segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Yoidore Tenshi

Título original: Yoidore Tenshi
Título em Português: O Anjo bêbado
Realizado por: Akira Kurosawa
Actores:Takashi Shimura, Toshiro Mifune, Michiyo Kogure
Data:1948
País de Origem:Japão
Duração:94 min.
M/12Q
Preto e Branco, Som










Yoidore Tenshi marca, para Kurosawa, o final, mas também o princípio de outra fase como realizador. Se desde Sugata Sanshiro (A lenda do Judo) de 1943, seu primeiro filme, até Subarashiki nichiyobi (Um domingo maravilhoso) de 1947, se retratava leves aspectos da vida quotidiana ou se faziam aventuras ligeiras com pouco significado, em Yoidore Tenshi perde-se essa, digamos, superficialidade existente. Foi com o aprimorar e o desenvolver tanto das técnicas como na complexidade das narrativas que em 1948 este filme foi possível ser feito.
Introduz, desde logo, uma dupla de actores que iriam resistir até 1965, e pertenciam (e pertencem) à elite de melhores actores do Japão (e do Mundo). São eles, Toshiro Mifune - que se estreia neste filme nas produções Kurosawa, e efectua um papel ao nível de Orson Welles em Citizen Kane - e Takashi Shimura, que levará a cargo o melhor papel da sua vida - o de Kanji Watanabe em Ikiru em 1952.
Reunidas as melhores condições para um filme de luxo, a narrativa é, também ela, um ponte forte, é através de metáforas e imagens que nos deixamos aperceber a forte mensagem do filme.
O Doutor Sanada (Shimura) é um bêbado e um alcoólico, que recebe, num hospital modesto e humilde, o yakuza boémio Matsunaga (Mifune). Sanada vai diagnosticar a Matsunaga uma tubercolose, e a partir deste momento, os dois tornam-se muito próximos; desenvolvendo a relação típica "Mestre" e "Díscipulo" típica de Akira Kurosawa.
Dois doentes que precisam um do outro - esta é uma completa metáfora para o Japão do pós-guerra, que se encontra decadente, destruído e apenas se quer evadir pelos vícios (alcoól para Sanada e festas e mulheres para Matsunaga). Sanada, encarregado de ser Mestre, é ainda a voz da Razão para o yakuza, que prefere o instinto, a festa, a libertação pagã e hedonista na cidade corrupta, suja e ocidentalizada. Assim, Matsunaga entra na fronteira da auto-destruição, querendo fugir dos problemas pelo que oferece prazer imediato, esquecendo a voz do Doutor, também ele, digamos, viciado e contraditório.
A profundidade que Mifune dá ao papel - a sua degenerescência premanente, o seu ar de doente gradual, as expressões que começam a congelar - e os sítios que ele frequenta - bares boémios de jazz, tango e charleston - profundamente influenciados pela maneira americana de viver são os índicios metafóricos de uma crítica social escondida. No filme não vemos, nem soldados americanos, nem qualquer referência a MacArthur ou política; mas observamos as vivências humanas das personagens que - levadas em rebanhos para caminhos sem saída - acabam como o buraco no chão, alagado pela borbulhante nojeira (talvez um índicio de uma bomba ou míssil) ao qual Matsunaga olha perplexo quando se sente triste.
O final do filme, é duro: Sanada, através do seu constante lema de recuperação, - força de vontade - consegue segurar-se e deixar a bebida, quanto ao yakuza, o caminho que escolheu e a fraca personalidade deixaram-no levar pelo vício das mulheres que não amam e das bebidas que queimam o estômago. O seu pesadelo, ao qual ele acorda numa praia dentro de um caixão e é perseguido por ele mesmo, realiza-se mesmo no final do filme quando o lodo americano o suga e engole a flor que lá foi perdida.
Assim, Yoidore Tenshi, alcança o estatuto de um dos melhores filmes de Kurosawa. Apresenta a reacção do pós-guerra de uma forma simbólica e imagética, mas também a atitude japonesa estóica de resignação e paciência. Mas a Razão não perdoa, e diz no filme: "Os japoneses amam sacrificar-se por coisas estúpidas."

Nota:

1 comentário:

Anónimo disse...

este heroi vai longe