quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Shubun

Título Original: Shubun
Título em Português: Escândalo
Realizado por: Akira Kurosawa
Actores:Toshiro Mifune, Takashi Shimura
Data:1950
País de Origem: Japão
Duração: 104 min.
M/6Q
Preto e Branco, Som










Shubun - o último filme de Kurosawa antes de ser galardoado em Veneza com o Leão de Ouro - representa o final período de maturação do realizador. Encerra-se uma segunda linha de filmes, iniciados pelo já comentado Yoidore Tenshi (1948), que demarcam a diferença em termos narrativos e técnicos dos primeiros filmes.
Porém, Shubun distancia-se dos três outros filmes desta época: não tem nem o poder que tinha Yoidore Tenshi (O anjo bêbado) , nem o pathos dramático de Shizukanaru Ketto (Um duelo silencioso) e muito menos o neo-realismo policial de Nora Inu (Cão raivoso). Shubun, renegando todas as tendências exploradas anteriormente, opta pela narrativa mais mundana e banal revestindo-a com um sinal quase-profético de um problema da nossa sociedade moderna : o poder desmesurado dos media. A sua facilidade de deturpar verdades transformando-as em falsidades sensacionalistas comerciais, defendendo-se na liberdade de expressão e resguardando-se num neo-liberalismo de imprensa, no qual tudo pode ser circulado desde que venda.
Toshiro Mifune - actor fetiche de Kurosawa - interpreta um jovem pintor que é envolvido inocentemente num escândalo amoroso com uma cantora. Decidido em repor a verdade, o pintor entra em guerrilhas com os donos da revista - a "Amour" -, e para esse efeito contrata um advogado (Takashi Shimura) e leva o caso para tribunal.
O maior problema de Shubun é o da inconsistência das personagens e, de certo modo, da narrativa. Até mais de metade do filme tenta-se tratar a problemática dos media, e de um momento para o outro, esquece-se tudo isso, e explora-se ao máximo a personagem do advogado e tribunal, negligenciando os papéis dos actores principais.
Digamos que Kurosawa voltou aquilo que lhe é mais chegado: o problema da consciência, do que é bem e mal nas nossas sociedades, da moralidade perdida na gerência do mundo pelos tecnocratas do dinheiro e da mesquenhice da imprensa cor-de-rosa. Porém, no final, o filme afigura-nos como algo selvagem, algo que ainda está por dominar (curiosamente não era esta a visão que se teria ao visionar os três filmes anteriores), e seria dominado plenamente com Rashomon no mesmo ano.
Em suma, Shubun tem momentos inesquecíveis - como a cena do café e da canção de Natal -, mas mesmo assim não é suficiente para sustentar todo um filme. Infelizmente, esta película enquadra-se nas obras menores de Kurosawa. Bom, mas já vimos melhor.

Nota: 2/5

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