Reza escreve em 2006 a peça de comédia teatral "Le Dieu Du Carnage", e agora, em 2011, Polanski faz a sua transposição para o cinema. Tive o prazer de assistir à ante-estreia de Carnage numa sala repleta e talvez isso me tenha ajudado até a formar opinião sobre este filme algo único na indústria do cinema. E com cinema não se deve confundir televisão.
Essa é a principal característica desta comédia. Por ter sido adaptada duma peça de teatro, Carnage acaba por adoptar um formato de sitcom, série televisiva, onde toda a acção do filme se passa no mesmo cenário: o apartamento do casal Longstreet.
O argumento do filme parte duma briga entre duas crianças num parque público que resulta em 2 dentes partidos de uma delas. Consequentemente os pais de ambas as crianças decidem encontrar-se uma tarde para resolver esta questão e decidir o que irão fazer, desenvolvendo-se este encontro para proporções inesperadas.
Temos então em cena apenas 4 actores ao longo dos adequados 79 minutos, 4 dos mais maravilhosos actores da actualidade. O dono da casa, o casal Longstreet, interpretado por John C. Reilly e Jodie Foster; e o visitante, o casal Cowan, composto por Christoph Waltz e Kate Winslet. Qualquer destes actores dispensa apresentações. Até o mais recente conhecido do público, Christoph Waltz, já ganhou o estatuto de actor de culto pela sua participação em Inglorious Basterds, de Tarantino, nem que seja no seio da comunidade alternativa/híspter que teima em proliferar.
Em Carnage assistimos a uma evolução, em tempo real, deste encontro entre ambos os casais. A comédia está na forma como é apresentada essa evolução e como a relação inicialmente cordial entre os dois casais se transforma numa guerra de personalidades individuais, espremendo bem espremidos os 4 estereótipos de cidadão urbano das 4 personagens, e cabe analisar a prestação destes 4 actores já que são eles o guião de toda a trama.
Em primeiro lugar deve ser dito que todos estão muito bem e sem qualquer falha, assumindo na perfeição todas as características da personagem respectiva. Jodie Foster é a mulher na, ou quase na, menopausa, que apesar de nunca ter ido a África é uma obcecada pelos valores e causas humanitárias, embora por outro lado seja apreciadora de arte intelectual. Kate Winslet é manager de fortunas, muito preocupada com o seu look, e em resolver tudo a bem. John C. Reilly é o marido de classe média, que vende ferragens porta a porta, que gosta de beber whisky e de fumar um charuto, mantendo os seus valores republicanos e gozando com a obsessão da esposa. Já Christoph Waltz, que talvez tenha o papel mais exigente e daí talvez não, é um advogado de sucesso constantemente ocupado a atender o telemóvel que pouco se importa com aquilo que se está a passar. Claro está que qualquer uma destas personagens bem espremida (e principalmente à base do whisky de John C. Reilly) nos proporciona um bom prato de gargalhadas.
No entanto é preciso fazer justiça, e aí regresso ao início da crítica. Em sala de cinema cheia não pude deixar de notar a forma como sempre que Christoph Waltz surgia com um mínimo destaque no écran a generalidade do público se ria em cenas que nem eram suposto ter piada. Afinal de contas o homem limitou-se a comer um struddle no filme de Tarantino e aqui a comer um cobbler, cenas comparáveis, no entanto isso não é motivo para chorar a rir apenas pelo facto de estar a comer alguma coisa. Já John C. Reilly, na minha opinião a mais cómica prestação de Carnage, não obteve o mesmo sucesso, apesar de estar também constantemente a atender o telefone à sua mãe idosa e de às tantas estar também a ignorar tanto ou mais que Christoph Waltz a questão fulcral que levou ambos os casais ali: a briga entre os filhos, exacerbada ao extremo, mas no bom sentido.
Enfim, tudo isto é uma questão de opinião. Apesar de ser destinado a um público comum citadino, há quem se aborreça com Carnage, há quem o ache a melhor comédia do ano. Se não é a melhor comédia do ano está lá perto (essa talvez seja Crazy, Stupid Love), e de facto é muito original. A sua duração é a ideal para passarmos um bom bocado na companhia de 4 grandes actores e na direcção do único Roman Polanski. Se tivesse que mudar algo, mudava-lhe apenas o título que se mostra infeliz em relação àquilo que é o filme. Vale a pena, sem dúvida.

Nota: 3/5

Outras Notas:
Pedro Silva: